Cortes no investimento do INPE: ciência brasileira pede socorro
O INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) tem como projeto a promoção e execução de estudos, pesquisas e desenvolvimento tecnológico nos campos da ciência espacial e da atmosfera, meteorologia, engenharia e tecnologia espacial e busca influir positivamente na qualidade de vida da população brasileira e no desenvolvimento da ciência do país. Em 2018, o instituto teve o menor orçamento em pelo menos dez anos. Foram destinados apenas R$40,6 milhões para o instituto que em 2016 teve orçamento de R$149,8 milhões. Em entrevista para o G1, Ricardo Galvão, diretor do INPE, disse que o valor repassado cobre apenas o pagamento de salários, água, luz, contratos em andamento e contas de subsistência. O INPE é vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Telecomunicações (MCTIC), pasta do governo que sofreu um corte de 10% no orçamento de 2018 em relação ao ano anterior.
Os cortes representam um grave risco para a estrutura e os projetos do instituto, visto que os serviços de previsão de tempo no Brasil podem ser seriamente afetados. O supercomputador Tupã, que realiza este trabalho desde 2010 e já figurou na 28º posição no ranking dos 500 supercomputadores mais rápidos do mundo. Hoje, ele está no limite de capacidade já que o tempo médio de vida de um supercomputador é de 4 anos, entretanto ele continua sendo a principal fonte de previsão do tempo no Brasil. O supercomputador chegou a quebrar em 2017, como consequência, os dados de previsão do tempo foram liberados com informações defasadas. O INPE chegou a requisitar o pedido de troca, porém, sem dinheiro para a substituição, o equipamento continua sendo reparado paliativamente.
Outro projeto do INPE, o satélite Amazônia I, foi anunciado em 2009 para ser lançado em 2011, com objetivo de fornecer dados de sensoriamento remoto para observar e monitorar o desmatamento na região amazônica e também a agricultura em todo território nacional. Porém, devido aos constantes cortes no orçamento, a previsão de lançamento foi adiada para a data limite de 2019. Como os componentes possuem validade, eles começam a apresentar falhas e todo o investimento realizado fica comprometido, prejudicando assim, a modernização do trabalho que o INPE desenvolve a mais de vinte anos.
O MCTIC informou no início do ano, por meio de nota, que atua junto aos ministérios do Planejamento e da Fazenda para continuar garantindo as atividades. “O MCTIC está atuando junto aos Ministérios da Fazenda e do Planejamento pela garantia de recursos em 2018 para o cumprimento das atividades de órgãos vinculados à pasta. O Ministério ressalta o papel da pesquisa científica, imprescindível para o desenvolvimento econômico e social de qualquer país, como demonstra a história“, diz a nota.
Não podemos permitir e ignorar que a ciência continue sendo relegada. O INPE possui papel-chave na ciência brasileira e a situação é grave para o país pois setores fundamentais, como a agricultura e energia, utilizam as informações que o INPE produz e dependem dele para tomar decisões. Também entra em alerta os sistemas de prevenção de desastres e a defesa civil, que perde a capacidade de alertar a população em caso de catástrofes.
A mesma falta de investimento na ciência e cultura se mantém ao compararmos com o recente incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro. O capitalismo destroi fosseis milenares, museus, pesquisas, tudo em nome do lucro. Por isso esse sistema não nos serve mais e precisa ser derrubado.
É necessário manter a luta para que sejam revertidos os cortes orquestrados pelo governo. Cortes que são efetuados na educação, ciência e pesquisa, porém nada é feito com os juros e amortização da dívida que consome mais de 50% do orçamento federal. Por isso somos contrários ao pagamento da dívida pública e dizemos que todo dinheiro necessário deve ser investido à educação, a ciência e a cultura.
Junte-se a nós nessa luta!
*Ueslei é estudante do INPE e militante da Liberdade e Luta.