Avaliação e perspectivas para a greve na USP
Há mais de 1 mês de greve das 3 categorias, mais de 20 cursos estão em greve e a cada assembleia e há novos informes de paralisações, indicativos e adesão. A greve está tomando cursos que não paravam há muito tempo, como a Farmácia, embora não tenha se massificado de fato.
Há mais de 1 mês de greve das 3 categorias, mais de 20 cursos estão em greve e a cada assembleia e há novos informes de paralisações, indicativos e adesão. A greve está tomando cursos que não paravam há muito tempo, como a Farmácia, embora não tenha se massificado de fato.
Inspirada pelas ocupações de escolas por secundaristas, as ocupações de curso, por sua vez, não se expandem na mesma medida. Estas continuam estagnadas nos locais historicamente mais mobilizados, onde a discussão política e a organização dos estudantes são mais constantes. O fato é que as ocupações dessas unidades não pressionam a reitoria a atender as reivindicações. O que se tem visto são assembleias gerais esvaziadas, menores que a assembleia da qual deliberou a greve, pequenas para o momento, inclusive em relação a outras greves. O ritmo de mobilização é diferente em cada curso e nada indica hoje que as ocupações se estenderão. A tendência é que se desocupem, tal como foi a última decisão do curso de Letras.
É necessário a participação e ampla mobilização do conjunto dos estudantes. Somente pontuando as necessidades concretas dos estudantes é que será possível a mobilização em torno dos eixos por contratação de professores e permanência estudantil, problemas que os estudantes enfrentam atualmente, onde a reitoria congelou concursos públicos e aumenta o número de contratação de temporários em diversos cursos (ver mais em: http://www.adusp.org.br/index.php/carreira-docente/2524-agrava-se-a-falta-de-docentes-e-aumenta-a-contratacao-de-temporarios). Por ano, pelo menos 800 estudantes se inscrevem no programa de moradia estudantil dos quais apenas de 100 a 150 conseguem uma vaga.
Embora o eixo por cotas raciais tenha sido aprovado, ela não garante a entrada de todos os negros na universidade – e muito menos dos mais pobres, filhos da classe trabalhadora. Diante da situação de crise política e econômica nacional, onde só no ano passado foram cortados pelo menos R$ 8 bilhões da educação para serem revertidos a pagamento de juros e amortizações da Dívida Pública (dívida da qual não fizemos e nem devemos pagá-la) e apenas pouco mais de 9,5 mil vagas foram ofertadas para 142, 6 mil inscrições na Fuvest em 2016 – ou seja, mais de 70% dos inscritos ficam de fora da USP – é necessário lutar pela inclusão de todos. Esses dados mostram apenas aqueles que podem pagar pela taxa de inscrição e realizar o vestibular, nem contamos com os que não prestam a Fuvest porque sabem que não vão passar devido a péssima qualidade no ensino público nas escolas! O número dos ficam de fora aumenta ainda mais! Por tal motivo, o eixo correto, em vez de “Por cotas Já”, seria de “Vagas para todos nas universidades públicas”. É isso que tem potencial mobilizador e que unifica a luta de todos os estudantes em todos os níveis.
A ocupação da reitoria está fora de cogitação hoje pois há pouca força no movimento. No dia 16/6, antes da assembleia geral, houve uma ocupação da reitoria por parte de alguns coletivos pró-cotas. Entretanto, foi uma atitude isolada, que não tem o poder de substituir a política de massas estudantis, não ajudou na mobilização massiva para a greve e passou por cima da decisão da última assembleia. O resultado foi um cordão da tropa de choque cercando o prédio, inclusive a PM filmando e gravando enquanto se realizava a assembleia do lado de trás da reitoria. Nessa mesma assembleia, muitos coletivos e organizações políticas queriam legitimamente intervirem por comporem o movimento dos estudantes mas foram impedidas de falar nessa assembleia pois as inscrições foram fechadas sem esclarecimento à plenária. Depois de muita pressão, apenas se abriu a exceção de falas para pessoas negras intervirem, não importando sequer se eram estudantes! Ou seja, a discussão sobre os próximos passos para a negociação da greve foi colocada de maneira que o conjunto dos estudantes ficassem de fora da discussão. Após o término da assembleia geral ter votado pela não ocupação da Reitoria e dos blocos K e L, um grupo reduzido, numa atitude sectária e contraproducente, tentaram ocupar os blocos K e L. Resultado: a repressão da PM que estava ao redor foi em cheio às centenas de estudantes que moram no CRUSP (república da USP). Bombas e tiros foram atirados aos estudantes que ali resistiram, inclusive aos que nada tinham relação direta com a assembleia.
São atitudes como essa que o movimento estudantil precisa reavaliar e não cometer novamente. Será extremamente trabalhoso mobilizar novamente após essas atitudes que afastam o conjunto dos estudantes de discutirem, se conscientizarem, se mobilizarem para lutarem contra os problemas concretos e mais sentidos pelos quais estamos passando (falta de professores, planos de demissão voluntária, falta de vagas nas moradias estudantis e creches). Esse é o momento para se fazer isso: atividades, atos, panfletagens, aulas públicas, festivais, explicar pacientemente para envolver os estudantes em torno da greve e de sua importância.
As entidades estudantis e o comando de greve geral tem a tarefa de promover atividades nos cursos e mobilizar os estudantes para compor as assembleias gerais e de curso em torno das reivindicações, as reuniões de comando de greve e os atos. A assembleia precisa preparar melhor um grande ato unificado das três estaduais paulistas, dos funcionários, professores e secundaristas com o objetivo político claro de pressionar a Reitoria (Marco Zago) à negociação e contra a política de sucateamento e repressão do governo Alckmin. Para isso, é necessário fortalecer o comando de greve estadual elegendo os delegados na USP. É necessário fortalecer a aliança entre estudantes e trabalhadores, tendo em vista da ameaça da reitoria em cortar os pontos dos trabalhadores.
Dessa forma, fortalecendo a luta em um âmbito estadual e mobilizando os estudantes, toda a potencialidade da grande adesão dos cursos à greve e da conjuntura estadual poderá ser realizada. Com isso, as conquistas podem ser tiradas e o movimento estudantil poderá sair fortalecido da greve para combater os ataques muito provavelmente virão.