Estudantes de Glasgow rejeitam a “alt-right” (“direita-alternativa”)
As eleições para Reitor da Universidade de Glasgow, na Grã-Bretanha, atraíram a atenção da mídia esse ano, com a candidatura da celebridade “alt-right” Milo Yiannopoulos. O partidário racista, sexista, transfóbico e completamente reacionário de Trump recorreu a críticas enquanto despreocupadamente insultava os estudantes, o quadro de funcionários e pedia a proibição da sociedade muçulmana.
Apesar de endossar a proibição e de sua campanha ter destruído os cartazes de outros candidatos, Yiannopoulos afirmou que sua candidatura estava toda centrada sobre “liberdade de expressão”. De acordo com a visão de mundo alt-right, as universidades são ambientes opressivos onde os homens brancos e heterossexuais são vitimados por professores envolvidos na conspiração “Cultural-Marxista”, para destruir a civilização Ocidental (pasmem). Nessa fantasia bizarra, os alt-right são virtuosos cavaleiros brancos armados com a liberdade de expressão.
Nas mãos de Yiannopoulos e de seus seguidores, contudo, a liberdade de expressão não é uma arma para libertar, mas para oprimir. É uma desculpa para desviar a crítica de suas ideias venenosas. É como os tabloides britânicos que gritam “liberdade de expressão” quando flagrados por publicar mentiras e distorções. Isto realmente significa a liberdade da classe dominante de influenciar com exclusividade o público com seu aparelho ideológico. A verdadeira liberdade de expressão é liberdade para os oprimidos e marginalizados serem ouvidos e lutar. Yiannopoulos e os alt-right são covardes diante desta liberdade, escondidos atrás da proteção do estado burguês e do anonimato online.
Os apelos superficiais à liberdade de expressão estão em contradição com as ideias teimosas e orgulhosamente reacionárias da alt-right, que rejeitam os valores liberais como liberdade de expressão e tolerância. Velhos relatos da mídia social revelaram que Yiannopoulos costumava ser um completo neonazista que acariciava o “Mein Kampf” de Hitler e que acreditava na teoria da conspiração “Judeu-Bolchevique”, um antissemita e anticomunista. Esse lixo velho – um pilar do nazismo – é agora rebatizado como a conspiração “Cultural-Marxista”.
Homem de confiança da direita
Milo Yiannopoulos fez o seu nome como uma pessoa turbulenta e pretensiosa e de confiança da direita. Recentemente, ele viajou aos EUA para instruir estudantes conservadores sobre como denunciar os seus colegas como imigrantes ilegais e conseguir que fossem deportados. No ano passado, ele roubou os seus próprios admiradores arrecadando mais de 250 mil dólares para um falso “Privilege Grant” – destinado a ser uma bolsa universitária para homens brancos – e guardou o dinheiro para si mesmo. Ele também escreveu um livro de poesia sob o nome de “Milo Andreas Wagner” que plagiava quase que totalmente letras de canções e algumas linhas da série de TV “Buffy the Vampire Slayer”. Tratem de permanecer sóbrios e não rir!
A boca grande de Yiannopoulos finalmente o denunciou quando ele fez comentários em apoio à pedofilia. Vítima de abusos na infância, Milo assegurou que foi uma experiência positiva que o ajudou a entrar em termos com sua própria homossexualidade. Isto foi em meio a uma diatribe atacando a ideia de consentimento nas relações sexuais e augurando que ele poderia ser “curado” de ser gay.
Depois de todos os seus ataques intolerantes aos muçulmanos, imigrantes, pessoas transgênero e outros, essa foi a gota d’água. Yiannopoulos foi demitido de seu emprego em Breitbart.com – uma website conservadora estadunidense de “notícias falsas” e de teorias da conspiração que ganhou atenção devido à designação de seu fundador, Steve Bannon, a uma posição influente na administração Trump. A inglória demissão de Yiannopoulos foi, de forma irônica, forçada à empresa pelas ameaças de uma greve do staff de Breitbart.com!
Em questão de horas, Yiannopoulos também perdeu seu contrato com o livro e foi posto de lado pelos conservadores tradicionais, que recuaram de seu convite para ele falar na Conferência da Ação Política Conservadora. Com sua carreira em frangalhos, um punhado de estudantes em Glasgow decidiu tentar puxá-lo da lixeira e nomeá-lo Reitor.
Eleição do Reitor
A tentativa de Yiannopoulos de voltar foi completamente anulada pela esmagadora vitória de Aamer Anwar na eleição do Reitor. Anwar – um famoso advogado escocês dos direitos humanos e ativista antirracismo – conquistou mais da metade dos votos preferenciais e sua vitória foi saudada como uma declaração contra a intolerância de Yiannopoulos. Ele foi também retroativamente etiquetado como o “candidato da unidade”, apesar do fato de que os dois sindicatos dos estudantes na Universidade de Glasgow apoiassem outra candidata, a juíza Lady Cosgrove. O apoio a ela secou rapidamente quando descobriram que está, no momento, tratando de conseguir que uma refugiada estudantil seja deportada – enquanto afirmava que protegeria os estudantes se fosse eleita Reitora.
Nós, da Sociedade Marxista, apoiamos a campanha de Brace Belden. Conhecido através de seu Twitter “LENIN_LOVER69”, Belden é um voluntário socialista estadunidense que luta na linha de frente na Síria com as forças Curdas de Rojava. A campanha ofereceu aos estudantes uma oportunidade de votar em solidariedade à luta do povo Curdo contra ISIS e de enviar uma mensagem à Universidade de que rejeitam a representação simbólica elegendo um Reitor ausente.
A campanha de Belden ressoou em muitos estudantes que estão frustrados com o terrível estado da política estudantil em Glasgow. Todos os nossos três sindicatos são dirigidos por camarilhas separadas que evitam as ideias políticas e não oferecem nenhuma oposição à agenda de precarização da administração da Universidade, aos aumentos das taxas e à privatização. No entanto, a repugnante candidatura de Yiannopoulos atalhou este descontentamento, visto que muitos compareceram à votação para votar contra ele.
Um sintoma da doença
Milo Yiannopoulos constantemente se desculpa de seus comentários assegurando que ele é “apenas um troll” [uma pessoa que se comporta sistematicamente para desestabilizar, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas em uma discussão – NDT]. Longe de desviar a crítica, esta admissão revela a verdade sobre ele e outros alt-right de papo cabeça. Não são os insurgentes políticos de extrema-direita como faz crer sua propaganda. São uma franja, um incômodo menor que se esgueirou no palco devido à obsessão da mídia dominante de tentar encontrar uma influência maligna externa que elegeu Trump e lançou o sistema político estadunidense no tumulto.
A onda da reação não vem de cantos obscuros da internet, nem da intromissão da Rússia, mas da podridão do capitalismo estadunidense e da sociedade burguesa. Trump é membro da elite estadunidense que se tornou trapaceira e que se baseou em uma aliança instável da ala protecionista do capital estadunidense e de setores confusos e enfurecidos da classe trabalhadora. A burguesia estadunidense está tão próxima de uma divisão aberta como nunca esteve desde a Guerra Civil. Sem uma posição independente da classe trabalhadora e as ideias do marxismo, seremos pegos no meio.
O capitalismo está enfermo. Donald Trump, Milo Yiannopoulos e suas fantasias reacionárias são o sintoma. O socialismo é a cura.
Publicado originalmente em 27 de março de 2017 no site www.marxist.com. Tradução: Fabiano Adalberto.