Resolução sobre Jovens Universitários
Resolução aprovada por maioria dos participantes da Conferência Nacional da Liberdade e Luta, com tema “Preparar a juventude para tempos revolucionários”, realizada no dia 23/10/2021.
- A situação atual das Universidades na época do imperialismo reflete a decadência do capitalismo e da classe dominante, não existe mais uma única burguesia revolucionária que empurra para frente o desenvolvimento das ciências e das artes, pelo contrário, toda a cultura e ciência estão retrocedendo ou sendo utilizadas para os fins reacionários dessa classe de parasitas.
- As Universidades historicamente foram grandes centros de liberdade de expressão, ideal trazido da Revolução Francesa e do Iluminismo. Wilhelm Von Humboldt idealizou as Universidades como espaços em que o desenvolvimento intelectual está ligado a todas as áreas do conhecimento e ao próprio desenvolvimento da sociedade. Vemos a cada dia o desmonte desse modelo em função do lucro. Cortes de pesquisa, estrutura e orçamento têm levado as Universidades ao fechamento ou a paralisia.
- Os ataques à Autonomia Universitária, isto é, à liberdade de pensamento científico, político e artístico, por um lado, e a disseminação crescente de teorias anticientíficas, pós-modernas e reacionárias nos meios universitários, por outro, caracterizam as Universidades na época imperialista do capitalismo.
- Todo o ensino se adequa aos interesses econômicos, e no Brasil, país dominado pelo imperialismo que tem o agronegócio como carro chefe da economia, a desvalorização e mesmo fechamento de cursos de humanidades para promoção de cursos mais “rentáveis” é a regra.
- A Reforma do Ensino Médio, sancionada pelo Governo Temer e implementada a todo vapor nos Estados nesse ano, com silêncio total das atuais direções dos trabalhadores e estudantes, prepara uma nova contrarreforma universitária, já que a MP prevê que as Universidades poderão aceitar matérias cursadas no Ensino Médio para validação no Ensino Superior. Além de destruir a carreira de professor, já que a formação técnica e o notório saber serão aceitos.
- Os ideais revolucionários de universalização, laicidade e gratuidade do ensino foram descartados pela burguesia. A educação é mercadoria nesse sistema e tal como qualquer outra mercadoria, enquanto ainda não está totalmente sob controle do capital, é sucateada, a partir de contrarreformas do Estado Burguês como o Future-se e corte de verbas ou, de forma direta, por meio das mensalidades nas mantenedoras privadas do Ensino Superior.
- A parcela de jovens universitários é ínfima em relação a parcela de jovens que tem seu acesso negado ao Ensino Superior, vetados por meio dos vestibulares das universidades públicas. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) do IBGE, 23,8 milhões dos jovens de 15 a 29 anos não tinham Ensino Superior completo, não frequentavam a escola, pré-vestibular ou curso de educação profissional em 2019. Isso representa 50% de toda a juventude no Brasil!
- O Ensino Superior privado é um negócio rentável para os Tubarões do Ensino, que se utilizam de uma série de ataques aos estudantes e trabalhadores para aumentar seus lucros. Ao mesmo tempo, pagar para ter um diploma se torna a alternativa da maioria dos jovens excluídos do Ensino Superior público, que também são pressionados pelo alto desemprego para que tenham alguma formação.
- Entre esses ataques estão demissões de professores semestralmente; contratação de profissionais com salários rebaixados; transformação de cursos presenciais em semipresenciais com o aval legal do Ministério da Educação (MEC) que permite, na maioria dos cursos ditos presenciais, a oferta de 40% de aulas em EaD, além da própria expansão do EaD; corte de bolsas e descontos dos estudantes; fechamento de turmas e salas de aulas superlotadas; precarização da infraestrutura; aumentos semestrais das mensalidades; correção robótica e a terceirização. Para essas mantenedoras como a Kroton (Anhanguera), Farallon (FMU e UAM), Cruzeiro do Sul (UNICSUL), Estácio (Estácio de Sá) e outras, a lógica é quanto mais estudantes matriculados melhor, nem que para isso tenham que rebaixar ao máximo as condições de trabalho e estudo.
