O que é o marxismo-leninismo? O nacional-comunismo no Brasil e a luta pela internacionalismo proletário

Fruto da Escona Nacional de Formação da Juventude Comunista Internacionalista 2025, este informe, apresentado por Chico Aviz, demonstra as origens do que hoje é conhecido como o “marxismo-leninismo” ou o que chamamos de nacional-comunismo – as ideias defendidas e aplicadas pela camarilha burocrática de Stalin na URSS, sua expressão no Brasil, no passado e no presente, por meio da história e prática do PCB, PCdoB e PCR/UP, e a luta pelo internacionalismo proletário. A Escola Nacional de Formação da JCI 2025 ocorreu nos dias 06 e 07 de setembro, online. Contou com mais 80 militantes inscritos de diferentes regiões do Brasil. A ENF da JCI também abordou o tema do imperialismo e o papel da dívida pública.


Em 1857, em sua “Introdução à Crítica da Economia Política”, Marx disse que a produção “é como uma luz universal onde são mergulhadas todas as outras cores e que as modifica no seio de sua particularidade”.

Com o marxismo, aprendemos que a realidade não é composta por partes isoladas, mas que as partes adquirem seus significados e funções a partir da totalidade das dinâmicas e contradições produtivas e sociais.

Em 1929, em sua tese 10 da “Teoria da Revolução Permanente”, Trotsky traduziu essa filosofia para as tarefas revolucionárias. Ele diz que:

“A revolução socialista não pode se realizar nos quadros nacionais. Uma das principais causas da crise da sociedade burguesa reside no fato de as forças produtivas por ela engendradas tenderem a ultrapassar os limites do Estado nacional. Daí as guerras imperialistas, de um lado, e a utopia dos Estados Unidos burgueses da Europa, de outro lado. A revolução socialista começa no terreno nacional, desenvolve-se na arena internacional e termina na arena mundial. Por isso mesmo, a revolução socialista se converte em revolução permanente, no sentido novo e mais amplo do termo: só termina com o triunfo definitivo da nova sociedade em todo o nosso planeta.”

Os clássicos do marxismo nos fazem partir do real: o internacionalismo proletário não é uma mera opção de uma corrente comunista e um abandono de outra.

Parafraseando Rosa Luxemburgo em sua obra “Reforma ou Revolução”, de 1900, o internacionalismo não é algo que “se pode escolher à vontade no refeitório da história, como se escolhe entre salsichas frias ou quentes”.

Essa práxis política é uma necessidade histórica da classe trabalhadora e de sua camada mais consciente: os comunistas.

O capitalismo desenvolveu as forças produtivas de forma internacional para a exploração da força de trabalho, igualmente internacional. Na fase imperialista desse modo produtivo, essa configuração chegou ao seu estágio superior, integrando os mercados e os povos sob o funcionamento da extração de mais-valia de toda a classe trabalhadora mundial.

É evidente que há particularidades dessa exploração em cada país e mesmo no interior da classe trabalhadora. Porém, essas particularidades se produzem determinadas pela totalidade das dinâmicas do imperialismo, e não de maneira autônoma.

Isso significa que o combate à apropriação privada dos grandes meios produtivos e aos comitês executivos desses proprietários, que são os Estados nacionais, só pode ser realizado sob as bases de uma ação internacional de nossa classe. A negação desse princípio é a negação do próprio marxismo.

E essa revisão negativa do marxismo tem história e explicação a partir do stalinismo, em especial pelo que foi produzido por Nikolai Bukharin, em 1924: a teoria do “socialismo em um só país”.

Vale ressaltar que Bukharin rompeu com Stalin ao fim dos anos 1920, devido à política de coletivização forçada promovida por ele, sendo fuzilado em 1938 pela burocracia que o próprio Bukharin ajudou a consolidar.

Apesar disso, Bukharin deixou uma obra que auxiliou diretamente na restauração capitalista da China, promovida por Deng Xiaoping nos anos 1970, por dar as bases ao chamado “socialismo de mercado” — isso pelas próprias palavras de Xiaoping!

Foi de Bukharin a autoria de outra teoria “nacional-comunista”, que lançava a palavra de ordem “Cúlaques, enriqueçam-se”, de 1925, na URSS.

