De pé a jovem guarda: UNE e UBES da fundação a degeneração

Este artigo foi originalmente publicado na brochura “A luta pela educação pública, gratuita e para todos: questões do movimento estudantil”, lançada no 2º Seminário Em Defesa da Educação Pública, Gratuita e Para Todos e que encontra-se disponível, em versão PDF e Yumpu, para baixar ao final deste artigo. Você pode contribuir para que possamos seguir publicando materiais como esse e para o auto financiamento de nossa organização, doando qualquer quantia através do PIX: jci.comunista@gmail.com. Boa leitura!

A juventude é a chama da revolução. Em todos os grandes momentos de revolta na luta de classes os jovens colocam sua disposição e energia, seja como a ponta de lança destes processos, seja integrando as fileiras da classe trabalhadora. Contudo, assim como na mobilização operária, as marcantes atuações das novas gerações se destacam quando estão organizadas, pois, com unidade os seus gritos de insurgência ecoam aos quatro cantos com mais veemência. Neste sentido, é preciso entender como surgiram, se desenvolveram e como estão a União Nacional dos Estudantes e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. 

UNE: a classe estudantil, sempre na vanguarda 

A União Nacional dos Estudantes (UNE) é a entidade mais importante do movimento estudantil brasileiro e a maior da América Latina. Seu surgimento data de 11 de agosto de 1937, em plena Ditadura do Estado Novo, no Rio de Janeiro, onde o antigo Conselho Nacional de Estudantes passou a se chamar UNE, justamente com o intuito de consolidar uma representação máxima para unidade e organização estudantil. 

O pioneirismo organizacional deu-se a partir de 1901 com a Federação dos Estudantes Brasileiros e, em 1910, com o I Congresso Nacional de Estudantes, realizado em São Paulo. A ampliação da atuação unificada por melhores condições de estudo, acesso à educação e liberdades democráticas, em uma República burguesa completamente excludente, fez a CNE crescer, envolvendo-se nas discussões políticas centrais do Brasil. Com as disputas entre burgueses e oligarcas que culminaram no golpe de Estado de 1930, dirigido por Getúlio Vargas, intensificou-se a luta de classes no país e, consequentemente, a politização entre os estudantes, tornando fundamental a formação de uma entidade que centralizasse suas reivindicações. Assim, a UNE passou a convocar congressos para decidir as políticas de suas direções, que passaram por transformações ao longo destes 84 anos de existência. 

Ressalta-se que a adaptação da direção da UNE ao Estado não é um acontecimento apenas do aparelhamento aos governos petistas, pois mesmo em sua fundação, o atrelamento entre direção e o Estado Novo eram grandes, como parte da política varguista de controlar as entidades de classe. Exemplo disto é a concessão do prédio do Clube Germânia, no Rio de Janeiro, para a sede da UNE, em 1942 (um manejo de Vargas contra os Integralistas), e o decreto-lei n° 4080 do mesmo ano, que oficializou a UNE como representação dos universitários brasileiros, sendo, portanto, uma dupla investida de Vargas buscando firmar aliança com a entidade, leia-se, a controlar a entidade. Apesar disto, evidentemente, a UNE não se resumia a sua direção, mas possuía grandes mobilizações da base estudantil, como em 1943, quando estudantes impulsionaram a entidade na organização de manifestações em todo o país contra a ditadura Vargas. 

Um destes atos foi feito pelo Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, chamado de “Passeata da Mordaça”, que termina com a violência policial assassinando o jovem Jaime da Silva Teles. A definitiva ruptura da direção da UNE com o Estado Novo se deu apenas em março de 1945 com a morte do estudante Demócrito de Souza Filho, no Recife, e com um comício contra o governo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Contudo, o rompimento não foi em uníssono na juventude de esquerda, porque a Juventude Comunista do Partido Comunista Brasileiro era adepta, ao lado do trabalhismo, do Queremismo – movimento que defendia a possibilidade de Getúlio Vargas se candidatar às eleições presidenciais de dezembro de 1945 e sua permanência no poder executivo. Mesmo assim essa ruptura possibilitou a ascensão de uma política socialista na UNE, especialmente com a direção de estudantes ligados ao Movimento pela Reforma Universitária da Faculdade Nacional de Direito, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a partir de 1947. 

