Come quem pode comprar: alimentação não é direito no capitalismo, é mercadoria
A pesquisa feita pelo Instituto Data, junto com a Central Única das Favelas (CUFA) e a Locomotiva Pesquisa e Estratégia nos mostra a decrépita cara amarela da fome no Brasil, como a descreveu Carolina de Jesus. A pesquisa abrangeu todos os Estados da federação, em 76 favelas, entrevistando 2.087 pessoas, feita entre os dias 9 e 11 de fevereiro de 2021.
Os dados são perturbadores: 68% dos moradores de favelas não tiveram dinheiro para comprar comida durante, ao menos, um dia em 2021; 80% destes dependem de doações para se alimentarem e relataram fazer, em média, menos de duas refeições diárias; e 71% das famílias têm menos da metade da renda que possuíam antes de a pandemia catalisar a crise econômica.
Além dos dados acima, sabemos que a maior parte dos trabalhadores moradores de favela são negros e muitas famílias são chefiadas por mulheres, que, em momentos de crise como esta, são as primeiras a perderem o emprego. Já sendo em sua maioria trabalhadores informais, eles não têm renda garantida e precisam se expor ao vírus para conseguirem levar comida para dentro de casa, se conseguirem… O Auxílio Emergencial, com seu valor irrisório e seu atraso, tiveram um impacto que não pode ser desconsiderado: ele resultou em aumento da fome. Também não podemos esquecer das humilhações a que os trabalhadores foram submetidos para receber o auxílio, enfrentando enormes filas sob sol, chuva, vento, frio; enquanto o socorro ao Capital ia a galope.
Outros dados alarmantes que a pesquisa trouxe são que 8 em cada 10 dependem, exclusivamente, de doações para se alimentarem; 9 em cada 10 receberam doações de alimentos durante a pandemia; 15 milhões não fazem três refeições diárias. Esses números não são dados frios e abstratos, são pessoas que padecem de insegurança alimentar, gente que está passando fome.
Os dados de 2020 que o IBGE trouxe são os seguintes: 39 milhões de pessoas vivendo na miséria, 14 milhões na extrema pobreza, 14 milhões de desempregados (3), sem contar os desalentados. Isso é o que o sistema capitalista tem a oferecer para a classe trabalhadora: a fome.
O alimento, como tudo no capitalismo, é mercadoria, em que têm acesso quem pode pagar. Nem o mínimo necessário à sobrevivência daqueles que o Capital explora ele dá. Este sistema não tem o direito de existir e deve surgir outro, em que a satisfação das necessidades humanas seja a diretiva e não a busca pelo lucro, mesmo que em detrimento de vidas.
O governo Bolsonaro serve ao sistema capitalista. Em meio ao caos alimentar que se desenvolvia no Brasil, Bolsonaro dizia o seguinte na ONU:
“No Brasil, apesar da crise mundial, a produção rural não parou. O homem do campo trabalhou como nunca, produziu, como sempre, alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas. O Brasil contribuiu para que o mundo continuasse alimentado. (…) Garantimos a segurança alimentar a um sexto da população mundial (…).”
Ao dialogar com o agronegócio, Bolsonaro mostra a contradição de um país que é um grande produtor de alimentos e que mantém seu povo sofrendo com a insegurança alimentar, o que pode colocar o Brasil de volta ao mapa mundial da fome. A questão é que a produção está voltada para monocultura e para exportação.
As perspectivas não são positivas; mesmo quando a pandemia acabar, a crise econômica continuará, pois, esta crise é do capitalismo e não foi causada pelo vírus. Os Estados estão se endividando e a burguesia não vai querer pagar a conta da crise. Porém, nós, a classe trabalhadora, não temos que pagar uma dívida que não é nossa. Para sermos vitoriosos, devemos estar organizados. Sozinhos, pouco ou nada podemos fazer. Por isso, te convidamos a conhecer e fazer parte da Esquerda Marxista. Organize-se!
- Abaixo o governo Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!