Ou seja, era a orientação para aprofundar a Nova Política Econômica (NEP), que deveria ser utilizada apenas em um período imediato do pós-guerra civil russa. Já para Bukharin, o Estado operário deveria permitir o enriquecimento de camponeses como estratégia de industrialização soviética.

O resultado disso foi um desastre econômico e o recrudescimento da classe proprietária no campo soviético nos anos 1920. E foi esse o modelo requentado por Deng Xiaoping na restauração capitalista chinesa nos anos 1970, junto da entrada massiva de capital imperialista no país.

Todo esse processo de zigue-zagues, tanto de Bukharin quanto de Stalin, que, a partir de 1928, chegou a sequestrar o programa da Oposição de Esquerda, liderada por Trotsky, e aplicar uma industrialização burocrática na URSS nos anos 1930, é profundamente relatado na obra “Havia Alternativa ao Stalinismo?”, de Vadím Rogóvin. Indicamos a leitura.

O que é o “nacional-comunismo”?

O “nacional-comunismo” trata-se da absoluta revisão do marxismo e das necessidades históricas do proletariado. Suas bases são as práticas do stalinismo, mas precisamos ser corretos quanto aos conceitos históricos.

O stalinismo teve seu fim com a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS, ou seja, entre 1989 e 1991. Isso porque, para existir enquanto força política, o stalinismo precisa obter esse poderio, essa disposição no aparelho de Estado, e isso não existe mais.

Isso não significa que essa tendência contrarrevolucionária não se expresse no presente, e é isso que chamamos de “nacional-comunismo”. Em graus maiores ou menores de oportunismo, esses grupos políticos colocam como fim de seus combates na luta de classes a realização do socialismo em seu próprio país.

O stalinismo teve seu fim com a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS, ou seja, entre 1989 e 1991. Isso porque, para existir enquanto força política, o stalinismo precisa obter esse poderio, essa disposição no aparelho de Estado, e isso não existe mais / Imagem: Hofbauer Róbert, Wikimedia Commons

Quer dizer, eles realizam um combate ao imperialismo de maneira geral e um combate relativo à propriedade privada dos meios produtivos sob os interesses nacionais, seja centralizado no Estado, seja até mesmo em burguesias nacionalistas supostamente capazes de promover conquistas democrático-burguesas e desenvolvimento produtivo nacional. Trata-se de um tipo novo de reformismo: uma revisão dos revisionistas do marxismo da 2ª Internacional sob as pressões das novas condições.

Os exemplos históricos do século XX demonstraram essas posições. A dissolução da Internacional Comunista por Stalin, em 1943, e os acordos de Yalta e Potsdam foram atos normatizadores das colaborações entre os Estados operários e o imperialismo. Esses Estados operários burocratizados, seja no processo, seja desde o seu nascimento, levavam a cabo a política da “pátria socialista”.

Em seu artigo “Notas complementares sobre o fim da ordem de Yalta e Potsdam”, o camarada Luiz Bicalho nos elucida sobre essa política. Ele diz:

“O chamado ‘bloco stalinista’ não era um verdadeiro ‘bloco’. Onde existia qualquer vestígio de independência, como na China ou na Iugoslávia, a política do ‘nacional-comunismo’ colocava os ‘vizinhos socialistas’ em feroz oposição entre si. A competição dentro do ‘bloco’ era maior que a ‘competição’ com o imperialismo! Cada qual tratava de montar o seu próprio ‘aparelho’ internacional, com seus próprios partidos ‘comunistas’, em oposição ao partido ‘russo’. E cada um buscava o melhor acordo com o imperialismo que melhor garantisse a sua sobrevivência e seu acesso ao mercado mundial. Assim, não é nada surpreendente a visita de Nixon à China, em 1972, e o começo da abertura do país ao mercado, processo que conduziu à situação atual.”

Essa é a exata posição política dos grupos que reivindicam ser “marxistas-leninistas” no presente. Para entender melhor isso, vejamos um breve histórico dos principais partidos do “nacional-comunismo” no Brasil.

Antes, porém, é preciso uma breve anedota do que foi o marxismo-leninismo no passado: uma oposição de direita liderada por Martemyan Ryutin. Ele foi secretário do Comitê Local de Moscou do Partido Comunista na década de 1920 e era um espancador contra a Oposição de Esquerda nos anos de 1923. Diante dos resultados assustadores da coletivização forçada, organizou a chamada “Plataforma dos Marxistas-Leninistas”, em 1932, e a distribuiu de maneira clandestina, conclamando o fim da coletivização forçada, a diminuição do ritmo da industrialização e a reincorporação de todos os membros expulsos do partido, incluindo o próprio Trotsky.

