Juventude se radicaliza no Brasil, França e em todo o mundo
Os estudantes do estado de São Paulo voltaram a entrar em cena. Na última quinta (28/4) o Centro Paula Souza (CPS), sede da administração das Escolas Técnicas de São Paulo (ETECs), foi ocupado por centenas de estudantes que exigem o fim da corrupção da merenda, merenda em maior quantidade e qualidade e são contra o corte de verbas na educação.
Os estudantes do estado de São Paulo voltaram a entrar em cena. Na última quinta (28/4) o Centro Paula Souza (CPS), sede da administração das Escolas Técnicas de São Paulo (ETECs), foi ocupado por centenas de estudantes que exigem o fim da corrupção da merenda, merenda em maior quantidade e qualidade e são contra o corte de verbas na educação.
A ocupação do Centro Paula Souza se espalhou para mais ETECs e, até o momento em que escrevemos este texto, cerca de 14 escolas técnicas estão ocupadas. Além disso, um grupo de estudantes secundaristas ocupou, no dia 3 de maio, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) e sustentam que permanecerão no local até que seja instalada a CPI da Merenda. Essas ocupações em São Paulo se somam a mais de 70 escolas no estado do Rio de Janeiro e as ocupações contra o descaso com a educação pública no Ceará.
Jovens do país inteiro estão demonstrando a indignação que existe com a atual situação. Vivemos constantes mudanças desde as jornadas de junho de 2013. No ano passado, estudantes secundaristas de São Paulo derrotaram a reorganização de Alckmin ocupando mais de 220 escolas. Essas ocupações ganharam apoio não só de estudantes do país inteiro, como da população em geral. Em Goiás os estudantes ocuparam escolas no final do ano passado e início deste ano lutando contra a implementação de Organizações Sociais (OSs) na administração das escolas públicas. Um ataque absurdo à educação pública que inicia o processo de privatização, acaba com o concurso público e coloca os professores sob regime da CLT, ou seja, os professores perdem a estabilidade. O que existe é um sentimento de mal estar generalizado no país por conta dos desdobramentos da crise do capitalismo. Os cortes, as privatizações e demais ataques são consequências diretas da crise. Os jovens sentem na pele esses sinais, pois são a camada mais sensível da sociedade. Mas quando os trabalhadores entrarem em cena a situação mudará bruscamente.
Em uma música divulgada através de vídeo pelo Facebook, os estudantes que ocupam o Centro Paula Souza mandaram um recado para a sociedade: “Mãe, pai, tô na ocupação e só pra tu saber eu luto pela educação!”. Os estudantes lutam para defender aquilo que é seu por direito.
Máfia, cortes e repressão
A descoberta da Máfia da Merenda indignou estudantes, pais e professores; a sociedade em geral. Essa máfia montou um esquema de fraudes na compra de produtos agrícolas destinados à merenda escolar. Os alimentos eram fornecidos pela Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (COAF), sediada em Bebedouro-SP. Esse esquema de corrupção e superfaturamento no fornecimento de alimentos para merenda escolar envolve mais de 150 municípios do Estado de São Paulo. Segundo funcionário da COAF que denunciou a fraude, a cooperativa contratava “lobistas” que atuavam junto aos governos e prefeituras, pagando propina a agentes públicos em troca de favorecimento em contratos. O maior deles é com a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. De acordo com o Ministério Público, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) pagou R$ 7,7 milhões à cooperativa no último ano, enquanto as merendas nas escolas estaduais estão cada vez piores.
Além disso, as ETECs sofreram um corte de mais de 78% das verbas nos últimos três anos. Isso afeta diretamente nas merendas desses jovens. As ETECs são escolas em que uma parte dos estudantes permanecem por 8 horas diárias, não é possível um jovem passar o dia nessa escola sem comer direito e aprender algo. A forma que os estudantes encontraram para não passar fome em algumas das ETECs foi organizar um espaço para esquentar marmita nas escolas.
Mas a luta dos estudantes não é só por comida. O corte de verbas afeta outras áreas. Faltam livros, materiais para trabalhos escolares, papel higiênico, materiais de limpeza, os laboratórios são sucateados etc. Há um corte também no quadro de funcionários, o que prejudica a qualidade do ensino e de limpeza e manutenção do ambiente.
Diante de tudo isso, como Geraldo Alckmin reage a esta situação? A sua resposta foi dada através de Alexandre de Moraes, secretário de segurança pública, na manhã de 2 de maio quando tropas de choque da Polícia Militar invadiram o CPS e ameaçaram tirar os estudantes. A tentativa falhou porque a PM não tinha um mandado de reintegração de posse, que já foi concedido dois dias depois. Essa foi a única resposta que Alckmin concedeu aos estudantes que ocuparam suas escolas e é a única capaz de oferecer.
