Marxismo e Anarquismo – Parte II
O movimento está ainda no do começo do começo. E no começo é naturalmente uma grande confusão, vacilações, e indecisão. O movimento Ocupar, no entanto contém muitos elementos contraditórios dentro de si. No Movimento Ocupe, nos EUA, há aqueles que desejam abolir o capitalismo e outros que apenas querem reformá-lo com coisas do tipo ajustar o sistema fiscal e regulação dos bancos. <>
O movimento está ainda no do começo do começo. E no começo é naturalmente uma grande confusão, vacilações, e indecisão. O movimento Ocupar, no entanto contém muitos elementos contraditórios dentro de si. No Movimento Ocupe, nos EUA, há aqueles que desejam abolir o capitalismo e outros que apenas querem reformá-lo com coisas do tipo ajustar o sistema fiscal e regulação dos bancos.
A necessidade da teoria
Por outro lado, os governantes da sociedade são implacáveis e determinados. Eles podem apenas confiar nas décadas de experiência em lidar com protestos e movimentos de oposição. Eles combinam as distorções da mídia e violência policial cada vez mais militarizada com métodos mais sutis: suborno, chantagem, enganos e provocadores da polícia. O estado tem à sua disposição o serviço do exército, de burocratas endurecidos, políticos cínicos, espertos advogados, jornalistas mentirosos, acadêmicos instruídos, e astuciosos sacerdotes: todos unidos para defender o status quo em que todos eles têm interesse.
Os marxistas apoiam do fundo do coração o movimento Ocupar e a busca coletiva por uma solução à crise do capitalismo. Isto representa um novo despertar social e reflete no renovado interesse em idéias e teorias. Ainda, há alguns que ridicularizam até a noção da teoria. “Nós não precisamos de teorias políticas ultrapassadas!” eles dizem. “Estamos comprometidos em uma grande experiência e vamos improvisar e evoluir nossas idéias à medida que avançamos”. Estas palavras, superficialmente atraentes, escondem uma profunda contradição.
Na vida real, nenhuma pessoa séria adotaria tal atitude em seus afazeres diários. Apenas imagine indo ao dentista com dor de dente, e o dentista diz: “Na verdade, eu nunca estudei odontologia, mas abra a sua boca de qualquer maneira eu vou tentar”. Você correria pra fora dali! Ou um encanador bate à sua porta e diz: “Eu não sei nada sobre encanamentos, mas deixe-me por as mãos no seu sistema de esgôto”. Você o jogaria para fora de sua casa.
Mas enquanto insistimos (com razão!) em uma atitude séria e profissional para tudo em nossa vida diária, quando se trata de luta revolucionária contra o capitalismo, nos pedem para abandonar todas as nossas faculdades críticas. De repente, vale tudo. Uma idéia é tão boa quanto qualquer outra idéia, não importa o quão irrelevante ou louca ela seja. Tudo é reduzido a uma assembleia permanente de um miolo endurecido de ativistas, que é reduzida ao nível de uma impotente oficina de oratória.
Uma coisa dessas não representa ameaça ao sistema capitalista. Não é mais do que uma pequena inconveniência. Já foi seriamente sugerido que os banqueiros e capitalistas, ao invés de dispersar violentamente os manifestantes, procurem se enturmar e participar nos debates, estabelecendo assim um diálogo amigável com os dissidentes jovens, e mostrar a eles que os exploradores não são tão ruins afinal.
Desta maneira o movimento perderia seu caráter revolucionário. Seria gradualmente integrado no sistema que deveria enfrentar. O orador mais militante das manifestações pode ser levado para um lado e seduzido com elogios, emprego, e carreira: “Que jovem inteligente! Porque, você quase me convenceu! Você sabe, precisamos de jovens capazes como você nos negócios…” Já vimos isso acontecer muitas vezes.
A fim de evitar estas armadilhas, um entendimento da teoria e lições do passado é uma precondição essencial para o sucesso. Enquanto a maioria das pessoas terá que passar por um processo doloroso de aprendizagem por tentativa e erro, os marxistas baseiam-se nas lições do passado. Podemos dizer o que funcionou e o que não funcionou e aplicar este conhecimento na presente situação. Ainda cometeremos alguns erros, e não é tão simples como buscar a resposta em um livro de receita revolucionário, mas nós realmente não precisamos reinventar a roda; já foi inventada há muito tempo atrás!
