A curiosa aliança do JUNTOS-REM-UJC(PCB) e as eleições para a Associação dos Moradores do CRUSP
Estamos às vésperas das eleições para a Associação dos Moradores do CRUSP e duas chapas disputam o pleito. Uma delas é composta por anarquistas autonomistas (embora não assumam, historicamente ligados à REM) e pela UJC, juventude do PCB. Temos uma inovação curiosa nesse caso, com uma chapa que contém autonomistas anti-partido e “horizontalistas” junto com militantes que reivindicam o estalinismo. A chapa se chama FATAL – difícil imaginar um nome mais apropriado. O Juntos acabou pulando do barco, às vésperas das eleições e afirma não compor a chapa, mas fez parte da formação da aliança e é co-responsável por suas consequências.
Essa aliança não seria problema algum se fosse constituída para a defesa dos direitos dos moradores do CRUSP, mas ela é justamente o seu contrário. Na verdade, sua origem se baseia num programa muito simples: TODOS contra a luta empreendida pela gestão anterior da AMORCRUSP e da Liberdade e Luta, apoiada por mais de 30 CA(s) pelas 3 refeições diárias para os moradores do CRUSP, em defesa da regularização dos moradores irregulares e contra o racismo e a violência dentro da moradia.
De outro lado, temos a “Avante – um CRUSP de luta para todes”, chapa que a Liberdade e Luta USP integra e impulsiona, junto a uma maioria de estudantes independentes, todos eles integrantes e apoiadores dos últimos combates em defesa dos direitos dos estudantes moradores e exigindo da Reitoria condições de vida dignas para todos no CRUSP.
A história da curiosa aliança
No dia 23/02/2023 ocorreu uma assembleia do CRUSP e mais uma vez a REM, dessa vez fortemente apoiada pelo JUNTOS, UJC(PCB) e timidamente pelo Correnteza (UP), promoveram um show de absurdos, contra qualquer noção básica de democracia da tradição do movimento estudantil e operário classista.
A assembleia foi convocada e ficou a cargo da Comissão Eleitoral, eleita na assembleia anterior para organizar as próximas eleições para a AMORCRUSP, associação dos moradores do CRUSP. A ela cabia a proposição da pauta e a condução da mesa da assembleia. No entanto, uma maioria formada na comissão eleitoral de 4 membros contra 3, decidiu usurpar completamente os limites das atribuições de uma comissão eleitoral. A maioria formada na comissão eleitoral expressa, em seu interior, as intenções manifestadas na assembleia por essa curiosa aliança.
Essa estranha aliança, composta por anarquistas que dizem ser contra partidos, por partidos que reivindicam o estalinismo (Correnteza/UP e parcialmente UJC/PCB) e, por fim, uma outra que se reivindica trotskista JUNTOS/mês, mas que na prática assume uma posição centrista, que oscila entre revolução e reforma.
Estaríamos muito contentes se tal “aliança” se formasse para somar-se ao combate pelo direito às 3 refeições diárias no bandejão da USP aos fins de semana, impulsionado pela AMORCRUSP e pela Liberdade e Luta, contando com a participação de mais de 20 coletivos e organizações políticas, mais de 30 C.A.s e mais de mil assinaturas individuais. Mas sabemos que nem a UJC/PCB e nem a REM assinaram e nem mesmo movem qualquer palha para organizar a luta pelo direito à 3 refeições diárias. Nenhum deles esteve presente no ato de entrega do abaixo-assinado e nem ajudou a coletar qualquer assinatura – embora alguns tenham assinado individualmente, a revelia da posição de sua direção.
Mesmo com essa divergência, também nos contentaríamos se tivessem somado forças para organizar qualquer luta concreta pelos direitos dos moradores do CRUSP. Mas, infelizmente, a curiosa aliança formou-se com base no oportunismo, tendo como meta apropriar-se do controle do caixa da entidade e de uma manobra para que – pasmem – a comissão eleitoral se convertesse na nova gestão da entidade durante parte do mês de março.
