Manifesto pelas liberdades democráticas e pela arte nas escolas
CAMPANHA EM DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA, GRATUITA E PARA TODOS!
Apresentação
A campanha a seguir se faz necessária como instrumento deste manifesto em razão dos fatos recentemente ocorridos em Florianópolis em que os muros de uma escola, coloridos pelos próprios estudantes durante um projeto interdisciplinar, foram alvos de ataques da extrema direita, censurando as liberdades democráticas nas práticas pedagógicas.
No dia 08 de agosto de 2020, Cyntia Batista divulgou um vídeo gravado em frente a Escola Básica Municipal Luiz Cândido da Luz, no bairro Vargem do Bom Jesus, em Florianópolis. Sua fala ofensiva desqualificava de forma infundada o trabalho artístico realizado pelos estudantes dessa instituição de ensino, evidenciando seu desconhecimento em relação ao projeto que deu origem à pintura executada nos muros e seu desrespeito aos temas abordados. Apresentando-se como defensora de uma ideologia que supostamente preza por igualdade, seus dizeres explicitavam o discurso conservador e a tentativa de atingir os profissionais e a comunidade escolar, destilando acusações contra. Vamos lembrar que a pessoa citada é pré candidata a vereadora em Florianópolis pelo Patriotas 51.
A pintura atacada pela bolsonarista é fruto de um projeto interdisciplinar desenvolvido em 2019 pelos professores da instituição, intitulado de “Cidadania e multiculturalismo para além dos muros da escola”, com idealização e curadoria feita pela Professora de Artes, que ajuda a construir o Movimento Mulheres pelo Socialismo na cidade, e, por motivos compreensíveis, não terá seu nome mencionado.
A contragosto dos defensores da censura, no dia 13 de agosto a Escola pôde se pronunciar às famílias anunciando o projeto como semifinalista do “XXI Prêmio arte na escola cidadã” – o maior prêmio de arte-educação do país.
“Baseada na percepção de que infelizmente a arte ainda é um conhecimento muito elitizado e distante das periferias e dos estudantes, o projeto faz uso de técnicas inspiradas na arte urbana, especificamente no grafite e seus princípios, para criar lindos murais que possibilitem tanto a aquisição de saberes artísticos significativos aos estudantes, como também demonstrar a potencialidade da arte visual para o desenvolvimento da sensibilidade, da empatia e da cidadania. Por isso, mostra a arte como um meio de expressão da fala, das ideias e conhecimentos para se alcançar reflexões importantes de nosso tempo, como a destruição ambiental, a necessária igualdade de direitos, a valorização das identidades culturais e denunciar os diversos tipos de discriminação, como o racismo e o machismo, ainda fortemente presentes em nossa sociedade” (EBM Luiz Cândido da Luz).
Um projeto desse porte é fruto do árduo trabalho e muita dedicação de profissionais que, mesmo atacados e desvalorizados, cumprem seu dever para com a sociedade. São capazes de olhar o grupo escolar em suas mais diversas maneiras de pensar e de viver e em todas as diversas experiências que cada família traz para compor com o conhecimento formal proposto pelas normativas institucionais da educação brasileira.
O projeto representa ainda o esforço dos professores e profissionais envolvidos em garantir que a educação ofertada a estas crianças e adolescentes forneça os mecanismos para que eles possam não apenas aprender a ler e escrever, mas para que se tornem capazes de refletir sobre suas realidades a fim de transformá-las. A escola continua sendo um espaço de pluralidade e democracia no manejo dos conteúdos disciplinares e na formação de opiniões e, nesse contexto, por mais que os professores e professoras da rede pública tenham determinada autonomia em suas práticas é importante salientar, para quem ataca o projeto, que elas são sempre pautadas pelas matrizes, diretrizes e currículos referentes a cada etapa da educação básica e não feitas ao gosto do professorado.
Quando falamos em projeto interdisciplinar estamos falando de um trabalho coletivo envolvendo professores de diferentes disciplinas que, para executar e finalizar tal iniciativa, precisaram de muito estudo, muito diálogo, muita pesquisa e, sem dúvida, de muitas horas de trabalho, quase sempre para além do que são remunerados. Esse movimento não é feito apenas, como diz o jargão romântico, por “amor à educação”, esse movimento é necessário para que se ofereça o mínimo de qualidade na educação, confirmando que só as iniciativas e os investimentos atuais não dão conta da demanda das escolas.
Mesmo com os desafios postos, os profissionais da Escola Luiz Cândido da Luz conseguiram alavancar os conteúdos trabalhados em sala, com a metodologia de ensino de artes expressos, por fim, no grande mural que colore os muros da escola. E os protagonistas desse grande projeto são os estudantes que, instigados pela curiosidade histórica, geográfica e científica, pensaram e refletiram realidades e teorias que ganharam cores e contornos mais tarde no trabalho artístico.