Reformismo ou revolução?
No passado, os reformistas na verdade eram capazes de negociar algumas migalhas extras para os trabalhadores da mesa dos capitalistas. No entanto, a crise do capitalismo significa necessariamente a crise do reformismo. O caminho a seguir demanda uma séria luta contra o reformismo, uma luta para regenerar as organizações de massa da classe operária, começando com os sindicatos. Eles devem ser transformados em organizações de luta da classe operária.
Os marxistas não se opõem às reformas. Pelo contrário, vamos lutar obstinadamente por cada e toda reforma que possa melhorar a vida da maioria. Mas sob as condições atuais, nenhuma reforma significativa pode ser ganha sem uma luta completa. Os dias que os trabalhadores poderiam ganhar sérios aumentos de salário apenas ameaçando tomar ações de greve já passaram há muito tempo. Os patrões dizem que não podem pagar mesmo para manter o atual nível de salários, quanto menos dar concessões adicionais. Os dias que os lideres dos sindicatos de direita poderiam chegar a um acordo acolhedor com os patrões e o Estado ficaram na história.
Ao criticar a atual política dos líderes do trabalho, é necessário avançar, com melhores políticas. Mas os movimentos de protestos ainda não apresentaram uma alternativa clara ao reformismo. Tentativas de limitar a especulação impondo impostos sobre transações financeiras não é uma alternativa ao sistema capitalista, apenas uma tentativa hesitante de reformar um sistema que não pode ser reformado. Isto é meramente outro tipo de reformismo. É significante que até mesmo alguns políticos capitalistas apoiam tais impostos. Isto é suficiente para mostrar que tal medida não apresenta ameaça alguma ao capitalismo. Não resolverá precisamente nada em longo prazo.
Aqueles que sonham em resolver a crise através de reformas estão vivendo no passado, uma fase do capitalismo que deixou de existir. São eles, não os marxistas, que são Utópicos! O que nós precisamos é uma militância puro sangue e um renascimento da luta de classes. Mas em última análise, militância não e suficiente. Sob condições de crise do capitalismo, mesmo os ganho da classe trabalhadora não pode durar muito.
O que os patrões concedem com a mão esquerda, eles vão tirar com a direita, e vice-versa. Aumentos de salários são cancelados pela inflação e aumento de impostos. Fábricas são fechadas e o desemprego cresce. A única maneira de garantir que estas reformas não sejam revertidas é lutando por uma mudança radical da sociedade. Além do mais, mesmo a luta por reformas só pode ter sucesso na medida em que adquire um âmbito selvagem e revolucionário. Toda a história mostra que a classe governante fará apenas sérias concessões quando temer que possa perder tudo.
Não é suficiente simplesmente dizer “não”. Devemos oferecer uma alternativa. Assim como precisamos de uma alternativa viável para o capitalismo, então precisamos uma alternativa viável para a velha liderança reformista. Devemos lutar contra a liderança burocrática de direita das organizações do trabalho. Devemos lutar para quebrar com os Democratas e Republicanos e formar um partido dos trabalhadores baseado nos sindicatos. Mas para isso, é absolutamente necessário organizar, educar, e treinar quadros revolucionários que cheguem a conclusões corretas de toda a história da luta de classes nacionalmente e internacionalmente.
A teoria e prática do anarquismo
É verdade que nas fileiras do anarquismo há muitos lutadores corajosos. Isso foi especialmente verdadeiro na Espanha entre 1920 e 1930. Mas, de conjunto, a história do anarquismo nos últimos cem anos mostra claramente que é um beco sem saída. O fato mais marcante é o contraste gritante entre teoria e prática. Trotsky disse que as teorias do anarquismo são como um guarda-chuva cheio de buracos: inútil precisamente quando chove. Isso pode ser demonstrado uma vez ou outra.