Ocorre que uma maioria da Comissão Eleitoral que, vide o nome, deveria ter como objetivo organizar o calendário e a logística do processo eleitoral, outorgou-se o direito de pautar coisas inusitadas como, reivindicar o controle das redes sociais da atual gestão, assumir o controle do caixa da atual gestão e tornar-se – sem qualquer mandato para isso – a direção da entidade entre o fim do atual mandato e o próximo.
No entanto, foi a própria comissão eleitoral que, por maioria, propôs atrasar o pleito, dando assim a si mesma o direito de tornar-se, sem eleição nenhuma, a nova gestão “provisória”.
A Liberdade e Luta propôs nesta assembleia que as eleições fossem realizadas antes de 13 de março, quando se encerraria o prazo regimental do mandato da AVANTE CRUSP. Formou-se, então, esta inusitada frente ampla, que venceu por 02 votos – apesar de que tal vitória só ocorreu porque membros da mesa não votaram, o que teria mudado o resultado. Além disso, tais organizações contaram com votos de integrantes que não moram no CRUSP, ou seja, um desrespeito absoluto aos moradores e ao seu direito de determinar de forma soberana os rumos de seu movimento.
Vemos aqui uma manobra oportunista e completamente nociva. As consequências do confisco do caixa da entidade são graves.
A Liberdade e Luta e a Esquerda Marxista alertam, desde sempre, para o perigo que representa para a independência do movimento estudantil as entidades estudantis da USP terem espaços cedidos pela universidade que são alugados e cuja renda de aluguel alimenta o caixa da própria entidade.
Isso permite que pessoas, grupos ou organizações que não tem qualquer relação com combates reais dos estudantes moradores se engalfinhem e usem de todo o tipo de artifícios para verem-se no comando. Na sanha para administrar o dinheiro, passam por cima de qualquer princípio. A existência de um tipo de financiamento baseado em aluguéis, criou durante todos estes anos, uma forma de funcionamento em que as gestões não precisavam ter qualquer conexão com a vida real dos moradores, e mesmo assim continuavam a funcionar. Seu sustento em nada dependia de seu contato com a base.
No caso do CRUSP, os anos anteriores à gestão da AVANTE CRUSP são uma interminável série de absurdos, incluindo casos notórios e públicos de dinheiro que desapareceu e nunca foi devolvido. Um desses casos, tem como devedor um dos agressores afastados do CRUSP, que as organizações da curiosa aliança dizem ser um “perseguido político”. Os autonomistas, embora se digam anarquistas, agiram durante anos como efetivos burocratas, que sequer sentiam necessidade de prestar contas de seus gastos.
É curioso que agora eles consigam apoio do Juntos e UJC para, mesmo antes da eleição, controlar o caixa da entidade.
A Liberdade e Luta defende a independência financeira das entidades estudantis, bem como dos sindicatos e partidos políticos. Todos devem ser bancados por seus membros, seus filiados e apoiadores, sem nenhum dinheiro do Estado ou dos patrões.
O processo eleitoral da AMORCRUSP deste ano tem sido uma verdadeira prova de fogo para os moradores do CRUSP, que estão chamados a dar um basta ao contínuo oportunismo que se tornou o ambiente cruspiano. Nenhuma destas mesmas organizações – com exceção da REM, que não existe em parte alguma – teria coragem de propor as mesmas coisas no movimento sindical. Eles apostam numa suposta ingenuidade e inexperiência para convencer os estudantes e, principalmente, os mais jovens, de que tais métodos anti-democráticos são comuns. Não são.
A Liberdade e Luta uniu forças com camaradas que estiveram à frente da importante campanha em defesa do direito às três refeições, por mais ônibus nos fins de semana, pela regularização dos moradores irregulares, por reforma imediata para a melhoria das condições de vida no CRUSP, em defesa de um controle de acesso às unidades habitacionais, em defesa da integridade dos moradores. Alguns deles foram membros da mais recente gestão da AMORCRUSP, que foi capaz de desenvolver-se muito e permitiu um salto na qualidade no debate político, bem como abriu um combate público contra o banditisimo, a violência e a coação, adotados como métodos das últimas gestões e de outras organizações que disputam a direção do movimento no CRUSP.