Na plataforma, havia um capítulo dedicado a Stalin, em que o caracterizava como coveiro da revolução. Ele afirmou que “sem a eliminação de Stalin, é impossível restaurar a saúde, quer do Partido, quer do País”. Stalin exigiu a execução imediata, mas ficou em minoria. Ryutin foi sentenciado a dez anos de prisão e provavelmente executado em 1937, durante a Grande Purga.

As expressões do nacional-comunismo no Brasil

O Partido Comunista do Brasil (PCB) foi o primeiro partido comunista do país, fundado em 1922 por anarquistas que estavam rompendo com essa corrente utópica e sendo forjados no rescaldo da greve de 1917, que tomou diversas cidades no Brasil, e, obviamente, com os ventos da Revolução Bolchevique. Esse partido foi aceito na Internacional Comunista apenas em 1924, quando começou a se estruturar sua organização.

Desde o início, a direção do PCB realizava seus expurgos contra divergentes, em sintonia com a Internacional Comunista stalinizada. Militantes bolcheviques ligados aos combates de Trotsky nesse período também estiveram presentes no partido. João Pimenta, delegado no congresso do PCB de 1922, foi também um dos fundadores da primeira organização da Oposição de Esquerda no país. Lívio Xavier e Mário Pedrosa, que aderiram ao PCB por volta de 1924, também foram importantes trotskistas brasileiros: iniciaram uma posição no interior do PCB já em 1927 e, em 1931, lançaram a Liga Comunista, seção brasileira da Oposição Internacional Bolchevique-Leninista.

Desde então, e principalmente no estatuto do PCB de 1945, havia um parágrafo que proibia expressamente as relações entre membros do “partidão” e trotskistas.

O PCB sempre foi dirigido pelas ideias stalinistas e do nacional-comunismo. E é justamente desse partido que surgem os demais agrupamentos do nacional-comunismo no Brasil.

Em 1962, a fração liderada por João Amazonas realizou o que seus militantes chamam de “reorganização” e “vitória dos princípios” contra o PCB, na 5ª Conferência Nacional Extraordinária do PCdoB. Na realidade, esse processo foi o reflexo nacional da cisão sino-soviética.

Ou seja, foi a reprodução da divisão entre os “soviéticos”, que permaneceram no PCB dirigido por Luís Carlos Prestes, e os maoístas, que se converteram no Partido Comunista do Brasil de João Amazonas, o PCdoB. Nessa conferência, integrada por poucas dezenas de militantes, o grupo de João Amazonas elegeu um novo Comitê Central, que determinava que o CC do PCB havia abandonado o “marxismo-leninismo”, tornando-se “reformista e conciliador”, reproduzindo a nova política de Nikita Kruschev na URSS a partir de 1956.

Mas o definitivo salto de qualidade para o total abandono do socialismo pelo PCdoB aconteceu em seu 8º Congresso, em 1992. O programa aprovado nesse congresso realizava um balanço do que os nacional-comunistas chamam de “campo socialista” e afirmava que o século XX havia mostrado que “não existe modelo único de socialismo, que cada nação terá que encontrar o seu caminho nacional ou as peculiaridades de sua experiência socialista”.

A partir dessa definição — e como podemos ver nas posições e resoluções atuais do PCdoB, na internet vocalizadas por Elias Jabour —, esse partido, que de “comunista” só mantém o nome, passou a defender a economia de mercado como parte do socialismo. Por isso, por exemplo, a China seria um grande “socialismo que deu certo”.

Como comunistas internacionalistas, devemos combater centralmente essa ideia em nosso cotidiano! Trata-se do abandono explícito não só do internacionalismo proletário, mas também do próprio socialismo.

Não à toa, o PCdoB e sua fração jovem, a União da Juventude Socialista (UJS), são os responsáveis pelo controle do movimento estudantil brasileiro organizado, dominando burocraticamente a União Nacional dos Estudantes (UNE) como auxiliar do governo Lula. Sua principal pauta na atual conjuntura é o nacionalismo, a defesa da democracia burguesa e do Estado Democrático de Direito, algo explícito nos documentos do partido, da juventude e do 60º Congresso da UNE (Conune) de 2025.