Pessoas da área da educação ou interessadas pelo tema, sabem o quanto precisamos de maleabilidade e diálogo dentro de um espaço educacional, para abordar todos e quaisquer temas. Mas não são essas as pessoas que atacam os afazeres dos profissionais da educação. E isso precisa ser falado! São politiqueiros oportunistas que querem surfar em uma ideia “anti-esquerda”, propagada nas últimas eleições por candidatos que abertamente se colocavam contrários às liberdades democráticas e aos interesses da classe trabalhadora. São estes politiqueiros, sem qualquer vivência ou conhecimento de causa, sem qualquer inserção na realidade concreta dos envolvidos no processo educativo, que humilham toda uma comunidade escolar engajada e resistente.
Além da já citada pré-candidata a vereadora, se encontra o deputado catarinense Jessé Lopes do PSL, que no dia 15 de agosto foi a público em suas redes sociais para disseminar as ideias contidas no vídeo de Cyntia, acusando a Escola de doutrinação. Jessé aumenta o tom fascistóide e vai fundo nos ataques aos temas das pinturas, ameaçando protocolar moção de repúdio contra a escola e pedindo indicação ao governo de “reparo” dos muros daquele ambiente escolar.
Jessé atacou não só o trabalho da Professora de Artes, ou do grupo do Projeto Interdisciplinar, ou ainda da Gestão da Escola. O deputado atacou não só personagens da história mundial, mas atacou as liberdades democráticas. Atacou não só os adolescentes e estudantes, mas todas as famílias diretamente envolvidas no Projeto. Ele atacou não apenas uma comunidade educativa, mas todos os profissionais dessa rede de ensino.
Não satisfeito o deputado Jessé Lopes ataca toda a classe trabalhadora ao tentar deturpar os fatos sob o discurso de que a morte de Marielle (parlamentar assassinada em 2018, cujo rosto compõem as pinturas do muro) foi utilizada “para alimentar a velha narrativa ‘das lutas de classe’[…] dizendo que Marielle morreu por ser pobre, negra, homossexual e da periferia”. Porque a classe trabalhadora sabe e sofre na pele a violência do Estado e por isso não existe nada mais novo, vivo e efervescente que a luta de classes, a forma pela qual superaremos o tipo de sociedade defendida por pessoas como esse deputado.
Qual a preocupação real que estes politiqueiros tem com relação à educação de nosso país? Eles não se preocupam com as condições precárias dos edifícios escolares, com a falta de alimentação escolar ou materiais básicos de higienes nas unidades de educação e nem mesmo com a saúde e condições de trabalho dos professores e demais profissionais da educação.
Em sua falácia o deputado Jessé afirma, sem base nenhuma, que as personagens retratadas na pintura da escola não representam nem 10% da população catarinense. Transfere seu posicionamento político conservador para o que compreende de arte, colocando-na a serviço do que seria a “maioria”, mas que na verdade de maioria só tem o poder aquisitivo e financeiro sobre os meios de produção, pois nada é maior que a (força da) classe trabalhadora.
Assim como os números da última eleição presidencial não expressam a aproximação dos trabalhadores brasileiros com as políticas de Bolsonaro, tão menos os números de eleitores em Florianópolis e Santa Catarina representam algum tipo de espaço em que oportunistas, como o deputado Jessé, possam usar para se auto-promoverem, num momento de intensa instabilidade econômica e política e às vésperas das eleições municipais.
Na verdade os números do Brasil, da eleição presidencial, podem ser vistos em todos os votos que não foram para o Bolsonaro, pois totalizam mais de 60 milhões de pessoas, incluindo votos brancos e nulos, sabendo que mesmo os votos para o governo carregam o peso da desilusão no governo anterior. Também podem ser traduzidos no número de pessoas que foram às ruas, mesmo em meio a uma pandemia, para se manifestar contra o capitalismo que instaura a agonia da fome, do racismo, do desemprego, do machismo e de todas as opressões e desigualdades sociais que, tal como aconteceu com George Floyd, nos impedem de respirar.
Esse manifesto não se dedica a examinar e avaliar o projeto ou os personagens das pinturas nos muros, pois isto tão somente cabe à própria equipe e à assessoria pedagógica. Fazê-lo aqui seria equívoco semelhante aos citados, que se utilizam de um recorte visual para julgar toda uma prática pedagógica, que na verdade consiste num longo processo de observação, escuta, planejamento e avaliação.
Esse manifesto se dedica a defender a arte-educação nas escolas!
Esse manifesto se dedica a denunciar os discursos de censura ao Projeto Pedagógico realizado na EBM Luiz Candido da Luz em Florianópolis!