Saudamos os 3 membros da comissão eleitoral (Cauã, Isabela e Greg) que se recusaram a assinar as atas da assembleia que incluíam adulterações das decisões e fraudes. Saudamos sua firmeza em defender os princípios mais básicos da democracia do movimento estudantil, lutando para que a Comissão Eleitoral cumpra com a função para a qual foi eleita, como deve ocorrer em qualquer lugar e em qualquer entidade. Obviamente, a maioria da comissão eleitoral desistiu de colocar assinaturas individuais na ata, como forma de esconder sua covardia.
Por fim, após sua série de manobras, a comissão eleitoral com maioria da curiosa aliança conseguiu assumir o controle da entidade interinamente, apossando-se – na prática – do caixa e começou por criar todo o tipo de confusões desnecessárias. Foi necessária grande pressão política por todos os lados para evitar que a maioria da comissão demitisse secretários da AMORCRUSP e que deixasse oficineiros/professores sem pagamento.
A irresponsabilidade salta aos olhos de qualquer pessoa séria.
A campanha eleitoral
Os estudantes estão chamados a combater o oportunismo e a votar por uma direção de luta para a Associação dos Moradores a partir do dia 10. Todo voto fará diferença.
A chapa FATAL é composta por alguns que não têm vínculo com a universidade, que defendem abertamente que o CRUSP não é propriedade e patrimônio público, mas sim uma ocupação estudantil e que deve funcionar sob autogestão. Esquecem-se, no entanto, de que quem o construiu foi a classe trabalhadora e que o CRUSP não deve ser propriedade apenas de quem mora lá, mas deve servir ao conjunto desta classe e abrigar, em especial, sua juventude que não tenha condições de pagar um aluguel para poder estudar. Se a classe trabalhadora tudo produz, a ela tudo pertence.
A Liberdade e Luta defende que, se a propriedade pública é hoje administrada pela burguesia, não é uma solução que ela passe a ser administrada por alguns gatos pingados autonomistas, mas pelo conjunto da classe trabalhadora. Por isso defendemos uma revolução socialista, expropriando a burguesia e convertendo toda a riqueza e os grandes meios de produção em propriedade coletiva, com organismos dirigentes democraticamente eleitos pelos trabalhadores e não auto-intitulados donos de qualquer coisa. Não há nenhuma semelhança entre o individualismo e oportunismo dos autonomistas com a noção de coletividade e classe social dos socialistas.
Diante de tal posição, os autonomistas e membros da UJC consideram natural que pessoas sem vínculo com a USP morem no CRUSP e defendem tal condição como um direito. A Chapa Avante considera que todos que encerram seus cursos precisam de um prazo para se organizarem e procederem com uma mudança, que constitui transtorno na vida de qualquer pessoa e precisa de tempo para providências. A Liberdade e Luta tratou desse tema em longo artigo publicado anteriormente. A responsabilidade pela existência de ex-estudantes morando por mais de uma década sem vínculo e pessoas que sequer estudaram na USP morando em unidades de que deveriam ser destinadas a estudantes com baixa renda é, em primeiro lugar, da reitoria da universidade que não dá atenção às políticas de permanência e é conivente. Mas um movimento estudantil que dá cobertura a essa apropriação privada da propriedade pública, fechando os olhos inclusive para casos de sublocação, exploração privada da propriedade pública e expulsão de estudantes selecionados por meio de ameaça e violência é criminoso.
No processo eleitoral isso gera um risco grave. Se qualquer um, mesmo sem ter passado por qualquer processo de seleção pode ser morador, os defensores dessa tese pressionam para que mesmo pessoas sem vínculo possam votar e já defenderam isso publicamente inúmeras vezes. A comissão eleitoral está chamada a fiscalizar e coibir essa prática anti-democrática.