Foi a reprodução da divisão entre os “soviéticos”, que permaneceram no PCB dirigido por Luís Carlos Prestes, e os maoístas, que se converteram no Partido Comunista do Brasil de João Amazonas, o PCdoB / Imagem: Domínio Público

O outro partido nacional-comunista que tem relevância nacional por sua expressão “legalizada” é a Unidade Popular pelo Socialismo, a UP. Porém, a UP é apenas o nome-fantasia do Partido Comunista Revolucionário, o PCR. Ressalto que, depois da ruptura do PCdoB com o PCB, que foi expressão do aprofundamento da pressão burguesa sobre o aparato internacional do stalinismo, todos os demais rachas desses grupos no Brasil foram resultado da pressão da luta de classes e das traições do PCB, tanto no pré-1964 (o golpe militar) quanto ao longo da segunda metade do século XX no país.

Como disse, a UP é a franja pública do PCR. Esse partido foi fundado em 1966 por uma fração que rachou com o PCdoB. Esse grupo era dirigido por Manoel Lisboa e por Amaro Luiz de Carvalho, que, naquela década, atuava também nas famosas Ligas Camponesas. Essa gênese ajuda a explicar a atual atuação do PCR/UP, diluída em diversos movimentos “populares”.

Segundo os documentos oficiais do PCR, o partido “enfrentou uma encarniçada luta contra os desvios do leninismo no movimento comunista internacional: de um lado, o revisionismo soviético; de outro, o misto de esquerdismo e conciliação do Partido Comunista Chinês”. Ou, como dizem em seu Estatuto, “coube ao PCR separar, no Brasil, de modo irreversível, os comunistas revolucionários dos revisionistas e oportunistas”. Trata-se da reivindicação da verdadeira memória e política de Stalin e de sua tradição diante da cisão sino-soviética.

Além da chamada “Carta de 12 Pontos dos Comunistas Revolucionários”, documento de fundação do PCR, é interessante ler o curto artigo “O Surgimento do PCR”, de 1968, de Amaro Luiz. Nele, esse dirigente expõe suas críticas ao movimento comunista fragmentado e considera que as revoluções não seriam mais resultado da ação consciente de partidos comunistas, usando o exemplo da Revolução Cubana, pois o programa revolucionário seria o programa nacional de cada país.

O centro da atuação do PCR, especialmente durante a ditadura militar, foi a luta armada sob o lema da “guerra popular” e da “aliança operário-camponesa”. O resultado foi que seus principais dirigentes foram afastados do proletariado, torturados e assassinados pelos militares.

Vemos que, mesmo quando essas figuras tentam se diferenciar no interior do movimento comunista ou nos limites de uma revolução democrático-nacional, a finalidade de suas concepções é a “questão nacional”, chegando ao ponto de defenderem uma “frente única com a burguesia autenticamente nacional” em seus “12 pontos”.

O socialismo é perfumaria para os nacional-comunistas. É o chamado “nacionalismo revolucionário” o seu fundo real.

Voltando à sua história, em 1981, o PCR se fundiu com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro, o MR-8. Mas, em 1995, um novo racha levou à refundação do PCR e de sua fração jovem, a União da Juventude Rebelião (UJR). É importante lembrarmos que a UJR é a juventude do PCR e que o Correnteza é a frente de juventude do partido-fantasia, a UP.

Nesse sentido, a UP se tornou a principal construção desse partido nacional-comunista, a partir de sua legalização em 2019. E nela se reproduz a mesma política do PCR, sintetizada por Leo Péricles, o principal dirigente da UP, que afirma lutar pelo “socialismo em nossa pátria”.

Com essa base, a UP intervém por meio de seus movimentos (tentáculos dessa frente legalizada) que, em essência, expõem a política do PCR.

Além da UJR e do Correnteza, eles possuem o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que apresenta o idealismo em ocupações precárias e o fomento não a uma luta organizada por moradia para todos, mas até mesmo ao apelo ao lumpemproletariado e ao assistencialismo; o Movimento de Mulheres Olga Benário, que reproduz o “feminismo classista”; e o Movimento Luta de Classes (MLC), a fração sindical desse partido, que tem uma prática de agitação, tumulto e esquerdismo no movimento sindical.

