Nostalgia da Luz – Crítica

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O documentário dirigido e escrito pelo chileno Patrício Guzmán impressiona por alinhar a astronomia e arqueologia com a ditadura no Chile (1973-1990). Essa “mistura” poderia parecer forçada, mas não é. O cineasta consegue construir poesia com as estrelas, constelações e os corpos dos desaparecidos durante o regime militar chileno. Ao olhar para o céu, percebemos o quanto nossos problemas podem parecer insignificantes diante da imensidão do universo, mas quando os colocamos sobre a mesa, enxergamos a mesma dimensão das estrelas nas questões humanas. 

Guzmán nos mostra a luta inglória e injusta ao estudarmos a ciência. Sentados diante do telescópio perdemos horas, dias e anos para talvez encontrar muito pouco sobre o universo. Assim também é a busca pelos desaparecidos no Chile, enterrados e desmembrados no deserto de Atacama, não conseguimos encontrar corpos inteiros, apenas fragmentos de uma violência e repressão pouco explorada.

O filme se passa no Chile. A 3.000 metros de altitude, astrônomos do mundo todo se encontram no deserto do Atacama para observar as estrelas. O local mantém o calor forte e seco, isso conserva cadáveres humanos intactos: de múmias, exploradores, mineiros e… prisioneiros políticos da ditadura de Pinochet.

Uma diferença, ao estudarmos as estrelas em busca de vida é não termos problemas para dormir, mesmo frustrados com o resultado insatisfatórios. Agora, como fazer para dormir sabendo do filho torturado e morto e com o corpo desmembrado espalhado no deserto? Você nunca saberá do ocorrido, nem conseguirá juntar as partes para render-lhe uma homenagem.

Os astrônomos, ao examinar as galáxias distantes em busca de vida extraterrestre podem se sentir frustrados, mas nada comparado com as mulheres cavando o solo do deserto à procura de seus parentes desaparecidos.

O título do filme parece nos transmitir um sentimento de tristeza sobre um passado, uma inocência perdida. É imensamente triste sabermos que nosso conhecimento e relação com a ditadura chilena é semelhante ao nosso conhecimento sobre o universo, raso e distante.

Guzmán mostra extrema habilidade em ser um cronista do cinema, em conseguir reunir questões políticas, científicas e pessoais. Tão importante quanto seu pensamento sobre a história é como ele escolhe mostrar esse período. Uma visão revolucionária, ao entender o quanto a história e a ciência podem nos ajudar a evoluir e compreender quem somos.

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