- Já as mantenedoras como a Fundação São Paulo (PUC), A Fundação Escola De Sociologia e Política De São Paulo (FESPSP), Instituto Presbiteriano Mackenzie (MACKENZIE), das “Universidades Privadas de Elite”, com justificativa de aumentar a “qualidade” do ensino, cobram altas mensalidades, elitizando ainda mais essas universidades, expulsando os estudantes que semestralmente não conseguirem pagar as mensalidades. Os interesses dos tubarões do ensino e dos estudantes são antagônicos, deixando claro que o lucro deles é o nosso prejuízo.
- Durante a pandemia esses ataques e a precarização só se intensificaram, tanto por parte das Universidades Públicas quanto das Privadas. Não houve garantia de condições de trabalho e de estudo para todos os profissionais da educação e para todos os estudantes. Muitos necessitam de acesso à internet, computador, livros, equipamentos de pesquisa e locais adequados para desenvolverem o ensino e aprendizado, mas isso não foi garantido nem pelo Estado e nem pelas mantenedoras privadas, o que ocasionou a evasão de centenas de milhares de estudantes do Ensino Superior. Cerca de 608 mil estudantes desistiram ou trancaram suas matrículas durante o 1º semestre de 2020.
- Nesse contexto, temos as direções das maiores entidades de representação dos estudantes, a UBES e a UNE, abandonando os estudantes em suas lutas e freando sua disposição de luta. A paralisia do movimento estudantil, o desconhecimento dos estudantes em relação a história e existência de suas entidades é reflexo das políticas adotadas, em primeiro lugar, o abandono da luta pela educação pública, gratuita e para todos, em favor das políticas de transferência de dinheiro público para o setor privado.
- O PT, como governo, implementou políticas que reforçaram ou ampliaram a participação dos tubarões do ensino, a partir de programas como PROUNI e FIES. Hoje, mais de 76% das matrículas no Ensino Superior estão concentradas em 20 grandes conglomerados educacionais privados.
- O que atualmente, a direção da UNE (PT, PCdoB, Consulta Popular, PDT, Levante Popular da Juventude como direção majoritária, mas também correntes do PSOL, PCB, entre outros) defende é a regulamentação do Ensino Superior privado a partir da extensão do FIES e do PROUNI, cobrança de mensalidades mais “justas” de acordo com o investimento feito pela universidade e a implementação das cotas étnico-raciais, que não alteram a quantidade já insuficiente de vagas atualmente ofertadas nas universidades públicas.
- A luta pelo “Fora Bolsonaro” para essas direções significa eleger Lula em 2022. Mas Lula e nenhum outro candidato que se proponha a administrar o sistema capitalista vai resolver os graves problemas educacionais que enfrentamos. A linha política que eles, incluindo Lula, defendem não garante acesso universal ao Ensino Superior público, muito pelo contrário, continua excluindo a maioria dos jovens. Para massificar o acesso ao Ensino Superior é preciso que todo jovem tenha acesso a uma vaga na Universidade Pública após concluir o Ensino Médio, sem precisar passar por um vestibular.
- É preciso lutar pela educação pública, gratuita e para todos, essa é uma reivindicação histórica e necessária para toda juventude. Nas universidades públicas, esse combate está na luta intransigente pelo fim do vestibular e por vagas para todos; contra todo corte de bolsas de pesquisa, auxílios, permanência estudantil e pela sua ampliação; por todo dinheiro necessário à educação e ciência; em oposição a terceirização e a programas de captação de recursos privados, como Future-se, que são a privatização das universidades, e por melhorias às condições de estudo, trabalho e pesquisa, sistematizadas e organizadas para mobilização em cada local.
- Nas universidades privadas essa luta passa pelo combate pela garantia total das condições de trabalho e de estudo, para todos os profissionais e dos estudantes; pelo fim das mensalidades, não há mensalidades “justas”, se é preciso pagar, é porque a educação é uma mercadoria que é negada aos que não tem condições de comprá-la; garantia de jornadas de trabalho reduzidas para os estudantes trabalhadores; pela federalização de todas as universidades que recebem dinheiro público e o controle democrático dos que nela estudam e trabalham.
