Uma introdução à história da URSS: relato do Acampamento Comunista Internacionalista 2024
Desde que iniciamos a campanha “Você é Comunista? Então, organize-se!” uma nova geração de lutadores encontrou em nossas fileiras um lugar para atuar pelo comunismo. Ao mesmo tempo, até que encontrassem nossa organização, muitos dos novos camaradas e dos jovens com quem dialogamos diariamente estão sob a influência de defensores das ideias do stalinismo, isto é, as ideias do socialismo num só país, da revolução por etapas, das frentes populares, da coexistência pacífica e assim por diante.
Apesar de que o stalinismo enquanto aparato não exista mais e não tenha a força e a influência que tinha na vida de milhares de pessoas como teve no passado, as ideias stalinistas continuam a ser ventiladas por esses influencers e daí a necessidade de introduzir esse debate no Acampamento Comunista Internacionalista 2024 com a mesa apresentada pela camarada Lucy Dias: “URSS: Da Guerra Civil ao Colapso”.
Após longos anos de luta, a classe trabalhadora fez a Revolução na Rússia. Isso só pôde ser feito a partir dos ensinamentos práticos que a classe trabalhadora acumulou e a atuação dos Bolcheviques, que se fizeram capazes de conduzir as massas rumo a vitória. Desde o início, Trotsky e Lênin entendiam que a Revolução Russa era uma etapa da revolução mundial, que não era possível manter as conquistas da revolução sem que ela se estendesse para as regiões capitalistas mais avançadas da Europa, em especial a Alemanha.
Em seu informe, a camarada abordou temas como as consequências da guerra civil, a importância do X Congresso do Partido Comunista da União Soviética, que aprovou a Nova Política Econômica (NEP), entre outras medidas para combater a militarização do partido bolchevique.
Também foi explicado as consequências da NEP e a consolidação burocrática, quando Stálin elimina as diferentes oposições e passa a governar sozinho. Com o fim da NEP tem início o primeiro plano quinquenal de Stálin, no contexto externo, e a ascensão de Hitler na Alemanha, no contexto externo. A ascensão do nazismo, resultado direto da política do “social-fascismo”, aprovado pela Internacional Comunista no seu VI Congresso, em 1928, impedindo que comunistas e social-democratas se unissem.
A década de 1930 será particularmente conturbada na URSS. Stálin desencadeia os Processos de Moscou e a partir daí se inicia um banho de sangue. Na tentativa de pôr fim à revolução de outubro e ao internacionalismo proletário, Stálin organiza o massacre de todos aqueles que tinham a breve lembrança do que era o partido bolchevique e seus princípios.
Passando para os governos seguintes, outro ponto interessante abordado no informe foi o relatório “secreto” de Kruschov, apresentado no XXº Congresso do PCUS em 1956 – três anos após a morte de Stálin. Esse relatório faz uma “crítica” a todo o terror e perseguição perpetuado por Stálin. Nas palavras da própria camarada Lucy, foi tático “condenar o homem, mas não condenar sua política”, para dar seguimento à gestão burocrática do Estado e propagandear a “desestalinização” da URSS, se diferenciando do indivíduo Stálin, enquanto mantinha toda sua política anterior.
Por fim, a camarada Lucy comentou sobre o governo de Gorbachov que foi o responsável pela restauração capitalista na Rússia, com diversas medidas econômicas como flexibilização da autonomia financeira das empresas e reabilitação das noções de lucro e de concorrência. O monopólio do comércio exterior foi fortemente limitado, concedeu-se importância ao setor privado. Houve congelamento dos salários ou estreita vinculação com a produtividade.
A partir daí um verdadeiro saque as propriedades coletivas administradas pela burocracia têm início, a burocracia encobre esse saque com privatizações. A casta burocrática parasitária se transforma em uma burguesia igualmente parasitária e mafiosa, sobretudo durante o primeiro mandato eleito para presidente, Boris Yeltsin.
Durante as intervenções, um destaque vai para a fala do camarada Johannes Halter, sobre a burocracia. Ele explicou que ela existe em diferentes formações sociais e modos de produção. Constitui um corpo técnico que realiza as mais diferentes funções para o funcionamento da sociedade. São os administradores dos hospitais, escolas e universidades, por exemplo. Essa camada de burocratas, geralmente oriundos da pequena-burguesia ou que mantém uma mentalidade pequeno-burguesa, num contexto em que as classes dominantes, a burguesia, fora expropriada, ergueu sua cabeça para assumir a direção da URSS e impor seus desejos. Na URSS, a burocracia expropriou o poder político dos sovietes e governou para si própria, em detrimento das massas. Stálin representou essa casta e seus interesses.
Um ponto de extrema importância também colocado foi sobre a exposição de divergências dentro da organização. Se teve algo que a juventude aprendeu foi que as divergências devem ser claramente colocadas, não ignoradas!
Compreender o que foi a URSS, além de nos contar um pouco mais sobre nossa própria história enquanto comunistas, nos permite fazer um balanço sobre as políticas adotadas e suas consequências, além de nos fornecer as armas necessárias para criticá-las e para entender melhor o mundo que vivemos hoje. Por fim, acredito que o essencial seja, cada vez mais, se apropriar do que foi a URSS de fato. Entender o peso do stalinismo para a classe trabalhadora internacionalmente também é imprescindível. Se estamos ainda hoje sob o capitalismo, isso se deve em grande parte à traição que a classe trabalhadora sofreu. Olhando a história, enxergo um banho de sangue e todo um futuro que nos foi negado pelas traições do stalinismo, e, para além de uma revolta militante, há uma tristeza que faz com que olhos se encham de lágrimas. Atualmente, percebemos o avanço das guerras, da miséria e a piora das condições de vida de nossa classe; do capitalismo em sua fase mais bárbara. Contudo, se tem algo que aprendi com a própria Lucy em outro contexto é que não se deve “rir, nem chorar, mas compreender”. Por isso não desanimem, camaradas! Temos as ideias certas e um mundo todo a ganhar!
Agradeço à camarada Lucy pelo informe, por toda a nossa juventude que construiu esse acampamento e acima de tudo, à Organização Comunista Internacionalista, por se manter fiel ao internacionalismo proletário. Abaixo, algumas recomendações que a nossa camarada fez durante o informe:
Outubro – Sergei Eisenstein e Grigori Aleksandrov (Filme)
Três canções para Lenin – Dziga Vertov (Documentário)
Havia alternativa ao stalinismo? – Vadím Rogóvin (Livro)
A Primavera dos Povos Começa Em Praga – Pierre Broué (Livro)
URSS, da revolução ao colapso – Pierre Broué (Livro)
A guerra civil russa – Jean Jaque Marie (Livro)