UBES, UNE e UPES tentam desviar o combate para a via institucional
A pressão exercida pelos estudantes que combatem e ocupam suas escolas não só afeta Alckmin e demais governantes que atacam a educação. As entidades tradicionais do movimento estudantil que estão atreladas até a medula com o Estado precisaram se mexer.
A ocupação de secundaristas na ALESP dirigida pela UBES e UPES, principalmente, busca direcionar o debate do desvio de verba pública relacionada às merendas para as vias institucionais. No primeiro dia da ocupação, Carina Vitral, presidente da UNE, compareceu na ALESP e, junto de Camila Lanes (Presidente da UBES) e Emerson Santos (pres. UPES), os 3 militantes da UJS (organização de juventude controlada pelo PCdoB), deu a linha deles: CPI das Merendas.
Essa é a proposta dessas direções burocratizadas, levar uma reivindicação que saiu das escolas, das ruas, para as mãos do parlamento burguês. É óbvio que uma CPI da Merenda conduzida pelos deputados burgueses e corruptos da ALESP não vai resolver o problema da corrupção no estado de São Paulo e não vai acabar com a máfia que hoje lucra com o dinheiro público.
A UBES quer usar essa palavra de ordem como válvula de escape para esse movimento maravilhoso organizado pelos estudantes secundaristas. Muitas pessoas bem intencionadas estão acompanhando a ocupação de perto e alguns se dirigiram até a ALESP para prestar seu apoio. Mas os estudantes não vão se deixar enganar. Todas as ocupações que estão ocorrendo, inclusive na ALESP, merecem e precisam de nossa solidariedade. Porém, suas direções traidoras, com seus objetivos escusos, precisam ser denunciadas e suas “reivindicações” combatidas. Não queremos CPI da Máfia da Merenda. Não nutrimos ilusões neste parlamento podre de onde saem deputados que hoje roubam a merenda das escolas. Queremos tirar do Estado burguês o controle da merenda e da educação como um todo. Uma Assembleia Popular formada por professores, estudantes e pais de estudantes poderia ser o início de controle popular sobre a educação. As ocupações de escolas mostram o caminho. É preciso unificá-las para expandir o controle popular para além dessa ou daquela escola, para todo o sistema de educação. Só assim será possível acabar com a corrupção.
A fraqueza do movimento do ano passado que levou a mais de 220 escolas ocupadas foi sua incapacidade de unificar todas as ocupações, todos os estudantes em luta contra o governo. Não podemos repetir o mesmo erro. É preciso construir a unidade.
França, Brasil e México, sintomas de um sistema em decadência
Os estudantes do Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e de diversos cantos do mundo estão dando um grande exemplo de como se combate a crise mundial do capitalismo. É preciso sair às ruas e lutar contra todos os ataques, lutar por nossos direitos.
Na França, um movimento de ocupação de praças com participação massiva da juventude, as Noites em Claro (Nuits Debout), lembram os Indignados da Espanha, o Occupy Wall Street nos EUA, a juventude da Praça Tahrir no Egito. A cada noite, as praças de diversas cidades da França, se transformam em um grande encontro onde se expressa a rejeição a um sistema falido e que beneficia somente uma pequena minoria da população (os “1%”).
No México, os estudantes do Instituto Politécnico Nacional (IPN), realizaram greves nas “vocacionales” e manifestações em Abril com mais de 15 mil estudantes nas ruas da Cidade do México. Os estudantes mexicanos combatem as reformas educacionais que são ataques aos direitos trabalhistas dos funcionários do IPN e o desmembramento do Instituto Politécnico, que visa dividir as bases estudantis que já não podem mais ser controladas e estão em constante mobilização.
Acabamos de ver no Chile milhares de estudantes nas ruas enfrentando a repressão do Estado em sua luta pela educação.
Situações semelhantes se repetem pelo mundo. A insatisfação é geral com o capitalismo, que é responsável pela miséria e sofrimento dos 99% da população mundial. As direções reformistas traidoras buscam canalizar os movimentos para desestabilizá-los, mas essas mesmas direções acabam se desmoralizando.
Os jovens que lutaram na França em Maio de 68 deram uma importante lição para o mundo. Eles eram a antecipação da explosão de trabalhadores indignados. O que estamos assistindo hoje é um prelúdio do que está por vir. Hoje a juventude sai às ruas e luta até o fim contra esse regime, amanhã será a vez dos operários se juntarem aos jovens e ajudá-los a construir um novo mundo.