Basta de imobilismo! Colocar a Frente Unica Antifascista de volta em movimento e esmagar a extrema-direita na UnB

No início de julho, tivemos mais um caso de ataques dos provocadores de extrema-direita ao campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB). Esse caso foi a escalada de novas ações, quando esse grupo de provocadores tentou depredar o centro acadêmico da área de comunicação da universidade. No ataque tentaram rasgar expressões artisticas em defesa do povo palestino contra o genocidio sionista. O ataque desta quarta-feira, subiu o tom dos atos. Neste, o grupo chegou a agredir uma estudante que se encontrava no centro acadêmico de artes visuais.
Junto a essa ação inaceitável, tivemos a total negligência da direção atual do DCE da universidade, dirigido pelo Juntos! (MES/PSOL), PCBR e Correnteza (UP). A estudante agredida ao procurar a direção do diretório central, foi totalmente ignorada, e a ação do grupo de extrema-direita foi tratada como um “absurdo recorrente”.
A continuidade dos ataques desse grupo de provocadores, e a postura da direção do DCE, não são apenas casos isolados, ou fruto de um desvio moral, ou ainda descuido de alguns indivíduos. Esses são expressões das tensões de classe, fruto das contradições do sistema capitalista e da crise que enfrentamos no movimento estudantil.
Por que esses ataques estão acontecendo?
Em uma época de crise do sistema, essas contradições cada vez mais se intensificam e as pautas reformistas não mais se sustentam. Nos últimos anos existe um processo de afastamento entre o coletivo dos estudantes e suas representações políticas, o movimento estudantil organizado. Isso ocorre por conta de uma incapacidade das direções desse movimento em responder às demandas e necessidades dos estudantes. Toda luta travada pela classe trabalhadora e pela juventude, leva para a necessidade de derrubada geral do sistema, ou se encontram em um beco sem saída. Como Trotsky analisou nos anos 30, a crise de nosso tempo se resume a uma crise das direções.
Entregues a uma política de conciliação, ou mesmo de oposição branda, as direções tendem a institucionalização da luta, e assim promovem um processo de despolitização. Essa situação resulta em um retrocesso na consciência de classe, atacando a compreensão do princípio da independência política, tanto no movimento estudantil, quanto operário. Os estudantes, por exemplo, não confiam e nem veem o motivo para a existência de uma mobilização política. “Já que nada muda mesmo, por que eu vou perder meu tempo nisso?” Essa é uma questão muito presente entre essa camada dos estudantes que têm se afastado. Além disso, a política oportunista e restrita quando ocorrem eleições, seja locais ou para o Congresso da UNE, enoja a base estudantil que corretamente sente que só é ouvida, valorizada e mobilizada quando interessa para essas organizações.
O acentuamento das contradições do sistema capitalista, e suas crises contínuas, empurram toda uma camada da juventude cada vez mais para o radicalismo. Somando isso, a incapacidade das direções reformistas para construir uma saída dessas crises, cria um processo contraditório entre a juventude. Ao mesmo tempo que ela se radicaliza, a falta de uma representação política que apresente uma resposta a seus anseios, faz com que uma parte dessa juventude se afaste da luta nos espaços políticos ou seja cooptada pela direita.
Sabemos que a realidade não tolera vácuos, e em política isso é claro. Se existe um espaço de despolitização, se existe uma crise de confiança e representação política dos estudantes, outros elementos vão ocupar esse espaço.
Entre a pequeno-burguesia assaltada pelo grande capital, e que se vê cada vez mais próxima da diluição dentro da camada proletária da sociedade, esse processo de radicalização gera seus contrários. Uma camada da juventude pequeno-burguesa se aproxima das ideias do comunismo, e os elementos mais conservadores dessa classe se colocam a serviço da grande burguesia, se convertendo em seus capangas, para cumprir seu trabalho sujo. Destruir todas as formas de organização independente da classe trabalhadora e de sua juventude.
Essa conjuntura se expressa na Universidade de Brasília (UnB), visto que, sob o capitalismo, as universidades são centros de formação de mão-da-obra qualificada, onde toda sorte de teorias pequeno-burguesas e burguesas proliferam e são inclusive incentivadas… Tal processo deseducou o movimento estudantil de práticas, táticas e estratégias históricas da luta proletária.