- Para conquistar cada uma de nossas reivindicações como jovens universitários é preciso nos organizarmos em nossos locais de estudo, enfrentando:
- a decadência teórica e a disseminação de teorias anticientíficas e reacionárias, por meio da promoção de atividades sobre os pilares do marxismo (filosofia materialista, bases econômicas e socialismo), além da polêmica com as ideias pós-modernas;
- a paralisia do movimento estudantil, participando, com um programa independente e revolucionário, nas eleições dos Centros Acadêmicos, apoiando a construção de verdadeiros Sindicatos de Estudantes; promovendo discussões sobre a luta pela educação pública, gratuita e para todos (Qualidade x Universalização do ensino; História da UNE e UBES; a luta por sindicato de estudantes; a luta pela educação pública, gratuita e para todos nas universidades privadas; autonomia universitária); participar das lutas dos estudantes como fração mais resoluta do movimento, organizando lista de reivindicações concretas para melhoria de estudo e trabalho; defesa dos interesses dos estudantes em seu conjunto, em aliança com os trabalhadores;
- os ataques do governo Bolsonaro à educação e ciência, apontando como perspectiva entre estudantes e trabalhadores da educação a necessidade da construção de uma greve geral para pôr abaixo esse governo AGORA.
- São nossas bandeiras nessas lutas:
- Educação Pública, Gratuita e para Todos! Fim do vestibular, vagas para todos nas universidades públicas!
- Todo dinheiro necessário para a educação e ciência pública! Fim do pagamento da dívida pública, interna e externa!
- Fim das taxas e mensalidades! Federalização das Universidades Privadas que recebem dinheiro público!
- Abaixo a Reforma do Ensino Médio!
- Aulas presenciais só quando todos estiverem imunizados! Garantia das condições de estudo e trabalho na pandemia!
- Abaixo a terceirização! Abaixo a privatização das Universidades!
- Tecnologia para a educação sim, EaD não!
- Defesa da Autonomia Universitária: liberdade de pensamento científico, político e artístico nas Universidades!
- Pela liberdade de expressão, manifestação e organização nas universidades públicas e privadas!
- Contra o fechamento das Universidades Federais! Universidades Ficam, Bolsonaro Sai!
- Abaixo Bolsonaro Já! Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!
- Abaixo o capitalismo! Abaixo as fronteiras! Solidariedade internacional por mundo socialista!
- Por fim, mas não menos importante, há entre a esquerda, uma ideia de que se pode mudar o mundo por meio da educação, um fetiche sobre uma educação libertadora. Sobre isso, é importante reafirmar que:
- É impossível que a escola, universidade ou a educação possam transformar a sociedade capitalista; o que pode transformar a sociedade é a luta de classes, a revolução socialista e a extinção do Estado burguês e das classes sociais, abrindo caminho para uma nova história da Humanidade.
- Defendemos educação pública, gratuita e para todos;
- A sociedade socialista será construída sob a base de todo o conhecimento acumulado até ela, inclusive o que foi produzido na sociedade capitalista;
- Dito isso, as concepções sobre uma educação transformadora e libertadora sob o capitalismo são formulações que, na verdade, têm um conteúdo reformista, de abandono da luta de classes e que encontram expressão na “pedagogia do oprimido” e “pedagogia crítica” de Paulo Freire. Em 2021, Paulo Freire completaria 100 anos se estivesse vivo e esse centenário reacende o debate sobre pedagogia do oprimido ou luta de classes, pedagogia do oprimido ou marxismo: uma análise marxista da vida e obra de Paulo Freire, que apontamos como indicativo de tema para o 3º Seminário em Defesa da Educação Pública, Gratuita e Para Todos, bem como a luta contra a aplicação da reforma do ensino médio nos estados, unificando mais uma vez estudantes e trabalhadores da educação para discutir e lutar juntos pela educação pública, gratuita e para todos!
Confira as demais resoluções aprovadas na conferência:
Resolução Política de Conjuntura
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