Era quase a metade do século XX, permeado por conflitos políticos e bélicos tanto entre as frações das classes dominantes quanto entre os explorados de um país atrasado e dominado pelo imperialismo. Neste contexto, foi esta mudança de direção e a situação socioeconômica que fizeram explodir a primeira grande luta travada pela União Nacional dos Estudantes: o combate ao capital estrangeiro após a promulgação da Constituição de 1946. Esta pauta unificou-se na campanha “O Petróleo é Nosso”, que se estendeu até 1953 com a conquista da nacionalização e estatização desta riqueza com a criação da Petrobrás. O período marcou na história brasileira a capacidade que a juventude tem de auxiliar a classe trabalhadora na luta por nossos direitos e pela superação do estado de miséria gerado pelo capitalismo. 

Ainda nos anos 1950, a direção da UNE passou até mesmo para as mãos da direita, em especial ligada à União Democrática Nacional, mas voltou a ter um caráter combativo pelos jovens trabalhadores na segunda metade da década. Com o apoio de sindicatos operários contra as condições de vida, o aumento de passagens de bondes, entre outras pautas, também estava na linha de frente na defesa dos empregos e da indústria nacional. 

O pré-1964 é um período icônico na história brasileira. As reformas estruturais e a revolução estavam na ordem do dia. Nem os elementos contrarrevolucionários inseridos no movimento operário e estudantil tinham capacidade de calar os anseios das massas que exigiam mudanças profundas. O que faziam era tentar manipular as reivindicações com políticas conciliadoras entre burguesia nacional e proletariado. Essa correlação de forças, definitivamente, se fez presente nas políticas adotadas pela UNE, majoritariamente democrática-popular. Diante disso, as pautas da entidade somavam-se às Reformas de Base do Trabalhismo e demais partidos que compunham a Frente de Mobilização Popular, nesta tônica de conciliação. Porém, as massas trabalhadoras e estudantis estavam em ebulição e quanto mais se fervia a luta de classes, mais a política reformista naufragava.

Com tudo isso, a intimidação feita pelas forças reacionárias que realizaram o golpe militar de 1964 era frequente contra a UNE e seus militantes. Essas ameaças à legalidade da entidade se concretizaram com a primeira ação da Ditadura Militar, que foi incendiar a sede da União Nacional dos Estudantes, na Praia do Flamengo, na virada de 30 de março para 1° de abril daquele ano. Assim como foi feito com todos os combatentes da classe trabalhadora, a ditadura perseguiu, prendeu, torturou e assassinou jovens da UNE, além, evidentemente, de destiná-la à ilegalidade. 

Vigiando e punindo os estudantes nas universidades por todo o país, os militares pesavam o chumbo contra a juventude, que, apesar de todas as dificuldades, seguia buscando denunciar e derrubar o regime, ao lado dos trabalhadores organizados. O episódio auge desta atuação consciente na ilegalidade foram as massivas manifestações de 1968, ocorridas em todo o mundo, mostrando a necessidade da superação do sistema capitalista. As revoltas se davam de todas as formas, mas tinham como ponto de unidade a ira contra a repressão e a miséria geradas pelo capital. A Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, é um marco destas mobilizações, nas quais a UNE foi peça fundamental para que ocorressem. 

O recrudescimento da ditadura com o Ato Institucional n° 5, de 1968, aprofundou o golpe contra a classe trabalhadora e sua juventude. Invasões em congressos, com a prisão de milhares de estudantes, torturas e mortes, eram fatos cotidianos nas vidas dos militantes estudantis. Um exemplo é o presidente da UNE no começo dos anos 1970, Honestino Guimarães, que só teve seu atestado de óbito entregue à família em 1996. Além dele, inúmeros outros tiveram seu destino revelado apenas com a Comissão da Verdade, de 2011 a 2014.

