Devemos lutar pela permanência estudantil nas universidades privadas?
O Estado e as universidades privadas no Brasil com suas políticas de ingresso e “permanência” no ensino superior são apenas uma caricatura de democratização.
As políticas de permanência estudantil têm a finalidade de destinar recursos e ferramentas para que o estudante possa concluir o ensino superior. Os auxílios, que são mecanismos para assegurar o melhor aproveitamento do aluno, podem ser financeiros, mas também de ordem pedagógica e psicológica. Por outro lado, o que vemos é um cenário de dificuldades da juventude e da classe trabalhadora em ter acesso completo ao ensino superior público, gratuito e para todos.
A taxa de jovens entre 18 e 24 anos no Brasil matriculados em um Institutos de Ensino Superior (IES) é de 17,6%. Na Argentina e na Colômbia essa taxa ultrapassa os 30%. Segundo o Mapa do Ensino Superior no Brasil, do Sindicato das Mantenedoras do Ensino Superior (Semesp), cerca de 60% dos alunos da rede privada trancam, transferem ou desistem da universidade em até cinco anos. Além das altas mensalidades, custos com materiais, equipamentos, alimentação, moradia, transporte e livros são os motivos que elevam o índice de desistência.
Os cursos de maior evasão são os de Licenciatura e Engenharias. Os primeiros são trocados por cursos de interesse mercadológico. Dada a desvalorização dos cursos de Filosofia, História, Letras e tantos outros, os estudantes não veem perspectiva de trabalho, tampouco incentivo à pesquisa. Já os cursos de engenharia pressupõem que o estudante tenha uma boa base no ensino fundamental e médio das matérias de matemática e física, por exemplo, elemento que não encontramos no ensino público. Além disso, o curso de engenharia impõe alto investimento em materiais e equipamentos, o que faz com que muitos estudantes de baixa renda desistam do curso.
A ausência de laboratórios que atendam a demanda, computadores para todos em horário flexível, a falta de refeitórios e restaurantes universitários para que os estudantes possam se alimentar adequadamente por um valor acessível e a negligência em oferecer espaços culturais e de lazer fazem com que uma parcela significativa tenha um péssimo rendimento na universidade. Mães estudantes também são apartadas deste ciclo, não tendo creche universitária para deixar seus filhos.
“Cursos de férias” cobrados, inexistência ou baixa oferta de bolsas de pesquisa e ensino nas privadas são entraves para o desenvolvimento dos estudantes, e por isso, do próprio campo científico no país.
As consequências de uma busca incessante pelo lucro são a proliferação de IES privados sucateados, sem estrutura, formação em massa de profissionais despreparados e um isolamento maior da classe trabalhadora e da juventude ao acesso à educação superior. O resultado disso é a criação de fábricas de diplomas e assim aumentar cada vez mais a extração de mais-valia de uma mão de obra qualificada e ao mesmo tempo barata.
Não basta políticas de ingresso, precisamos de uma verdadeira permanência estudantil.
Muito se fala sobre a democratização do ensino superior através de programas como o PROUNI e o FIES, mas a verdade é que esses programas criaram um acesso parcial ao ensino superior e sua limitação encontra-se na manutenção do vestibular, no baixo número de vagas ofertadas e principalmente, na destinação de dinheiro público para as universidades privadas, ao invés de garantir o aumento de vagas e de estrutura nas públicas. Esses programas não fazem com que as universidades privadas proporcionem melhores condições de estudo e permanência. Não estamos falando ainda da maioria dos estudantes que estão à margem da universidade, por não ter condições de pagar as mensalidades abusivas destas instituições e quando conseguem pagar, são desmotivados a continuar por não ter como custear outras despesas com o estudo. O próprio programa está em xeque! A previsão é que diminua cada vez mais o número de vagas.
A nossa luta nas universidades privadas
Não queremos que milhões de estudantes sejam vítimas da lógica ‘‘de quem não pode pagar, não deveria fazer universidade’’, como disse o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), tentando justificar seu voto a favor da PEC 241. Queremos uma educação onde nenhum jovem precise prestar vestibular, onde todos possam ter direito a educação em todos os níveis sem se preocuparem com mensalidades, custo de materiais, livros e permanência estudantil. É preciso combater a privatização do ensino superior, por isso apresentamos um conjunto de reivindicações que ajudam os jovens estudantes e trabalhadores das universidades privadas a se organizarem e resistirem na luta por uma educação pública, gratuita e para todos!
Neste sentido, a nossa luta por permanência estudantil se resume nas seguintes reivindicações:
Tarifa Zero!
Por creches em todos os IES!
Bandejão público, gratuito e para todos!
Fim do pagamento da dívida interna e externa, para os investimentos necessários na educação!
Pela redução das mensalidades!
Educação Pública, Gratuita a Para Todos!