A luta pela Frente Única Antifascista na UnB
Como já explicado no texto: Frente única para derrotar a extrema direita e os fascistas na UnB! Um grupo de influencers de direita tem atacado sistematicamente nossa universidade há pelo menos um ano. Atacam os espaços de convivência estudantil, atrapalham aulas e buscam humilhar e esvaziar as ações políticas no campus. E tudo isso com conivência velada da segurança e da administração
Apesar de todas essas dificuldades, assim como em 2016, os estudantes se organizaram para barrar a ação desses indivíduos no campus. Desde o início do semestre os estudantes têm se mobilizado para impedir a entrada deles em nossa universidade. Entretanto, é perceptível que as direções das entidades estudantis, como a do DCE, se perdem no caminho dessa mobilização. Combater a extrema-direita no campus não é trabalho de um dia, muito menos em “combates” via ofícios com a reitoria. É essa mesma reitoria que, seguindo sua conivência velada, mantém um jogo de empurrar essa sujeira para debaixo do tapete. Há alguns meses a reitoria vem seguindo uma estratégia de suspensões para os indivíduos que realizaram esses ataques, resposta que em nada impediram a realização de novas ações
Frente a essa situação, uma série de estudantes independentes, CA’s e organizações de esquerda, como nós da OCI/JCI, AUSEI, Faísca, PCB, PCBR e Kizomba, buscaram construir uma resistência organizada a esses ataques. Em março deste ano, em reunião para organizar o ato contra as ameaças desse grupo de provocadores, nós da OCI-Brasília propusemos que aquele movimento desse um passo mais em direção a uma luta mais madura, isto é, a criação de uma frente única permanente de luta antifascista na UnB. A proposta foi aprovada por unanimidade dos coletivos dos estudantes presentes e o fruto dessa organização foi o bloqueio do crescimento desse grupo na universidade. Realizamos uma verdadeira nova “revoada dos galinhas verdes”, pois nos apoiamos na experiência de luta acumulada do movimento operário, que teve como maior expressão no Brasil A Frente Unica Antifascista dos anos 30, e sobre esses princÍpios foi formalizada a criação da Frente Única Antifascita da UnB (FUA-UnB):
“(1) Sob a denominação de Frente Única Antifascista (FUA), coligam-se todas as organizações que de forma convicta e obstinada se colocam na luta antifascista com estes objetivos comuns:
(A) Combate às ideias, ao desenvolvimento e à ação do fascismo;
(B) Luta pela mais ampla liberdade de pensamento, reunião, associação e imprensa;
(C) se soma às lutas dos estudantes nas reivindicações de melhores condições de estudo, de vida e de permanência na universidade. Na luta por uma educação pública, gratuita e para todos;
d) consolidação de um bloco unitário e permanente de ação contra o fascismo.
(2)Todas as organizações coligadas conservarão a sua plena autonomia e inteira liberdade de crítica. Os atritos que se verificarem entre as organizações, fora da esfera da ação antifascista, nunca poderão servir de motivo para o rompimento da Frente Única. A estabilidade desta será garantida por um programa comum de ação, em cujo desenvolvimento não se feriram os pontos de divergência ideológica existentes entre as organizações coligadas.”
Entretanto, esse movimento poderia ter sido muito maior, e assim despertado uma nova camada de jovens estudantes para a luta organizada na UnB se nós tivéssemos tido o apoio do DCE da universidade nessa construção. Coisa que infelizmente não tivemos. Principalmente as forças do Juntos! e Correnteza, se negaram a somar na construção da frente única, e tentaram desmobilizar a organização, acusando os membros da frente de estarem “se jogando em uma ação aventureira e prejudicial para os estudantes”. A pergunta que se apresenta é: Então a ação da extrema-direita é mais benéfica para os estudantes? Esses coletivos estão mais interessados com o jogo pelos cargos e cadeiras, então preferem manter o movimento político da universidade em um estágio de inércia. Assim se cria um pequeno grupo de “heróis do movimento estudantil”, uma burocracia que faz o jogo político. E assim, alienam a grande maioria dos estudantes da participação política. Exemplos disso são os números de eleitores nas últimas eleições do DCE e 60º Conune. Esse “clube do bolinha” que se formou na direção do movimento estudantil da UnB, tem medo e repulsa a mobilização massiva dos estudantes.
Mesmo sob pressão e com pouco tempo de organização, a FUA rapidamente ganhou corpo, assumindo a liderança dessa resistência na UnB. O ponto alto dessa mobilização foi o contra-ato antifascista, realizado na mesma data prevista para o ato do grupo reacionário no inico de abril. A FUA organizou uma manifestação ativa e combativa, que reuniu entre 90 e 100 estudantes. Em contraste, apenas cerca de 15 pessoas compareceram ao ato da extrema-direita, que fracassou em duas tentativas consecutivas. A atuação da mobilização estudantil impediu confrontos diretos e desmantelou a tentativa da extrema-direita de se impor no campus. De abertamente falarem que “limparam a universidade da esquerda” e que “dariam porrada nos comunistas”, hoje se encontram desmoralizados e humilhados pelas constantes falhas em mobilizar um ato na universidade.