Em todas as suas intervenções, o programa de revolução desse partido, assim como o dos demais nacional-comunistas, mesmo com suas diferenças, traz como fundamento a defesa do controle e do monopólio estatal da produção capitalista dos chamados “setores estratégicos”, como o da indústria de base.

Ou seja, não se trata da expropriação e do controle operário de toda a produção, no Brasil e no mundo, como defende o marxismo e o internacionalismo proletário.

Essa é a tradução econômica para a formulação do “poder popular”, tão propagado nos movimentos estudantil e social pelos nacional-comunistas. A origem dessa formulação, que tem raiz na “teoria do socialismo em um só país”, de 1924, no 5º Congresso da Internacional Comunista, é o “refinamento teórico” adotado no 7º Congresso da IC, de 1935. Nele, os stalinistas passaram a defender as “Frentes e o Poder Popular”, dado o avanço do fascismo.

Hoje, UP/PCR, PCdoB, PCB e PCBR anunciam o fascismo em toda parte e lançam mão dessa linha política distorcida da realidade, para, na prática, reproduzir a política do 7º Congresso da Internacional Comunista. Ela justifica as Frentes Populares pelo “avanço do fascismo”, que ameaçaria não só os operários, mas também os camponeses, a pequena burguesia e até mesmo setores da burguesia.

Ou seja, a luta deveria, naquele tempo — e deve agora, segundo os nacional-comunistas —, ser travada em defesa do Estado Democrático de Direito, assegurando às “burguesias anti-imperialistas” um papel importante nesse vasto “poder popular” que eles reivindicam.

Ora, além de cada posição e declaração desses partidos que vemos diariamente, o que foi aquele documento em defesa da democracia burguesa, assinado pelo PCB (antes de seu racha), pelo PCdoB e pela UP, junto com todos os demais partidos da ordem burguesa, contra Bolsonaro, em 2022? Foi a exata expressão política dessa posição nacional-comunista:

“Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.” (Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!)

Esses partidos, revisionistas do comunismo e do marxismo, capitularam também ao pós-modernismo, movimento filosófico reacionário lançado pela burguesia em sua luta contra o movimento revolucionário. O que vemos na história é a profunda conexão do stalinismo, e hoje do nacional-comunismo, com o pós-modernismo.

Todos que atuam no movimento estudantil ou mesmo no movimento sindical, principalmente na educação, veem como esses que se colocam como os mais “radicais”, os “verdadeiros leninistas”, são justamente os que mais reproduzem as políticas de identidade e a confusão generalizada em suas atuações.

Como exemplo, suas organizações de juventude, vendo-se obrigadas, pelo acirramento da luta de classes, a adotar a luta pelo fim do vestibular, tentam conciliar isso com a política de cotas para negros, mulheres, indígenas e pessoas trans.

Encontramos o rastro histórico dessa simbiose entre o nacional-comunismo e o pós-modernismo justamente nos Partidos Comunistas (PCs), em especial no da França, nos anos 1960, principalmente após as revoluções de 1968. Muitos dos teóricos do identitarismo, do existencialismo, do estruturalismo e afins (como Foucault e Sartre) foram membros desses PCs stalinistas. Mas, em vez de produzirem uma crítica ao chamado “socialismo real”, perderam a confiança na perspectiva revolucionária, no marxismo e na centralidade do papel da classe trabalhadora como responsável por enterrar o capitalismo.

Hoje, com a propagação, pela maioria das organizações de esquerda, dessas ideias alheias ao comunismo, como pressão da luta de classes, está presente em nosso cotidiano militante todo tipo de ecletismo promovido pelos nacional-comunistas.

O mito do “trotskismo”

Quando nos deparamos com a enxurrada de cortes de vídeos dos nacional-comunistas na internet, vemos toda sorte de insultos ao que chamam de “trotskismo”. São construídos diversos espantalhos e retóricas mal elaboradas que, pelo poder dos aparatos dessas organizações, acabam por contaminar a juventude que busca conhecer o comunismo.

Evidentemente, nem as ideias nem a trajetória revolucionária de Trotsky estão presentes nessas propagandas dos nacional-comunistas. Como é a tônica do stalinismo, que já usava “photoshop” nos anos 1920 para tentar apagar Trotsky da história, os novos detratores do fundador do Exército Vermelho também deturpam seus escritos e seu papel.

Por isso, precisamos nos armar da história!