Como teoria, o anarquismo é confuso e superficial. As idéias de Bakunin eram paralelepípedos juntados e plagiados dos socialistas utópicos do século 19, particularmente Proudhon. Além do mais, eles eram imediatamente contraditos pela prática de Bakunin. Enquanto pregava a “liberdade”, dentro de sua organização introduzia um centralismo implacável. Bakunin (ou “Cidadão B” como era conhecido) exercia uma ditadura pessoal tirânica em sua organização. Em sua polêmica contra Marx, ele não hesitava ao usar vis métodos, incluindo antissemitismo. Isso é aprofundado no artigo de Marx X Bakunin, incluso neste volume.
Muito mais interessantes são os escritos de Peter Kropotkin, um homem de idéias que escreveu uma das melhores histórias da Revolução Francesa, que foi muito admirada por Trotsky. No entanto, deve-se salientar que Kropotkin esqueceu tudo sobre seus ideais anarquistas em 1914, quando apoiou os aliados na Primeira Guerra Mundial. Ele não foi o único.
Na França, antes da Primeira Guerra Mundial, os anarco-sindicalistas conseguiram dominar a principal confederação do sindicato. Seu slogan principal era pela greve geral, que eles consideravam como uma panaceia. Isso foi um erro. Embora a greve geral seja uma das armas mais poderosas no arsenal da luta de classes, não pode resolver a questão central: a questão do poder do estado.
Uma greve geral completa – oposta a greve geral de um dia, a qual põe na ordem do dia apenas uma manifestação – coloca a questão do poder. Levanta a questão: quem conduz a sociedade: eles ou nós? No entanto, logicamente isso deve levar à hipótese de poder pela classe trabalhadora, do contrário acabará em derrota. Se a classe trabalhadora não tomar o poder do estado, então todo o aparato coercitivo do exército, polícia, cortes, leis, etc. permanecerão nas mãos dos capitalismos. Isto é algo que os anarquistas nunca entenderam, desde que para a maioria deles, a questão do poder do estado é irrelevante ou pode simplesmente ser abolido de um dia para o outro. Os anarquistas pode bem “ignorar” o estado, mas o estado certamente não ignora a luta dos trabalhadores para mudar a sociedade!
Infelizmente, a questão do estado, de quem governa a sociedade, não pode facilmente ser eliminada. Não pode ser ignorada. Vamos colocar a questão concretamente. Se os trabalhadores todos vão à greve, o que acontecerá? Todas as indústrias, transporte, e comunicações chegarão a um impasse. As fábricas, lojas, e banco vão ser fechados. E então o que? Os capitalistas podem esperar. Eles não correm perigo de morrer de fome. Mas a classe trabalhadora não pode esperar indefinidamente. Eles podem estar famintos e voltar ao trabalho. E se a espera do movimento não é suficiente, o estado tem muitas reservas de repressão que podem ser convocadas para completar o trabalho. Isso já aconteceu mais de uma vez na história. Está acontecendo agora com o movimento Ocupar.
Em outras palavras, se não está ligado à perspectiva da classe trabalhadora tomar o poder, a questão da greve geral é mera demagogia vazia.
Então como é que a questão com os anarco-sindicalistas na França se tornou prática? Em 1914, assim que a França entrou para a Primeira Guerra Mundial, os líderes anarco-sindicalistas dos sindicatos imediatamente largaram suas belas palavras sobre a greve geral e entraram em coalisão com o governo com os partidos burgueses, a Sagrada União (L’Unin Sacrée), onde procuravam furar as greves para ajudar a Guerra.
Este contraste entre teoria e prática, entre palavras e ações, era absolutamente típico da história do anarquismo desde seu início. Tem sua consequência mais trágica na Espanha no período revolucionário de 1930.
Anarquismo na Espanha
Na Espanha, os anarquistas tinham atrás deles as flores da classe trabalhadora. Em suas fileiras havia muitos lutadores de classe corajosos e dedicados. O sindicato anarquista, o CNT, era de longe a maior organização dos trabalhadores na Espanha. Os trabalhadores anarquistas eram destacados por sua coragem e militância. E ainda assim a Revolução Espanhola de 1931-37 demonstrou a completa falência do anarquismo como guia para os trabalhadores no caminho para uma sociedade socialista.