Esse manifeso se dedica a defender as liberdades democráticas de expressão dentro das atividades escolares!
Esse manifesto se dedica a pensar a importância da expressão artística na condução de conteúdos programáticos nas escolas!
AUXILIE NESTA CAMPANHA!
Copie e cole os endereços de e-mail abaixo junto com o texto que segue e envie para os responsáveis legais pela educação no Estado de Santa Catarina. No assunto do e-mail coloque “Campanha em defesa da educação pública: pelas liberdades democráticas e pela arte nas escolas”.
comunicacao@casacivil.sc.gov.br
Ao Governador do Estado de Santa Catarina,
Sr. Carlos Moisés da Silva;
Ao Secretário de Educação do Estado de Santa Catarina,
Sr. Natalino Uggioni;
Ao Presidente do Conselho Estadual de Educação,
Sr. Osvaldir Ramos;
Ao Prefeito municipal de Florianópolis,
Sr. Gean Loureiro;
Ao Secretário Municipal de Educação de Florianópolis,
Sr Maurício Fernandes Pereira
E
À Presidente do Conselho Municipal de Educação,
Sra. Vera Regina Simão Rzatki
No dia 08 de agosto de 2020, Cyntia Batista divulgou um vídeo gravado em frente a Escola Básica Municipal Luiz Cândido da Luz, no bairro Vargem do Bom Jesus, em Florianópolis. Sua fala ofensiva desqualificava de forma infundada o trabalho artístico realizado pelos estudantes dessa instituição de ensino, evidenciando seu desconhecimento em relação ao projeto que deu origem à pintura executada nos muros e seu desrespeito aos temas abordados. Apresentando-se como defensora de uma ideologia que supostamente preza por igualdade, seus dizeres explicitavam o discurso conservador e a tentativa de atingir os profissionais e a comunidade escolar, destilando acusações contra. Vamos lembrar que a pessoa citada é pré candidata a vereadora em Florianópolis pelo Patriotas 51.
Além da já citada pré-candidata a vereadora, se encontra o deputado catarinense Jessé Lopes do PSL, que no dia 15 de agosto foi a público em suas redes sociais para disseminar as ideias contidas no vídeo de Cyntia, acusando a Escola de doutrinação. Jessé aumenta o tom fascistóide e vai fundo nos ataques aos temas das pinturas, ameaçando protocolar moção de repúdio contra a escola e pedindo indicação ao governo de “reparo” dos muros daquele ambiente escolar.
Jessé atacou não só o trabalho da Professora de Artes, ou do grupo do Projeto Interdisciplinar, ou ainda da Gestão da Escola. O deputado atacou não só personagens da história mundial, mas atacou as liberdades democráticas. Atacou não só os adolescentes e estudantes, mas todas as famílias diretamente envolvidas no Projeto. Ele atacou não apenas uma comunidade educativa, mas todos os profissionais dessa rede de ensino.
Cabe destacar que o projeto representa o esforço dos professores e profissionais envolvidos em garantir que a educação ofertada a estas crianças e adolescentes forneça os mecanismos para que eles possam não apenas aprender a ler e escrever, mas para que se tornem capazes de refletir sobre suas realidades afim de transformá-las. A escola continua sendo um espaço de pluralidade e democracia no manejo dos conteúdos disciplinares e na formação de opiniões e, nesse contexto, por mais que os professores e professoras da rede pública tenham determinada autonomia em suas práticas é importante salientar, para quem ataca o projeto, que elas são sempre pautadas pelas matrizes, diretrizes e currículos referentes a cada etapa da educação básica e não feitas a gosto do professorado.
Cabe lembrar que a Proposta Curricular de Santa Catarina (2014) traz a diversidade como princípio formativo: “O direito à diferença, no espaço público, significa não apenas a tolerância com o outro, aquele que é diferente de nós, mas implica a revisão do conjunto dos padrões sociais de relações na sociedade, exigindo uma mudança que afeta a todos” (p 55). Também na Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis (2016), bem como na Matriz Curricular para a Educação das Relações Étnico-Raciais na Educação Básica (2016) a educação para a pluralidade e diversidade é elemento fundante de toda documentação.
Deste modo, cobramos dos senhores o posicionamento de defesa da referida escola e a garantia de que nenhum profissional sofrerá qualquer tipo de punição pelo exercício da docência. Que não se permita atitudes eleitoreiras que desconstruam todo processo de trabalho pedagógico que se norteia nos princípios do respeito à diversidade, liberdade de expressão e educação emancipatória, materializados na legislação educacional nacional, bem como nas propostas curriculares estadual e municipal construídas coletivamente com toda sociedade.
Att,
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(Nome completo e entidade que representa)