O que fazer agora?
Entretanto esse grupo que havia desaparecido por um tempo da universidade, agora está novamente retornando com uma nova tática. Ataques esporádicos e em espaços menos movimentados do campus. Ações covardes e típicas dessa escória. Nesse momento, precisamos entender o que significa uma frente única permanente e quais são suas tarefas políticas. O maior desafio para a frente, e que reflete o desafio de todo o movimento estudantil da UnB e talvez brasileiro, para além da própria extrema-direita, é a necessidade da superação das confusões políticas do oportunismo por um lado e do ultra-esquerdismo por outro. Essas confusões empurram e mantêm o movimento estudantil em uma constante fase de imaturidade e infantilidade política. É preciso organizar a luta, e qualificá-la. Sem ilusões em ações diretas de pequenos grupos, ou mesmo, a estagnação em um estágio organizativo de “resistência”. A luta contra as ações de extrema direita está de forma indissociável ligadas à luta pela maturidade do movimento estudantil em nossa universidade. O retorno a um estado de mobilização permanente. Mas por onde começar? e o que fazer?
A necessidade de combater esses grupelhos e suas ações não se encontra na resistência, ou na criação de grupos sazonais de enfrentamento. Mas em uma permanente mobilização combatente e de avanço. Combater a possibilidade da extrema-direita, está no avanço de ganhar o conjunto dos estudantes para a luta organizada e política. E isso só pode ser feito através de um combate real por melhores condições de ensino e permanência, e sem abrir mão de uma perspectiva radical. Pois somente com essa, é possível consolidar avanços, e podemos parar de correr atrás do próprio rabo e mudar nossa realidade.
Três pontos se tornam centrais para a luta antifascista na UnB:
- (1) A luta pela garantia dos direitos democráticos em nosso campus. Seja para professores, técnicos, terceirizados e estudantes. Não podemos ter restrições à liberdade de imprensa, organização, manifestação e expressão não podemos ter restrição ao uso político do espaço da universidade;
- (2) Auto organização dos estudantes. Não temos confiança no estado burguês, e é o aparato diretor da universidade a expressão desse no campus. A defesa dos estudantes, a gestão dos espaços acadêmicos e a organização política devem ser feitos com independência da reitoria e dos aparatos de repressão;
- (3) Retomar a confiança dos estudantes em sua auto organização política. Fortalecendo as ferramentas de representação estudantil, e a independência de ação e organização política em todos cursos, faculdades e campus. Assim, avançar na luta pela melhora nas condições da existência, de permanência e acesso à universidade. Dessa maneira, podemos colocar novamente o movimento estudantil em movimento, entendo suas tarefas e necessidades. Assim como, colocamos em xeque os limites da luta por uma educação pública, gratuita e para todos, dentro dos limites do sistema capitalismo decadente.
Nossa tarefa mais urgente é colocar novamente a FUA-UnB em movimento. Novos ataques estão no horizonte se não fizermos nada. Nós, da Juventude Comunista Internacionalista, propomos a todos os membros da FUA (as forças e os estudantes independentes) e o DCE Honestino Guimarães, a organização de um plano de ação contundente. A organização dessa frente única, foi um passo de extrema importância para conseguirmos combater as tentativas de consolidar um movimento de extrema direita em nosso campus. Entretanto, essa ameaça ainda não está eliminada. Não podemos simplesmente virar as costas para esse trabalho.
Desde sua criação, a FUA, se propôs a ter um caráter de ação permanente. Não podemos, e não devemos mais uma vez, abandonar uma luta dessa forma. Isso somente aumentaria a desmoralização do movimento estudantil frente ao coletivo dos estudantes. Aqueles que foram eleitos para representar os estudantes, não podem ficar apáticos e tratar um caso de agressão de extrema direita como mais uma. Os estudantes, não aguentam mais ideias que não se materializam. Não podemos confiar no aparato administrativo, mas é necessário cobrar uma resposta contundente. Não podemos ter mais um semestre onde a violência, a repressão ao debate e ao movimento estudantil sejam permitidas em nosso campus.
Faça parte desse combate. Organize-se na Juventude Comunista Internacionalista, e nos ajude a construir a Frente Única Antifascista na UnB e por fim a ameaça de extrema-direita!
“Primeiro eles vieram buscar os socialistas, e eu fiquei calado — porque não era socialista.
Então, vieram buscar os sindicalistas, e eu fiquei calado — porque não era sindicalista.
Em seguida, vieram buscar os judeus, e eu fiquei calado — porque não era judeu.
Foi então que eles vieram me buscar, e já não havia mais ninguém para me defender.”
— Martin Niemöller