11 de setembro: Os “desaparecidos” da ditadura de Pinochet
Algumas organizações de esquerda defendem a ideia de que estamos vivendo sob um Estado de exceção no Brasil hoje. Essa impressão deformada que possuem da realidade é fruto da incapacidade dessas organizações de compreenderam o papel do Estado, da correlação de forças entre as classes e o caráter do Estado brasileiro na atual situação política. O ano de 2017 começou com demonstrações da enorme disposição de luta existente na sociedade, começando pelos blocos “Fora Temer” no carnaval, passando pelo 8 de março, pelas as greves gerais de 15 de março, de 28 de abril e o dia 24 de maio em Brasília. Só não vimos mais demonstrações dessas porque as direções da classe operária tentam segurar suas bases. Mais explosões, greves, ou seja, mais luta de classes é o que se prepara para o próximo período.
Um exemplo do que foi um verdadeiro Estado de exceção pode ser visto em Missing (Desaparecido, 1982), de Costa-Gravas. Essa obra conta a história real do desaparecimento, ocorrido entre 18 e 22 de setembro de 1973, do jornalista americano Charles Edmond Horman Lazar (John Shea), que traduzia artigos dos jornais The New York Times e The Washington Post para um jornal considerado subversivo no Chile. Horman ficou conhecido como o primeiro “desaparecido” da ditadura Pinochet, e sua história foi narrada no livro que inspirou o filme “The Execution of Charles Horman, An American Sacrifice” (1978), de Thomas Hauser.
Ao saber do desaparecimento do filho, Ed Horman (Jack Lemmon), vai ao Chile e junto com a esposa de Charlie, Beth Horman (Sissy Spacek), inicia a busca pelo jovem jornalista. Ed e Beth esbarram na constante falta de informação por parte das autoridades, tanto chilenas quanto americanas, e a busca por informações vai se tornando pouco a pouco numa enorme incerteza sobre o destino de Charlie.
Missing é mais que um filme sobre a jornada de Ed Horman e sua transformação, que num primeiro momento culpa seu filho pelo próprio desaparecimento, mas depois entende que ele foi vítima de um regime criminoso. A obra de Costa-Gravas é um denúncia das consequências do golpe de Pinochet e do envolvimento dos Estados Unidos no processo. Mostra todo o medo e a incerteza gerados pela virulência do golpe militar que torturou e assassinou milhares.
Há uma cena interessante em que Horman discute com a embaixada estadunidense e, ao questionar o seu papel, lhes dizem que a “embaixada se compromete em proteger os interesses americanos”. Horman rebate afirmando que seus interesses não estavam sendo protegidos e o embaixador em seguida esclarece: “Há mais de 3 mil empresas americanas atuando aqui e esses são os interesses dos Estados Unidos”.
Leon Trotsky disse que os jovens devem estudar a história para aprender com seus erros e acertos. O estudo da ditadura chilena e de todas as ditaduras militares na América Latina podem ajudar a esquerda, por exemplo, a entender o que é o Estado de exceção. O Chile nos ensina também a importância de completar uma revolução para que não termine num banho de sangue dirigido pela burguesia raivosa, lição que precisa ser entendida pelos venezuelanos que hoje lutam pelo socialismo. Mas há ainda mais para aprender. O artigo “Lições do Chile 1973”, de Alan Woods, serve para uma melhor compreensão do que foi o antes e o depois do 11 de setembro chileno.
Que as obras apresentadas neste pequeno artigo ajudem a entender um pedacinho da história do Chile, mas que também sirvam de inspiração para buscar aprender sobre toda a história desse país e da humanidade. Aprendamos com o passado, para construir o futuro.