No final dos anos 1970, a ditadura militar demonstrou enfraquecimento, devido a toda a mobilização da classe trabalhadora, abrindo a possibilidade da reestruturação da UNE, que obteve seu fruto com o 31° Congresso, realizado em Salvador, com 8 mil estudantes, em 1979. Este congresso é histórico para nossa luta no presente, pois reivindicou em seu Manifesto e na Carta de Princípios a libertação dos presos políticos, a solidariedade internacional com a classe trabalhadora e, fundamentalmente, a educação pública, gratuita e para todos! 

O Congresso, bem como a reorganização do movimento estudantil e o processo de redemocratização, foi fruto de campanhas como o “Abaixo a Ditadura” e do papel desempenhado pela antiga Liberdade e Luta, conjunto trotskista de jovens que rompiam com o stalinismo e defendiam a revolução neste período de enfraquecimento da ditadura. Por todo esse contexto, a relevância do 31° Congresso da UNE é cada vez maior, principalmente ao compararmos com a atual política da direção da entidade que defende tudo, menos a universalização da educação. Em nossos dias, esta luta é travada praticamente pela Liberdade e Luta, que coloca na ordem do dia todos os serviços públicos, gratuitos e para todos, sendo uma política realmente socialista e revolucionária. 

Os 21 anos de chumbo terminaram em 1984 com o processo de redemocratização, que poderia ter levado o Brasil à real democracia caso as direções operárias e estudantis não atuassem como freio para a revolta das massas trabalhadoras. Nas “Diretas Já”, foram inúmeras as intervenções da UNE convocando os estudantes às ruas, porém, sua direção foi uma das que exerceram esse papel de barrar os avanços necessários, por exemplo, ao apoiar a candidatura liberal de Tancredo Neves à Presidência da República. Nesta nascente da Nova República, foi aprovado no Congresso Nacional, em 1985, o retorno à legalidade da UNE.

No fim da década, nas eleições de 1989, a UNE atuou contra o programa apresentado por Fernando Collor de Mello, que apesar de vencedor, renunciou à presidência um dia antes da consumação de seu impeachment, em 1992, devido às monumentais manifestações da campanha “Fora Collor”, também protagonizada pelos estudantes e sua entidade. Porém, foi outro momento em que, não só a direção da UNE, mas principalmente a direção do Partido dos Trabalhadores foram barreiras para as mudanças que a classe trabalhadora e juventude brasileira precisavam. 

Os anos finais do século XX foram de intensas lutas levadas a cabo pelos trabalhadores e a juventude contra os governos ultraliberais do PSDB, liderados por Fernando Henrique Cardoso. Neste sentido a UNE lutou, em especial, contra o Provão (atual ENADE) e o aumento das mensalidades nas universidades privadas. A entidade reclama que este teria sido o segundo momento de menor diálogo entre Estado e UNE, atrás apenas da ditadura militar. Em uma simples afirmação, pode-se ver que a direção da entidade, de modo geral, já priorizava um atrelamento com o poder burguês. Porém, a força dos estudantes e a dinâmica da luta de classes fazem as direções romperem pactos, avançarem ou, ao menos, esconderem suas verdadeiras intenções para a manutenção de seu aparelho burocrático. 

Contudo, o auge da consolidação da burocracia estudantil na UNE, alinhada às políticas governamentais e sem diálogo com a base, democracia e defesa socialista, deu-se a partir de 2003 com os governos do PT. A eleição de Lula foi, de fato, um marco para a história brasileira, pois foi constituída por um partido operário e capilarizado por todo o país desde os anos 1970. Significava a esperança de um governo dos trabalhadores, que fora traída desde a formação da grande coalizão com frações da burguesia nacional, sintetizadas no vice José Alencar, do Partido Liberal, que, enfim, levaram Lula à presidência nas eleições de 2002. Nas universidades e nas ruas, a UNE convocou a juventude a apoiar o candidato do PT, assim como as demais entidades da classe trabalhadora, o que resultou em 53 milhões de votos para Lula contra o ex-presidente da UNE (1963-1964), José Serra, do PSDB. 