No verão de 1936, quando Franco declarou um levante militar fascista contra a República, os trabalhadores de Barcelona, a maioria organizado no CNT, invadiram o quartel general. Armados apenas com armas improvisadas, eles massacraram os fascistas antes deles poderem se juntar ao golpe de Franco. Pela sua corajosa ação, eles evitaram a vitória dos fascistas em 1936.
Como resultado desta insurreição, os trabalhadores anarquistas tinham completo controle de Barcelona. Eles elegeram comitês de trabalhadores para dirigir as fábricas sob controle dos trabalhadores e estabelecer milícias operárias. O velho estado burguês deixou de existir. O único poder era a classe trabalhadora.
Seria muito fácil eleger delegados das fábricas e milícias para o comitê central, que teria proclamado um governo operário na Catalunha chamando os trabalhadores e camponeses do resto da Espanha a seguir seu exemplo.
Mas a liderança dos anarquistas não fez isso; eles se recusaram a formar um governo operário na Catalunha quando tiveram a chance. Mesmo quando Lluis Companys, o Presidente do velho governo burguês da Catalunha (the Generalitat), convidou-os a tomar o poder, mas eles se recusaram a fazê-lo. Isso foi fatal para a revolução. Gradualmente, a burguesia e os estalinistas reconstruíram o velho poder do Estado na Catalunha, e o usaram para desarmar as milícias populares e esmagar os elementos de poder dos trabalhadores.
Então o que os líderes dos anarquistas fizeram? As mesmas senhoras e senhores que antes haviam recusado formar um governo operário, depois se juntaram ao governo da burguesia e ajudaram a naufragar a revolução. Eles eram na verdade ministros anarquistas no governo nacional burguês em Valencia e no governo regional de Catalunha. Na prática, a liderança do CNT serviu como uma “linha vermelha” para o governo da burguesia. Estas ações contribuíram poderosamente para a derrota da Revolução Espanhola, e o povo da Espanha pagou o preço com quatro décadas de barbarismo fascista.
Isso não era resultado de “poucas maçãs podres” na liderança anarquista, mas flui direto da fraqueza inerente da teoria e prática anarquista. Sem uma bússola teórica firme para guiar-te através da tempestade e no estresse da revolução, decisões são improvisadas no voo. “Pragmatismo” e demagogia vazia são as regras do dia. E sem uma estrutura organizacional forte, centralizada, democrática e responsável, os líderes não estão sob controle dos membros e a organização não pode agir como se estivesse unida, e assim, mais poderosa.
Havia uma notável exceção à regra, e este era José Buenaventura Durruti, um guerreiro revolucionário extraordinário que organizou um exército baseado na milícia dos trabalhadores. Este exército entrou em Aragon e travou uma guerra revolucionária contra os fascistas, tornando cada vila em um bastião da revolução. Mas Durruti poderia apenas alcançar estas coisas à medida que ele rompia com os velhos dogmas anarquistas e na prática caminhava mais próximo ao marxismo revolucionário – o Bolchevismo.
Embora as fileiras dos trabalhadores anarquistas eram sem dúvida sinceras e corajosas, o balaço final de toda a experiência histórica do anarquismo foi completamente negativo. Isso explica o porquê hoje, o anarquismo foi quase totalmente erradicado como tendência do movimento operário, e sobrevive somente à margem do movimento estudantil e de protestos, onde serve apenas para semear confusão, como veremos.
Anarquismo no movimento anticapitalista
Que efeito a teoria e prática do anarquismo têm no movimento anticapitalista?
O primeiro problema é a recusa de aceitar a decisão da maioria. Uma proposição elementar da democracia é que a minoria deve aceitar a decisão da maioria. Os anarquistas se objetam a isso, pois, para eles, isso representa a “tirania” da maioria sobre a minoria.
Infelizmente, desde que é raramente possível em qualquer coletivo alcançar 100% de satisfação para todos, alguém é obrigado a ficar descontente se seu ponto de vista particular não é aceito pela maioria. Mas qual é a alternativa? A única alternativa é a política do consenso. O que isso significa na prática?
