Congresso da UNE: Fraude e conciliação de classe!
Foto: site da UNE
Este artigo foi publicado originalmente na página de juventude do jornal Foice&Martelo, caso você queira ler todo o conteúdo do jornal, clique aqui para assinar.
O 57º Conune acontece sob uma situação política, nacional e internacional, marcada pela instabilidade. A crise do capitalismo atinge em cheio a juventude, que sofre com desemprego, cortes na educação pública e falta de perspectivas. A crise no Brasil ganha uma expressão ainda mais reacionária com o governo Bolsonaro e seu caráter ultraliberal. Os cortes na educação e na ciência vão levar ao fechamento de universidades (UFPR, UFG) e à precarização da permanência para os estudantes no início do próximo semestre, com fechamento RUs, HUs, laboratórios e estrutura em geral (Federal do Sul de Minas, Federal de Natal-RN, Federal de Palmas-TO e Dourados-MS).
A UNE deve convocar uma greve geral por tempo indeterminado para defender a universidade pública, reverter os cortes, ajudar a enterrar a Reforma da Previdência e participar da luta para derrubar o governo Bolsonaro. No entanto, a traição para essas lutas já está dada. E isso fica claro na programação do evento e em como ele foi preparado.
Nesse teatro farsesco, protagonistas antagônicos se aliam para bloquear e sufocar a fúria da juventude. E, como a arte imita a vida, esse teatro imita a realidade quando a entidade convocou atos por todo o país no 30M, com a chamada ‘O Brasil se UNE pela educação’, mas… quem se une? que educação? Nenhuma palavra no sentido de ter independência dos partidos burgueses e em defesa da educação pública, pelo contrário! O mais importante é que isso aconteceu logo após o 15M explodir e espontaneamente a massa reivindicar o Fora Bolsonaro.
Na programação, entre os temas, a defesa da democracia, a campanha Lula Livre. Mas que democracia? Uma democracia que emana da base não pode ser, já que a eleição dos delegados foi como foi. A defesa da democracia tão presente é, na verdade, a defesa do regime capitalista em decadência, defesa do estado democrático de direito e da propriedade privada. Essa política transformou a UNE em uma entidade que sustenta o regime e seus representantes, por isso, nada de Fora Bolsonaro, nada de derrubar esse governo reacionário e podre.
O ato convocado para o dia 12/07,na Esplanada dos Ministérios, que conta com apoio da CUT e outras centrais sindicais é uma outra forma de tirar o pino da panela de pressão. A linha desse ato é a de fazer pressão nos parlamentares, é a linha da via institucional. Essa linha prepara a derrota e a aprovação da Reforma da Previdência, a destruição da nossa aposentadoria.
Os estudantes estão furiosos com as reformas, os cortes na ciência e educação e com o governo Bolsonaro. É preciso organizar a luta em direção a greve geral nas universidades por tempo indeterminado! A direção da UNE já está nos traindo quando, na programação do seu congresso, convoca ‘‘Na sala de aula é que se muda uma nação’’. Esse é um chamado para não realizar uma greve geral, é o chamado para seguirmos a ordem e não lutarmos. Mas essa direção será ultrapassada pelas bases, que vão transbordar, porque universidades serão fechadas, o desemprego só aumenta entre os jovens e não há perspectiva sob esse governo e esse sistema. O que estudantes precisam é de Liberdade, para discutir, para decidir, sem repressão e Luta para defender seu direitos e suas reivindicações.
A 57ª edição do congresso da UNE marca os 40 anos desde a reconstrução da entidade. Naquela ocasião, a UNE foi refundada sob os princípios da luta pela educação pública, gratuita e para todos e da solidariedade internacional com a luta dos trabalhadores do mundo. A política defendida pela direção majoritária da UNE (PCdoB, PT, PDT, Consulta Popular e Levante Popular da Juventude) desde a década de 1990, no entanto, abandonou essas lutas, defendendo a regulamentação do ensino privado e as políticas de transferência de dinheiro público para as universidades privadas e endividamento dos estudantes, via PROUNI e FIES. Essa política não representa o interesse dos estudantes, que querem uma vaga na universidade pública, que querem o fim do vestibular e não querem pagar mensalidade. Mas como é que essa direção permanece na UNE?
É com base em métodos fraudulentos que o Conune foi construído e, por isso, ele se transforma em uma farsa, um teatro onde o palco já está montado.
Exemplos de fraude:
Unesp Bauru-SP: foi proposto chapa única, sem eleição! O que não aconteceu devido a nossa oposição.
UNIOESTE-PR, IFSC, UFSM: C10 divulgaram o processo de forma que as organizações menores ou estudantes independentes não conseguiram sequer inscrever uma chapa.
PUC-SP: A força que levou mais delegados era a que colocou mais aparato (dinheiro e militantes de outros locais). Valeu até cotovelada na urna para pegar voto dos estudantes. Nenhum debate aconteceu.
UDESC, UNISOCIESC – SC: Nas duas universidades, não houve edital e nem a própria eleição de delegados. UJS e Juventude do PDT fraudaram o processo, tirando dois “delegados” sem qualquer conhecimento e participação dos estudantes.
Unesp de Rio Claro-SP: C10 ficou indefinidamente bloqueada pelas duas comissões que se inscreveram (UJS e Juntos!), impossibilitando a inscrição de chapas, os debates e as eleições.