Os governos do PT, de Lula a Dilma Rousseff, além de sua continuação abertamente liberal representada por Michel Temer, em 2016, representaram os “avanços” que esta direção da UNE desejava: migalhas das reivindicações estudantis, ínfimos aumentos do acesso e permanência nas universidades, programas de bolsas e outras quinquilharias para tentar acalmar os ânimos agitados dos estudantes ávidos por seus direitos, liberdade e democracia. A direção majoritária da UNE, composta pelo PT, PDT, Consulta Popular, Levante Popular da Juventude e encabeçada há décadas pela UJS – braço da juventude do PCdoB, cada vez mais burocratiza a entidade para sua permanência na direção, afasta a base estudantil aparecendo nas universidades apenas nas vésperas de congressos e aparelha a entidade aos governos, desde as políticas do MEC aos acordos para obter o monopólio da carteirinha estudantil, entre outras situações. 

Assim, em nossos dias, a UNE é uma sombra do que foi no passado de luta, mesmo com suas oscilações, mas sempre empurrada pela base estudantil. Hoje ela não realiza nenhum combate concreto contra a Reforma do Ensino, contra a Lei da Mordaça, pela redução das mensalidades, pelo fim das taxas, pelo fim do vestibular e pelas aulas presenciais só com a vacinação para todos, com mais de 250 mil mortes no país pela Covid-19. Em suma, abandonou a luta pela educação pública, gratuita e para todos em favor de políticas de transferência de dinheiro público para os tubarões do ensino privado!

Seus Congressos são majoritariamente fraudados, não só pela direção majoritária, mas também engessados pela direção-geral, que impede os debates reais, favorecendo os governos e os tubarões do ensino privado. Em pleno governo Bolsonaro, sua “oposição” é fictícia, daquelas feitas para não mobilizar a juventude para pôr abaixo o governo Bolsonaro,  é mais uma ferramenta para a defesa das instituições do Estado burguês. Infelizmente, esta é a realidade desta monumental entidade com capacidade de colocar todos os jovens em luta pela derrubada deste sistema e pelo socialismo. Contudo, a direção não é a entidade. A entidade é uma conquista do movimento estudantil brasileiro que não deve ser abandonada. Não devemos criar nem participar de outras entidades nacionais, mas lutar pela reconquista da UNE dos estudantes para os estudantes novamente! Nossa tarefa é reconstruir uma juventude socialista capaz de estar sempre na vanguarda, como diz o hino da UNE, para os reais interesses dos estudantes, tal como devemos fazer com a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, entidade de outra fundamental história que precisamos conhecer.

A luta secundarista da UBES

O primeiro Grêmio Estudantil do Brasil foi fundado em São Paulo, em 1902, com caráter recreativo. Assim como na formação da UNE, no ensino primário a organização política dos estudantes foi crescendo a partir de 1910 e teve sua estruturação a partir de 1930, sendo diversos os paralelos da formação das duas entidades estudantis. A Constituição brasileira de 1934 trouxe a obrigatoriedade do ensino primário ao país, gerando uma expansão da rede de ensino e, consequentemente, a organização secundarista que se tornara a maior do país. Contudo, no Estado Novo a atuação desses estudantes ainda estava ligada com os universitários, somando-se ao combate contra a ditadura de Vargas, contra o nazi-fascismo e pela educação pública. 