Se houver, digamos cem pessoas em uma assembleia, e 99 votar a favor de uma proposição, e apenas uma pessoa votar contra, o que deveria acontecer? De acordo com os princípios democráticos, a visão dos 99 seria a ordem do dia e o único indivíduo dissidente aceita a decisão. Não é exigido dele ou dela para mudar de opinião, e pode reservar o direito de continuar discutindo seu caso e tentar ganhar fazer com que a maioria mude de opinião. Mas enquanto isso, a decisão da maioria permanece.
Além de fazer mais sentido no ponto de vista estritamente democrático, este procedimento tem a vantagem de nos permitir proceder a unidade para a ação. Isso está na base da questão de classe. O procedimento democrático é bem conhecido para os trabalhadores e sindicalistas. Pode ser visto em cada greve. A disciplina que é imposta aos trabalhadores através do sistema capitalista – através da divisão do trabalho e classificação da produção – é a mesma disciplina que os trabalhadores usam contra seus patrões através de organização em sindicatos e partidos políticos do trabalho.
Ao contrário dos trabalhadores, a classe média é cheia de métodos individualistas e tem uma mentalidade individualista. Uma assembleia de estudantes pode debater por horas, dias e semanas sem nunca chegar a uma conclusão. Eles têm muito tempo e estão acostumados a este tipo de coisa. Mas um encontro de massa de fábrica é uma coisa completamente diferente. No final do dia, a questão deve ser decidida. É colocada em votação e a maioria decide.
Isto é claro e óbvio para qualquer trabalhador. E em nove entre dez vezes, a minoria voluntariamente aceita a decisão da maioria. Uma vez que a decisão de entrar em greve é tomada, todos os trabalhadores aderem. Na maioria dos casos, mesmo aqueles que discutem contra a greve apoiam e até tem um papel ativo nos piquetes.
E o método anarquista de consenso? Significa, na prática, que mesmo se uma pessoa não concorda, nenhuma decisão pode ser feita. Isso significa a tirania da minoria sobre a maioria, cujos direitos estão sendo negados. Isso pode significar a ditadura de um único indivíduo – o oposto da democracia em qualquer ponto de vista. Isso não tem absolutamente nada a ver com democracia ou socialismo, mas é uma clara expressão do individualismo pequeno burguês e egoísmo.
Para ver onde isso pode levar, vamos retornar ao exemplo da greve. Há sempre alguns poucos indivíduos que tentarão ir ao trabalho embora seus colegas de trabalho tenham decidido abandonar as ferramentas. Eles reclamam que seus direitos individuais foram violados pela “tirania da maioria”. É a mesma lógica atrás da chamada legislação do “direito de trabalhar”. Estas pessoas são sempre apresentadas pela mídia burguesa como “lutadores pela liberdade e direitos individuais”. Os trabalhadores, no entanto, tem outro nome para estes grandes individualistas: eles são chamados de traidores de classe e pelegos.
Aqui, em poucas palavras, temos a diferença entre o ponto de vista proletário-revolucionário, baseado no desejo coletivo dos trabalhadores, e o ponto de vista do individualismo pequeno burguês.
Uma receita para a impotência
A recente experiência do movimento de protesto fornece muitos exemplos do papel negativo do método anarquista. Para ajudar a ilustrar concretamente, peguei exemplos aleatórios de comentários escritos por participantes no movimento Ocupar, todos os quais encontrei no website Reddit.
Um participante escreveu:
“Então eu fui ao nosso encontro local do Ocupar Wall Street chamado ‘Ocupar Vitória’. Lá eu descobri que anarquistas não conseguem organizar a saída de uma caixa mesmo se suas vidas dependessem disso”.
Outra pessoa disse:
“Apesar de estar sendo liderado por um comitê autonomeado, o grupo local Ocupar Wall Street funciona no que eles se referem como ‘tomada de decisões por consenso, onde se uma única pessoa discordar, então ela pode atrapalhar toda a conversa e o debate continua até todo mundo concordar”.
Em outras palavras: A ditadura do mínimo denominador comum.
