Porto Rico: protestos massivos pressionam a renúncia do governador Rosselló!

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Este artigo foi escrito 03 dias antes da renúncia de Rosselló no dia 25.07.2019.

Hoje (22.07) marca o décimo dia consecutivo de protestos pedindo a renúncia do governador de Porto Rico, Ricardo Rosselló. Centenas de milhares de pessoas encheram as ruas de San Juan e cercaram La Fortaleza, o palácio do governador. O estopim dos protestos foi um conversa vazada do Telegram que escancarou a corrupção do governo que, usando termos e piadas repugnantes, revelou o completo desdém do governo para com o povo de Puerto Rico.

Os protestos atingiram um pico na quarta-feira na semana passada, quando 500 mil manifestantes ocuparam as ruas durante todo o dia. Pouco antes da meia-noite, a polícia emitiu toque de recolher e minutos depois começaram a atirar com balas de borracha e gás lacrimogêneo. Essa demonstração de agressão não dissuadiu os manifestantes que continuam gritando: “Ricky, renuncie!”, “Não vamos parar até renunciar!” , “Se Ricky não sair, o arrancaremos!”. Uma manifestação nacional foi planejada para hoje (22.07), por ativistas e pelo movimento sindical, para forçar a renúncia do odiado governador.

O escândalo revelou toda a extensão da corrupção e negligência de Rosselló e sua camarilha. O vazamento revelou conversas entre Rosselló, seus ministros, o magnata do marketing Edwin Miranda e o ex-gerente de campanha de Rosselló, Elías Sánchez, compartilhando várias vezes informações privilegiadas com empreiteiros que fazem contratos governamentais para beneficiar clientes privados em troca de comissões. Sánchez cobrava 25% de comissão por essa informação e está no controle de todos os maiores contratos estaduais (apesar de não estar no governo). Rosselló também desviou fundos públicos para beneficiar seu partido político, o Novo Partido Progressista (PNP). As empresas de Edwin Miranda receberam US $50 milhões de 22 órgãos governamentais através de contratos diretos, e Miranda também supostamente pressionou outras empresas a consultá-lo para obter contratos com o governo. Estes são os destaques do nível profundo de corrupção e clientelismo do governador.

Para incensar ainda mais o povo de Porto Rico, as 889 páginas dos bate-papos do Telegram incluem as piadas depreciativas, sexistas, misóginas e homofóbicas dos participantes insultando jornalistas e políticos. Eles brincaram sobre atirar no prefeito de San Juan, Carmen Yulín-Cruz, e pior ainda, o grupo fez chacota sobre os que morreram no furacão Maria (que atingiu a ilha em setembro de 2017). A ativista climática Amira Odeh ficou revoltada porque Rosselló teve “a audácia de brincar sobre a vida dos perdidos, sem fazer nada para garantir nossa recuperação a longo prazo”. A total falta de respeito pelas pessoas que deveriam estar protegendo contra desastres naturais é nítida nessas mensagens e levou as pessoas às ruas em sua raiva, desgosto e frustração reprimida.

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Além do bate-papo, também foi descoberto que US $ 15,5 milhões de fundos federais destinados à saúde e educação foram desviados de forma ilícita, e a Diretora de Educação, Julia Keleher – que fechou 432 escolas públicas nos últimos dois anos – junto com Ángela Ávila-Marrero – Chefe da Administração de Seguros de Saúde de Porto Rico – foi presa pelo FBI por múltiplas acusações de lavagem de dinheiro e fraude.

Esses últimos escândalos foram simplesmente a última gota para o povo de Porto Rico, que não só sofreu com séculos de corrupção, mas também décadas de severa austeridade e dívida pública. Em 2015, 41% da população vivia abaixo da linha da pobreza, já que o ex-governador Luis Fortuño congelou os salários do setor público, acabou com a licença por doença e demitiu 17.000 funcionários públicos. Além disso, aumentou o preço da água, combustível e eletricidade, cortou benefícios de saúde e pensões e aumentou a idade de aposentadoria. No mesmo ano, o governo declarou que a dívida pública, de US $ 72 bilhões, era impagável. Desde então, o Conselho Fiscal de Supervisão e Administração (FOMB) foi contratado para “reestruturar” a dívida, ostensivamente para pagá-la. No entanto, o FOMB tem essencialmente implementado medidas de austeridade que não reduziram a dívida. Em vez disso, estima-se agora em US $ 120 bilhões, estourando ainda mais a crise econômica e o sofrimento do povo na ilha.