A concreta fundação da união secundarista ocorreu no seio da campanha “O Petróleo É Nosso”, com o 1° Congresso Nacional dos Estudantes Secundaristas, na Casa dos Estudantes, no Rio de Janeiro, em 25 de julho de 1948. O encontro recebeu estudantes de praticamente todos os estados e elegeu a primeira diretoria. Naquele momento, a entidade se chamava União Nacional dos Estudantes Secundaristas – UNES, mudando para UBES no ano seguinte, 1949. Junto da luta pela estatização do petróleo, o primeiro grande enfrentamento da UBES foi contra o aumento das taxas escolares, a partir de 1950, provocando, inclusive, uma greve geral em São Paulo e no Rio de Janeiro. Assim como a UNE, a UBES foi crucial na Revolta dos Bondes de 1956, devido ao aumento das tarifas pelo governo Juscelino Kubitschek e defendendo o transporte público.

Como reflexo da luta de classes e da organização dos trabalhadores e universitários, o fortalecimento da UBES foi definitivo no pré-1964, com a criação de entidades representativas dos municípios e estados pelo país, aumentando a inserção da UBES. Desde a Campanha da Legalidade de 1961 até as Reformas de Base do governo João Goulart, tal como a UNE, a UBES teve papel fundamental na centralização das reivindicações dos jovens estudantes. 

A repressão foi cruel contra a UBES a partir da noite de 30 de março e 1° de abril de 1964. A Lei Suplicy de Lacerda colocou a UBES e os Grêmios Estudantis na ilegalidade, com esses adolescentes de luta passando a ser perseguidos e mortos pelo regime militar. O mais icônico foi justamente Edson Luís, o secundarista assassinado em 1968 nas grandes manifestações daquele ano. Edson Luís e seus companheiros lutavam contra o preço do restaurante estudantil, e seu velório fez mais de 50 mil pessoas irem às ruas contra a ditadura militar. Os anos de chumbo foram de profunda conexão dos secundaristas com os universitários, principalmente nos encontros nacionais clandestinos. 

Como vimos, a reconstrução da UNE ocorreu no bojo da campanha da Lei da Anistia e seu congresso ocorreu em 1979. Já a retomada oficial da UBES ocorreu em 1981, na cidade de Curitiba, em um congresso com inúmeras dificuldades em infraestrutura e pela repressão ainda presente nos últimos anos de ditadura militar. Mas, sem dúvidas, os momentos áureos da atuação militante da UBES foram pelas Diretas Já e no Fora Collor. Em 1984, os secundaristas estavam na vanguarda pela redemocratização do país, apesar de também sair em campanha direta para Tancredo Neves, em 1985. No mesmo período, foi aprovado no Congresso Nacional a Lei do Grêmio Livre, que garantia a reabertura destas organizações estudantis pelo país, e na Assembleia Constituinte, a defesa levada pela UBES foi o voto facultativo para jovens de 16 e 17 anos nas eleições. Mas foi em 1992 que a UBES demonstrou toda sua capacidade de mobilizar os secundaristas por todo o Brasil. Com as caras pintadas, a UBES levou o Fora Collor às escolas e arrastou multidões de estudantes contra o governo corrupto. 

As posições da UBES se assemelham às adotadas pela direção da UNE, especialmente referente aos governos a partir de Itamar Franco e FHC, que cortaram qualquer proximidade com as entidades. Neste sentido, as políticas compensatórias dos governos petistas também agradaram a burocracia formada na UBES. Entretanto, ao contrário disso, a UBES deveria se conectar com o movimento de milhões de jovens que estão dispostos a lutar por seu futuro no Brasil e em todo o mundo! Concretamente contra Bolsonaro e seus cortes nos serviços públicos, pelo passe livre para todos, contra a violência policial ainda mais legitimada por esse governo. Mas para tanto precisa dar fim a sua adaptação ao Estado e capitulação aos capitalistas!