“Levou uma hora e meia para que todos fossem informados do que estávamos pensando em fazer neste sábado. Até sermos por acaso e acidentalmente informados o que estava acontecendo, esperamos um desfile interminável de aveludados discursos ultraesquerdistas, ‘momentos de silêncio para refletir sobre nossos sentimentos’, debatendo sobre se deveríamos ou não permitir fotografias, discutindo sobre o papel da polícia, se deveríamos ou não endossar oficialmente uma declaração em solidariedade aos povos árabes, etc… foi um fiasco completo e perda de tempo. Nas 2 horas que estivemos lá, essencialmente nada foi feito exceto que distribuímos alguns cartazes para as pessoas pendurarem”.
“A única decisão conclusiva que chegamos foi de que continuaríamos a discussão no site”.
Este é um exemplo típico de como “política do consenso” serve para paralisar o movimento de protesto, para reduzi-lo a uma mera oficina de discursos e impedi-lo a dar um único passo adiante. Só porque um pequeno grupo de pessoas não está satisfeito, o encontro é condenado a girar em círculos: “Devemos discutir mais! Devemos discutir mais!” E como resultado, na verdade, nunca faz nada. É como um homem que tenta matar a sede bebendo água salgada.
Outra pessoa fez essa observação:
“Um problema com o consenso é que opiniões divergentes na verdade são encobertas. Porque todos tem que concordar, ou ao menos fingir concordar, opiniões divergentes não podem continuar a ser expressas claramente, por medo de ‘magoar’ o consenso. Isso acaba se tornando uma guerra de atrito – quem deseja segurar sua posição por mais tempo – e necessariamente afasta muitas pessoas, pois a maioria das pessoas não tem tempo ou inclinação para aturar esse tipo de processo.”
Na prática, o consenso acaba sendo uma ditadura da minoria – às vezes uma minoria de um – sobre a maioria. É completamente antidemocrático e segura a organização e o desenvolvimento político.
Isso permite poucas pessoas descarrilhar o processo. Todas as vozes podem ser ouvidas sob a democracia, mas que uma pequena minoria discorde isso não pode ser argumento para que nenhuma decisão possa ser tomada.
Também, se uma ou duas pessoas tem fortes objeções éticas para uma proposta, isso sugere uma diferença de princípios com a maior parte do grupo, o que levanta a questão ao grupo se é lógico que ele faça parte do mesmo.
Frustração
Este tipo de coisa naturalmente gera frustração naquele para quem o movimento de protesto deveria ser mais do que uma oficina de discursos. Tristemente, a experiência será apenas familiar para muitos participantes no movimento de protesto. Aqui outra consideração, agora da Flórida:
“É exatamente a mesma coisa com o Ocupar Flórida. O administrador/voluntário autonomeado que dirige o grupo do Facebook na seção local deste movimento sem líderes fala pelo grupo todo, e a ideologia deste ditador é que o problema se resume ao corporativismo (como é equivocadamente usado no vernáculo). O capitalismo não é nem mesmo discutido como possivelmente sendo o culpado.”
Eu interferi com “É o sistema, estúpido. Desculpe-me, mas não acho que enfrentar corporativismo é suficiente quando…”
O ditador responde com: “Não me chame de estúpido! E depois não vá pedir desculpas por isso…”
Essas contradições gritantes são reconhecidas por anarquistas honestos, com o seguinte comentário mostra:
“Eu sou um anarquista e eu concordo absolutamente com você. Eu tive exatamente a mesma experiência no protesto local. Passamos mais de 2 horas discutindo a formação de grupos de trabalho, e a maioria daquela discussão era uma meta-discussão sobre como devemos discutir a formação de grupos de trabalho. Eu finalmente fiquei sem tempo e tive que sair, e eu até fiquei feliz por isso porque aquele processo de organização era como arrancar os dentes”.
