O combate da Liberdade e Luta no 55º CONUNE
Entre os dias 14 e 18 de junho de 2017, ocorreu o 55º Congresso da UNE, em Belo Horizonte. O evento organizado em dois locais, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Ginásio Mineirinho, na região da Pampulha, contou com mais de 15 mil jovens, sendo quase 5 mil delegados. A Liberdade e Luta esteve presente com uma delegação, dialogou com centenas de estudantes e discutiu a importância da UNE lutar por “Educação Pública, Gratuita e Para Todos!”, “Fora Temer e o Congresso Nacional!” e “Por um Governo dos Trabalhadores”.
Um Congresso sem discussão política
O Congresso da UNE praticamente começou no seu terceiro dia (16/6). Até o dia 15 ônibus ainda chegavam na UFMG, as organizações montavam suas tendas, bancas, etc. Mais de 50 palestras/debates ocorreram durante os dias 15 e 16, mas a vida do Congresso acontecia no espaço das tendas de cada força presente.
No sábado e no domingo, no Mineirinho, não ocorreram mais debates. Em tese, no sábado, a discussão política deveria ser intensa já que era o dia de discutir as resoluções de conjuntura, movimento estudantil e educação. Essas resoluções servem como o programa da UNE para os próximos dois anos. Mas a realidade é que a guerra de torcidas e manobras burocráticas na agenda davam o tom do que seriam as plenárias finais.
Há vinte anos a UNE é dirigida pela União da Juventude Socialista (UJS), que de socialista só tem o nome. Essa organização é a juventude do PCdoB, um partido que abandonou qualquer traço de luta pelo comunismo e se rendeu à colaboração de classes, às alianças com partidos burgueses, à gestão do Estado a serviço do grande capital.
A UJS e seus aliados da direção majoritária organizaram verdadeiras guerras de torcidas que serviram para que os jovens trazidos por esses grupos se fechassem para o debate político e defendessem os mesmos como se fossem o seu time de futebol. O motivo é claro, sem debate não há o risco de delegados mudarem de opinião durante o congresso.
Os delegados eleitos pela majoritária da UNE e por seus adversários são jovens que estão conhecendo agora o movimento estudantil e o conhecem a partir do ponto de vista de um único grupo. Quando se deparam com organizações que lutam no dia-a-dia, possuem um programa e que falam sobre e se organizam pela revolução, começam a questionar aqueles que os levaram pra o Conune.
Infelizmente, as organizações mais à “esquerda” caem nessa e também contribuem para que metade do evento seja marcado pelo som das baterias e palavras de ordem que na maioria das vezes são sectárias, auto-proclamatórias, e acabam por ofender quem não está na sua própria delegação.
A burocracia na direção
Roubo de urnas, eleições fantasmas, fraude de documentos, distribuição de crachás, tudo isso faz parte do “estilo UJS” durante o processo de eleição e no próprio Conune. O Congresso é construído para que o partido com mais dinheiro consiga atingir o maior número de estudantes e eleger seus delegados. Abre-se uma temporada de “caça aos delegados”. O regimento eleitoral é elaborado para permitir que pequenas organizações fiquem fora da disputa e que qualquer problema seja resolvido com a palavra final da UJS. Eles ganham o Congresso antes mesmo de começar. Esse método tem sido perpetuado por quase todas as forças que disputam a entidade.
Na Faculdade Sumaré, em São Paulo, por exemplo, não houve processo eleitoral e 18 delegados foram credenciados.
Na plenária de domingo, antes da defesa das chapas, surgiu no telão uma carta intitulada “Carta de Belo Horizonte”. Ela foi lida e abriu-se, em seguida, um processo de votação “simbólico” (de acordo com Carina Vitral, ex-presidente da UNE). Essa carta justificava e chamava a palavra de ordem “Diretas Já!”. As organizações que não defendem essa bandeira não votaram a favor da carta, mas a aprovação foi anunciada como unânime. Poderia ser consequência de um problema de visão de Carina, não se sabe, mas ao menos 300 delegados eram de organizações contrárias às Diretas. Casos semelhantes ocorrem naturalmente durante todo o evento.
Oposição unificada?
Criada em 2009 para combater a majoritária da UNE, unificando as organizações presentes, a Oposição de Esquerda (OE) foi crescendo ao longo dos anos. No 54º Conune, o primeiro após as jornadas de junho de 2013, a OE apareceu como possível desaguadouro da insatisfação da juventude que despertava para a luta. No entanto, neste ano de 2017, a oposição apresentou uma leve redução de tamanho e uma mudança em relação a política que defendia.