A Liberdade é nossa meta, a Luta é nosso método

As histórias destas duas fundamentais entidades do movimento estudantil brasileiro são fontes inesgotáveis de ensinamento para nosso tempo, tanto em seus avanços e protagonismos, quanto em suas limitações e degenerações políticas impostas por direções que seguem, em última instância, a defesa do Estado burguês com seus enormes pactos de classes. Direções controladas pela política de PT e PCdoB que, apesar de serem oriundos de uma base operária, passaram, há tempos, para o lado capitalista da trincheira. Diante de todos esses elementos, a juventude precisa organizar-se sob bandeiras que realmente defendam nossos interesses e direitos, com uma política socialista e revolucionária. 

A Juventude Comunista Internacionalista, fração jovem da Organização Comunista Internacionalista, seção brasileira da Internacional Comunista Revolucionária, que será lançada em junho de 2024, apresenta a defesa integral da Educação Pública, Gratuita e para Todos! Não há outra política a ser adotada por organizações e direções do movimento estudantil, senão esta que garanta o acesso universal à educação, em todos os níveis de ensino e idades. Trata-se de uma reivindicação republicana, mas que na atual fase senil do capitalismo, torna-se uma defesa transitória para a derrubada desse sistema pobre que não oferece mais nada à juventude e toda a classe trabalhadora, a não ser a exploração, a repressão e a morte. 

Porém, como visto, as direções de UNE e UBES são, atualmente, barreiras para os estudantes de todo o país se mobilizarem por suas reais reivindicações, que na presente conjuntura, se sintetizam no Fora Bolsonaro, por um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais. Ambas as entidades, que já foram protagonistas no Fora Collor, demoraram praticamente um ano para adotar a bandeira do Fora Bolsonaro, mas quando adotaram, passaram a retirar dessa palavra de ordem o conteúdo revolucionário que continha. O intuito nada mais é que esfriar os ânimos e enquadrá-la aos aparatos do Estado, para que a possível queda de Bolsonaro seja feita pela própria ordem liberal, onde não se abra uma situação revolucionária. Essas direções sabem que nesta conjuntura as massas trabalhadoras e a juventude irão varrer esse sistema e, consigo, essas burocracias.

Com isso, a política da Liberdade e Luta é realizar a discussão política na base estudantil, na contramão do feito pelas direções das entidades, que não medem esforços para impedir o debate e a formação dos estudantes, até mesmo em seus Congressos, que se tornam apenas grandiosas festas financiadas pela burocracia e os partidos. Nossa tarefa é fazer um  convite a todos os jovens para levar a política pelo acesso universal à educação de escola em escola, universidade em universidade, renovando o movimento estudantil, mobilizando as bases e reconstruindo essas entidades, dos Grêmios e Centros Acadêmicos a UNE e UBES. Trata-se, fundamentalmente, de organizar as lutas em defesa da educação por meio da aliança operário-estudantil, onde possamos aprender com os métodos da classe trabalhadora. A juventude precisa enxergar o mundo com as lentes do proletariado e para isso trabalhamos, sem divisionismos, adaptações ou esquerdismos infantis que outras organizações acabam tendo ao se desligarem completamente destas duas enormes entidades. Neste quesito, é preciso salientar que ao nos ensinar a importância da unidade, a democracia operária também demonstra a necessidade do combate à  unicidade organizacional. Isso significa defender a livre associação dos estudantes, possibilitando a formação de mais de um grêmio estudantil, centro acadêmico, diretório central dos estudantes, etc., caso seja uma reivindicação dos estudantes. Evidentemente a nossa luta central é a unidade completa de estudantes e trabalhadores, contra a fragmentação dos movimentos, mas sem romper com a total liberdade da base.

A partir desta política, compreendemos que a superação do capitalismo se dá pela organização dos explorados e oprimidos, apresentamos a construção dos sindicatos de estudantes como a primordial tarefa para canalizar as reivindicações da juventude e lutar pelo socialismo. A formação destes sindicatos não deve ser para a eleição de dirigentes heroicos, mas para a que se realize as conversas com os estudantes, passe em salas de aula, convoque assembleias, produza e discuta materiais, organizando as discussões políticas para a juventude e sua completa independência financeira das direções, reitorias, governos e capitalistas. Sem fraudes em assembleias e eleições, como é constante nas instâncias das atuais direções de UNE e UBES. De maneira crucial, a democracia estudantil ocorre com as eleições das direções a partir de um programa político claro, sem tergiversações. Por isso a Liberdade e Luta não esconde suas posições e pautas, em todas as eleições estudantis em que disputa.