A Liberdade e Luta e a chapa Avante
A Liberdade e Luta e a Chapa Avante defendem a imediata regularização de todos os moradores, de forma a garantir que todas as vagas possam ser oferecidas aos novos e antigos estudantes de baixa renda que não tenham onde morar para seguir em seus cursos. Defendemos o fim dos moradores de segunda categoria, não reconhecidos pela universidade. Que todos os que precisam tenham direito à moradia e à bolsa auxílio. Mas para isso temos que dar fim ao oportunismo defendido pela chapa FATAL, que dá cobertura à negligência histórica da reitoria.
Defendemos o controle de acesso – debatido e definido em conjunto com os moradores – como forma de garantir a inviolabilidade do domicílio, a integridade física e combater a onda de violência, racismo, xenofobia e intolerância no CRUSP. Sabemos que não temos como confiar nas forças de repressão do Estado, seja a PM ou mesmo a própria guarda da Universidade. Sabemos que a PM no campus serve à defesa da privatização do conhecimento e à repressão do movimento estudantil e dos trabalhadores da USP. Somente a auto-organização da classe trabalhadora e da juventude poderá dar fim a essa lógica e garantir nossa própria segurança. Fora a PM do campus!
Defendemos o direito às três refeições no bandejão central, mesmo em fins de semana e feriados, porque os estômagos não tiram folga e cabe à universidade garantir funcionários suficientes, com todos os direitos trabalhistas e com condições dignas de trabalho, para atender a todos os serviços essenciais.
Defendemos a realização imediata das reformas nos blocos, com instalação de cozinhas, tanto nos apartamentos quanto às cozinhas coletivas, ampliação dos equipamentos de lavanderias e outros.
Tudo isso depende de uma ousada política de independência de nosso movimento. A chapa “AVANTE – um CRUSP de luta para todes” propõe a abertura de um amplo debate para a conquista da independência financeira de nossa entidade. A independência financeira é a condição para a independência política.
A AMORCRUSP por anos foi a fonte de renda de grupos oportunistas que defendem a auto-gestão, mas que sempre se aproveitaram da sublocação de um espaço público da universidade, anexo à sede da entidade. Se por um lado, os moradores precisam de uma padaria, papelaria e outros tantos serviços, por outro isso tem sido constante fonte de corrupção e oportunismo.
O dinheiro proveniente da exploração de um espaço público deve ser público e o financiamento de uma entidade deve ser feito por seus associados. A curiosa Aliança que se formou para apossar-se do caixa da entidade e dirigí-la temporariamente sem ter sido eleita provavelmente não existiria se tivéssemos uma entidade independente. Porque nesse caso, não há benesses, mas apenas o trabalho de organizar e mobilizar para a luta em defesa dos direitos dos moradores.
Lutamos por uma Universidade Pública, Gratuita e para Todos, não para apenas alguns que se auto-intitulam “donos” de algo que é público.
A conjuntura política para 2023
A classe trabalhadora brasileira obteve no final do ano passado uma vitória, no campo eleitoral, contra o bolsonarismo, elegendo Lula como presidente. Porém, se por um lado isso constitui uma vitória ao derrotar o representante do mais nefasto setor da burguesia e da pequeno-burguesia ultra-reacionária, por outro não resolve nossos problemas fundamentais. Tal governo tem Alckmin e uma série de ministros burgueses e, inclusive, bolsonaristas. Seu programa reflete a adesão do PT ao programa da burguesia. Para piorar, no governo do Estado de São Paulo temos um bolsonarista, Tarcísio, avançando na política de privatizações e todo tipo de ataques. A Reitoria segue e seguirá seus desmandos e é sua representante aqui na USP.
Os estudantes da USP, em grande parte, participaram do combate eleitoral que ajudou a eleger Lula e percebem que não é impossível vencer quando se está organizado. Mas é preciso ir além, com um programa político verdadeiramente revolucionário, sem concessões e sem conciliação. Chamamos todos ao combate, não apenas votando na Chapa Avante, mas somando-se às lutas no próximo período.
Some-se à Liberdade e Luta!