Historicamente, a OE tem se comportado como uma chapa dentro do Congresso. Foram diversas as tentativas de lutas unitárias entre um congresso e outro, ou de realizar reuniões para organizar um combate unitário nas bases. O que impediu de algo desse tipo de acontecer, e isso vale ainda hoje, sempre foi a diferença programática das organizações que compõem a oposição. O que une a oposição é o combate a UJS, apenas isso. Algumas organizações até apresentam semelhanças programáticas, mas as diferenças entre cada uma são grandes.
Não é só a ausência de uma unidade real que explica a estagnação da OE nesse Conune. Todo o processo de eleição de delegados foi marcado pela disputa “ao estilo UJS” (fraudes, burocratização do processo eleitoral, etc.) por boa parte das organizações da OE. Na política não foi diferente. Boa parte da oposição não conseguiu se diferenciar da majoritária da UNE ao apresentar suas propostas. Como um estudante eleito pela UJS poderá ver alguma diferença se, ao conversar com qualquer pessoa, descobrirá que participou de um processo eleitoral semelhante e, quando se deparar com as bandeiras da direção da OE, perceberá que elas também são “Fora Temer”, “Contra as Reformas” e “Diretas já!”?
A luta pelo Fora Temer e contra as Reformas são progressistas. Elas só estão na pauta da UJS e seus aliados porque perderam financiamento governamental após o impeachment de Dilma. Já a bandeira das eleições diretas representam o caminho oposto. Estamos numa situação em que as instituições que sustentam o regime burguês estão completamente desmoralizadas, perderam sua legitimidade. Exigir “Diretas Já!” ou “Eleições Gerais” é combater para restaurar as instituições apodrecidas.
Há outra questão percebida pelos estudantes e pelos trabalhadores, que explica porque essa palavra de ordem não mobiliza as massas. Antecipar as eleições teria como resultado mais provável a eleição de Lula, primeiro colocado nas pesquisas, ou mesmo de um candidato de direita.O povo sabe que nem Lula, nem Marina Silva, nem Alckmin ou Doria, vão resolver os seus problemas e interromper os ataques da burguesia. Afinal, a Reforma da Previdência e Trabalhista do governo Temer são muito semelhantes às que o governo Dilma queria realizar, com apoio de Lula e da direção do PT.
O caminho que parte das forças da OE está tomando é perigoso. No 54º Conune existia um chamado “Campo Popular”, encabeçado pelo Levante Popular da Juventude, que desapareceu no 55º Conune, votou todas as resoluções e fechou chapa com a UJS. Com as pressões geradas pela situação política atual, mais organizações começam a seguir o mesmo rumo.
O Papel da Liberdade e Luta
Uma banca com livros, adesivos e brochuras, rodeada por algumas dezenas de jovens que dialogavam e ofereciam panfletos atraia a atenção dos que circulavam pelo Conune. Era a LL apresentando suas ideias, seus materiais e convidando cada estudante para lutar não só contra esse governo, mas pela Revolução.
Foram dias longos, que começavam cedo e terminavam tarde. O ônibus saia do alojamento ao som de músicas tradicionais transformadas em palavras de ordem. Assim que a banca era montada, partiam grupos de dois, três militantes para conversar e pegar contatos dos que circulavam o espaço. Sem medo de dialogar e de convencer os que não estão ganhos para seu programa, os militantes da LL abriram contato com centenas de estudantes durante o evento, mostrando outro tipo de movimento estudantil.
A LL completou 1 ano de existência em janeiro e ainda é uma organização que está se formando, crescendo. Se seus militantes não se abalaram diante de organizações maiores, que já aparecem no cenário nacional, foi pela força das ideias que cada um carregava. Muitos falaram de derrubar o governo, de acesso ao ensino, de inúmeras reivindicações, mas poucos defenderam o que pode garantir que essas reivindicações se tornem realidade: a retomada da Carta de Princípios de 1979 da UNE, uma revolução e a construção de uma sociedade socialista.
Hoje a UNE se tornou uma entidade burocratizada a serviço do capital. Apesar do discurso algumas vezes radical, essa entidade hoje não representa o conjunto dos estudantes. É preciso construir a Liberdade e Luta em cada escola, em cada universidade e fábrica do país para que no futuro, a entidade nacional dos estudantes não seja um obstáculo, mas um instrumento de sua luta para transformar a sociedade.