Não escondemos nossas posições e não baixamos nossas bandeiras pela total independência política e financeira que possuímos. Também defendemos isso para os sindicatos estudantis, pois impede a cooptação do movimento pelos burocratas, reformistas e contrarrevolucionários, como vemos nas direções da UNE e da UBES. Estes, por sua vez, são apenas plenos defensores das migalhas oferecidas pelo Estado e das instituições privadas de ensino para manterem seus cargos. Porém, os estudantes não precisam de autorização de nenhum poder além dos próprios estudantes, nisto consiste o combate a qualquer repressão e burocracia em nossas entidades. 

A independência financeira é fulcral, pois tudo que é produzido e realizado por nossos sindicatos deve ser financiado pelos próprios estudantes, a partir das passagens em sala, coletas e campanhas de arrecadação. Dizemos não ao dinheiro de empresas, governos, instituições de ensino e os demais inimigos da classe trabalhadora. As contribuições dos estudantes devem ser espontâneas, por concordarem com a política da direção e estarem convictos em construir o seu sindicato. Por isso também combatemos a política de descontos compulsórios das mensalidades ou repasses das reitorias aos centros acadêmicos e DCEs bem como a política de carteirinhas estudantis, que, na prática, forma uma máfia liderada pela UNE e a UBES, vendendo os direitos dos estudantes. 

Essas defesas são frutos de uma política socialista e revolucionária, não há outra possibilidade para o movimento estudantil conquistar nossos direitos. Por isso o engajamento dos sindicatos estudantis deve estar no combate ombro a ombro da classe trabalhadora, nas lutas nacionais e internacionais, na luta pelo socialismo. A Carta de Princípios do Congresso de refundação da UNE, de 1979, apontava diversas bandeiras levantadas por nossa política, mas foi rasgada pela burocracia das organizações que compõem a direção da entidade. Retomar a Carta de Princípios da UNE só se faz possível combatendo essas direções, igualmente construindo os sindicatos de estudantes com a política apresentada, resgatando essas entidades para o controle democrático dos estudantes. A burocracia se combate com democracia e um sólido programa socialista, assim fazemos, com a Liberdade sendo nossa meta e a Luta nosso método!

  • Referências:
  • Campanha Público, Gratuito e Para Todos. Por uma Educação Pública e Gratuita para Todos. Esquerda Marxista, 2015. Disponível em: <https://www.marxismo.org.br/por-uma-educacao-publica-e-gratuita-para-todos/>. Acesso em: 25 fev. 2021.
  • Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Verbete: União Nacional dos Estudantes. Disponível em: <www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/uniao-nacional-dos-estudantes-une>. Acesso em: 25 fev. 2021. 
  • Liberdade e Luta. Congresso da UNE: Construir a Liberdade e Luta, tendência revolucionária da juventude. Esquerda Marxista, 2019. Disponível em: <https://www.marxismo.org.br/congresso-da-une-construir-a-liberdade-e-luta-tendencia-revolucionaria-da-juventude/>. Acesso em: 25 fev. 2021.
  • Liberdade e Luta. Construir os Sindicatos de Estudantes. Liberdade e Luta, 2018. Disponível em: <liberdadeeluta.org/node/337>. Acesso em: 25 fev. 2021. 
  • UBES. História. Disponível em: <https://ubes.org.br/memoria/historia/>. Acesso em: 25 fev. 2021.
  • UNE. História e Memória. Disponível em: <https://www.une.org.br/memoria/>. Acesso em: 25 fev. 2021. 
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