Confrontado com a crescente pressão dos protestos, Rosselló declarou inicialmente em uma conferência de imprensa que ele “não havia cometido nenhum ato ilegal” e insistiu que não renunciaria. Ele declarou que “é possível restaurar a confiança [do povo] … e alcançar a reconciliação”. No entanto, a pressão das massas está claramente causando um impacto. As rachaduras estão começando a aparecer no governo, já que Rosselló não tem apoio de seu próprio partido e o escândalo de bate-papo do Telegram praticamente esvaziou seu gabinete com as renúncias daqueles que foram implicados. Ontem (21/07) Rosselló mudou de opinião, declarando que renunciou ao cargo de presidente da PNP e confirmou que não concorrerá à reeleição em 2020.

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Isso, por si, já marca a primeira vitória do protesto. É o primeiro sinal de que o movimento está tendo impacto e pressionando o Estado a ceder às suas exigências. No entanto, os manifestantes sabem que a remoção de Rosselló não será suficiente para acabar com a corrupção ou mesmo levar a reformas econômicas mínimas para melhorar as condições de vida que não se recuperaram desde a destruição causada pelo furacão Maria. A questão sobre quem substituirá Rosselló até as próximas eleições em 2020 será agora discutida a portas fechadas dentro do PNP. Mas os manifestantes sabem que um novo rosto vai levar a cabo a mesma austeridade de seu maligno antecessor.

O ativista Odeh pediu um novo modelo de governo que respeite “os direitos humanos e o direito à segurança sem medidas de austeridade prejudiciais”. O único novo modelo de governo que pode fornecer essa solução e muito mais é um socialista, baseado no controle democrático dos trabalhadores que sustentam a economia e na administração transparente do Estado para suprir as necessidades de todos. Enquanto o capitalismo destrói o planeta e agrava os furacões, tornando-os mais frequentes e poderosos, os capitalistas continuam a ignorá-lo. Sua negligência e total desrespeito pelo bem-estar da população, como revelado pelos bate-papos do Telegram, está colocando a vida das pessoas em risco. Um governo socialista planejaria racionalmente a economia para se preparar adequadamente, para se defender dos riscos ambientais e fornecer os tão necessários serviços de educação e saúde.

As manifestações devem aumentar a pressão sobre o regime, declarando uma grande Greve Geral até que Rosselló e seu partido sejam derrubados. Como os professores de Porto Rico demonstraram nas magníficas greves dos últimos anos, o poder da classe trabalhadora pode paralisar o país e pôr o governo de joelhos. Além disso, as massas precisam de um esforço coordenado para conseguir uma completa derrocada da classe dominante e de seus representantes políticos no PNP e no Partido Democrático Popular (PPD), o outro partido dominante.

Um governo de, por e para a classe trabalhadora de Boricua, lutando para implementar um programa socialista que possa atender as necessidades das massas na ilha, enviaria ondas de choque por todo o Caribe e além. Eletrificaria os milhões de porto-riquenhos que vivem nos Estados Unidos que já estão realizando protestos de solidariedade, sem mencionar o movimento trabalhista organicamente conectado e a classe trabalhadora mais ampla dos EUA. Os porto-riquenhos são cidadãos dos EUA e os destinos da ilha e do continente estão intrinsecamente interligados – não há solução dentro dos limites da própria ilha.

Por uma greve geral total para limpar Ricky e seus companheiros!

Nenhuma confiança no PNP ou no PPD!

Para um governo socialista de trabalhadores em Porto Rico!

Para uma Federação Socialista do Caribe como parte de uma Federação Socialista das Américas!

 

* Traduzido do original “Puerto Rico: mass demonstrations mount pressure on Governor Rosselló to resign” [marxist.com/puerto-rico-mass-demonstrations-mount-pressure-on-governor-rossello-to-resign.htm];

* Tradução: Marcelo Pancher.

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