Outro usuário do Reddit deu vazão ao senso de frustração sentido por muitos: “Será que todos os grupos anarquistas são completamente inúteis? Alguém mais teve uma experiência similar? O principal ponto da democracia é que a maioria governa. Como alguém espirituosamente observou: ‘Se todos tem que concordar sobre tudo, talvez devamos mudar o slogan para ‘Nós somos os 100%!’ ”
Com todas as suas limitações, o sistema democrático é o único que permite uma participação genuína das massas. Deve haver debate livre e completo, com cada ponto de vista livremente expresso. Mas se é para não degenerar em uma mera oficina de discursos, o debate deve acabar em voto na qual a maioria deve decidir, e a minoria deve aceitar a decisão da maioria.
A imposição do consenso leva inevitavelmente a inação, frustração, perda de tempo e eventualmente, à queda da participação. Muitas pessoas que tomaram parte nas reuniões iniciais do Ocupar afastaram-se e deixaram a organização dos comitês porque ficaram frustradas com os debates sem fim e discussões que não chegam a lugar nenhum.
Os métodos que pareciam tão democráticos, que supostamente encorajariam a máxima participação, no final conseguem apenas alienar as pessoas e minar o movimento. Um método diferente é preciso, um método genuinamente democrático que permita que todos expressem suas opiniões livremente, mas que no fim do dia leva a decisões claras e ações positivas.
Panelinhas autonomeadas
O Bolchevique Russo Bukarin uma vez brincou que o anarquismo tinha duas regras: a primeira regra é que você não deve formar um partido; a segunda regra é que ninguém deve obedecer à primeira regra! Embora na teoria estes métodos anarquistas sejam ultrademocráticos, na prática, eles produzem o pior tipo de burocracia: a regra das panelinhas autonomeadas. A natureza contraditória dessa posição é clara para o elemento mais pensante entre os anarquistas:
“Eu sou um anarquista e eu concordo com a crítica da tomada de decisão por consenso. Permitir a todos em um grande grupo a ter um veto é paralisante. Assembleias de massa, especialmente sem uma agenda bem definida, tende a afastar-se pra longe dos tópicos.”
“Já estive em encontros ativistas que eram compostos na maioria por anarquistas onde a tomada de decisão por consenso era usada. Havia problemas, mas o grupo tentou firmemente a ficar atento àquelas questões e eles conseguiram fazer as coisas. Eu aprendi várias coisas diferentes dessa experiência.”
“Embora obviamente não houvesse um líder oficial no grupo, uma liderança de fato de 3 pessoas surgiu, que dominava o curso e a tomada de decisão simplesmente sendo mais velho, mais experiente, e mais confiante. Havia até uma pessoa (um rapaz branco, surpresa, surpresa) que estava particularmente liderando o grupo. Havia muito drama sobre as coisas, e eu, na verdade estava feliz que pessoas estavam falando e discutindo o efeito da raça, classe e gênero na tomada de decisão e liderança, mas no entanto o grupo colapsou devido a todo o descontentamento.”
“Este era um grupo de tipo 9 pessoas, e mesmo com esse pequeno número de pessoas foi difícil organizar as coisas através da tomada de decisão por consenso. Parecia que muito das coisas passavam simplesmente porque os membros mais jovens, menos confiantes estavam muito nervosos para se opor ou paralisar a decisão. De novo, eu os aplaudo por tentar estarem atento aos problemas, mas os problemas persistiram, muitas vezes silenciosos de exceções para um pequeno grupo de membros.”
Os métodos anarquistas de organização invariavelmente se tornam o seu oposto. A tendência “antilíder”, “anticentralismo”, e “antiburocrático”, acaba por ser o sistema mais burocrático e antidemocrático de todos. Já vimos isso muitas vezes. Atrás da aparente anarquia democrática de uma assembleia disforme sem regras, sem estrutura, e (teoricamente) sem líderes, alguém sempre toma as decisões. Mas se este “alguém” não é eleito por ninguém – “Eleições? Por maioria de votos? Deus me livre!” – portanto, não é responsável por ninguém.
Por trás das cenas, estas organizações “não burocráticas” são dirigidas por panelinhas autonomeadas de indivíduos (muito frequentemente anarquistas). Isso, na prática, é a pior forma de burocracia – uma burocracia irresponsável que pode fazer apenas o que gosta porque não é o método democrático formal de controle.