O “trotskismo” é mais um mito produzido, a partir de 1924, por figuras como Kamenev, Zinoviev, Bukharin e Stalin. No mesmo ano em que a teoria do socialismo em um só país foi vitoriosa na Internacional Comunista, Trotsky produziu o livro “Lições de Outubro”, relatando com maestria a história da Revolução Russa, mas não como mero historiador.

Toda a historiografia produzida por Trotsky foi feita para municiar o movimento comunista com a história, a fim de aprendermos como fazer as revoluções. E essa era a proposta dele com esse livro: educar os processos explosivos daquele período.

“Apagar da face da terra o inimigo Trotsky e sua sangrenta quadrilha fascista!” (Tradução literal de um slogan de cartaz, 1937)

Inevitavelmente, ele precisava expor como os dirigentes bolcheviques, e de outros partidos da Revolução Russa, se posicionaram no processo. Como mostram os documentos do Partido Bolchevique, os dirigentes não estavam convencidos da tomada do poder em novembro (outubro) de 1917, com poucas exceções. Esse foi o combate, mesmo dentro do Comitê Central bolchevique, que Lênin e Trotsky tiveram de travar para efetivar o poder proletário!

E contra isso estavam justamente os epígonos da revolução, ou seja, os dirigentes que formariam a contrarrevolução burocrática na URSS, e abririam com mais força a perseguição a Trotsky a partir de 1924. Como diz Rogóvin:

“O que menos interessava aos oponentes de Trotsky era o conteúdo das ideias contidas em Lições de Outubro. Sua reação a esse trabalho foi totalmente determinada por ambição e orgulho, por fúria devido ao fato de que Trotsky se permitiu mencionar erros fundamentais cometidos no passado por pessoas que naquele momento (1924) já haviam conquistado o controle do poder, tanto no partido quanto na Internacional Comunista.”

Até aquele momento não existia o “trotskismo”, nem mesmo nos escritos de Stalin. Mesmo nas divergências anteriores, até as de Lênin com Trotsky, esse espantalho nunca havia sido pronunciado.

Ele foi inventado justamente por esses burocratas para tentar criar um antagonismo entre o que chamavam de “leninismo” e Trotsky. Obviamente, eles davam uma justificativa política para isso, que era, principalmente, a questão do papel do campesinato na revolução. Mas, na realidade, tratava-se da clique1 de Kamenev e Zinoviev buscando eliminar a presença do principal bolchevique do Estado operário soviético, Leon Trotsky, defensor do bolchevismo-leninismo.

Construir uma verdadeira Internacional Comunista

Esse é um tema riquíssimo, com explicações e paralelos que devemos seguir constantemente em nossa formação militante. É nossa tarefa, enquanto comunistas que constroem uma organização internacionalista de quadros interessados em intervir efetivamente na luta de classes, educar a juventude a entender o mundo com o olhar da classe trabalhadora internacional.

Repudiamos as ideias da pequena burguesia e suas confusões a serviço do capital, que se infiltram com sucesso nas fileiras revolucionárias. Devemos estudar e discutir cada vez mais a história do movimento comunista, e tê-la na ponta da língua para explicar aos jovens que queremos ganhar para as forças do comunismo. Mas devemos fazer isso como fez Trotsky: não como um mero exercício intelectual, mas como um meio de  nos armarmos para construir a luta revolucionária no Brasil e no mundo.

É nossa tarefa, enquanto comunistas que constroem uma organização internacionalista de quadros interessados em intervir efetivamente na luta de classes, educar a juventude a entender o mundo com o olhar da classe trabalhadora

É por isso que temos como tarefa de vida construir uma verdadeira Internacional Comunista. Sem autoproclamação, ela deve ser uma expressão organizativa de massas de toda a insatisfação e miséria produzidas pelo capitalismo. Assim aprendemos com Marx, Engels, Lênin e Trotsky, que nunca se colocaram apartados das massas trabalhadoras, mas auxiliaram na reorganização do movimento comunista internacional — cada um em seu tempo. Esse é o nosso dever!

Romper com todo desvio oportunista e pequeno-burguês, combater o nacional-comunismo e lutar pelo internacionalismo proletário: único capaz de nos levar do “reino da necessidade para o reino da liberdade”, como afirmou Engels!

Nota

  1.  Agrupamento sem base política conhecida pelo conjunto da direção e do partido. ↩︎

Assista ao informe desse tema completo no YouTube da JCI


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