USP faz despejo dos moradores do bloco D
(imagem: memorialdaresistenciasp.org.br)
O conjunto residencial da USP (CRUSP) foi conquistado como moradia estudantil na década de 60 e se manteve como o principal local de luta pela permanência dos estudantes pobres que entram na universidade. O conjunto é dividido em 8 blocos de 6 andares cada com apartamentos de 3 quartos individuais, com exceção do bloco A1, que possui 6 quartos por apartamento. O estado da moradia é precário e alguns blocos passam pela necessidade urgente de uma reforma total (hidráulica, elétrica, estrutural, etc…). São comuns os casos de acidentes nos apartamentos. As cozinhas estão quase todas fechadas por falta de fogões e risco de explosão nos sistemas de gás. Os elevadores quebram periodicamente e as lavanderias estão quase todas fechadas. Sempre houve a necessidade de reforma, mas quando essa foi anunciada, depois de muita luta dos estudantes e trabalhadores, foi da pior forma possível.
Nesta última segunda-feira foi finalizado o despejo dos moradores do bloco D do CRUSP, cedo no mesmo dia a guarda universitária notificou os moradores de que eles deveriam deixar os apartamentos pois o bloco seria fechado para o prosseguimento das obras. Isso ocorreu devido a pressões da empresa responsável pela obra, que ameaça cobrar da USP uma multa por atraso, segundo o relato de alguns funcionários que estiveram presentes no momento em que a última pessoa foi realocada.
O que antecedeu esse evento foi uma sequência de despejos graduais de calouros e estudantes que precisam de vaga. Quando anunciada a obra, no começo do ano, os moradores antigos receberam em choque a notícia de que teriam que sair do bloco sem nenhuma realocação por parte da USP. O que deveria ser feito nesse momento era uma garantia de moradia, dado que a grande maioria dos moradores não tinha nenhuma perspectiva de para onde poderia ir e, por estarem no CRUSP, fica claro que eram na maioria estudantes de baixa renda que não poderiam pegar o auxílio e alugar um local em São Paulo. O auxílio moradia atualmente é de apenas 500 reais, e a solução da assistência social foi oferecer os auxílios e um grande “se vira”. Uma situação desesperadora. Os moradores junto com outros cruspianos e algumas organizações organizaram-se em um comitê por uma reforma, com participação dos moradores, com algumas frentes de ação e com um grupo de trabalho jurídico, que conseguiu um adiamento parcial da reforma, até que todos os moradores conseguissem sozinhos algum lugar. Porém, no geral, o resultado foi a saída gradual dos moradores para fora do CRUSP ou para outros apartamentos onde surgiam vagas, o que era muito difícil e insuficiente, dado o número reduzido de vagas que é realidade do conjunto residencial desde muito tempo atrás. Essa foi a primeira fase de despejos, mas não se encerrou nesse momento, dado que o problema da falta de vagas coexiste com o aumento do número do número de pessoas entrando na universidade que não podem se manter sem os auxílios da universidade. Desse modo, durante o período de intervalo entre a saída de todos os moradores entraram outros moradores que ingressaram na USP esse ano, e que precisam do CRUSP, e que encontraram a situação de um bloco a menos, com quase duzentas vagas impossibilitadas.
Com essa situação, a USP, principalmente por intermédio da SAS (superintendência de assistência social) deveria ter percebido que eliminar esse tanto de vagas e deixar a entrega nas mãos de uma empresa não era nem de longe a solução para o problema da moradia. Mas a realidade foi outra. Como em muitos momentos, existe um modo operante de culpabilização dos estudantes não regularizados pela SAS. Esses alunos enfrentam perseguição, junto com os outros moradores que estão nos apartamentos. Em muitos momentos, os moradores receberam cartas oficiais ameaçando expulsar todos os regulares caso eles não retirassem os irregulares, o que é uma violência gigante contra moradores e estudantes em situação de extrema fragilidade e sem outras perspectivas além da moradia estudantil. Leia-se que os critérios da SAS encontram na realidade uma série de erros, isso por vários fatores, como a falta de vagas, critérios arbitrários e uma pesquisa da vida dos futuros moradores que é completamente insuficiente. Existiram casos em que moradores de outra cidade e que claramente precisavam de vagas não conseguiram o direito a vaga e precisaram entrar irregularmente, ao mesmo passo que algumas pessoas com recursos financeiros conseguiram vagas, ou seja, os critérios para regularização são insuficientes e colocam estudantes em situação vulnerável na posição de ser expulsos ou ameaçados pela instituição.
Essa é a tônica do segundo despejo do bloco D, a situação dos moradores irregulares é novamente “resolvida” pela USP com expulsão e mais vulnerabilidade, antes dessa última expulsão os moradores que ocuparam legitimamente as vagas, dada a necessidade, começaram a passar pelo mesmo processo de expulsão, que a princípio não se deu pela violência direta (desocupação dos moradores pela polícia). Nas últimas semanas os moradores começaram a receber uma série de cortes de água e luz, o que foi indiretamente um ataque para a saída dos moradores, e que acarretou a saída de algumas das pessoas que ocupavam o bloco. Alguns dias depois, começou a correr pelos grupos do CRUSP alguns prints de relatos dos moradores sobre uma “assistente social, um oficial de justiça e alguns burocratas” invadindo os apartamentos e dando um veredito para os que estavam no bloco:
No dia em que os últimos moradores receberam o veredito, alguns estudantes junto com o DCE e alguns centros acadêmicos, em mais ou menos 30 pessoas, fizeram uma pequena mobilização na frente do bloco para impedir a expulsão dos moradores pela guarda. Essa mobilização causou algum efeito dado que só foi finalizado apenas quando garantida a moradia emergencial da última moradora. Mas em relação à questão mais geral da moradia foi uma derrota, dado que o bloco foi entregue para a reforma e o problema da falta de vagas não foi resolvido de maneira alguma. Não se sabe quanto tempo irá demorar a reforma e defender que ela ocorra em um dos blocos já usados é um erro frente a situação material da universidade atualmente. Um pouco antes da construção do bloco A1, dois dos blocos (K e L) foram entregues para a reitoria, retirando mais de 400 possíveis vagas para setores burocráticos da universidade que tem toda a possibilidade de transferir-se para outro lugar, mas isso apenas pode acontecer se a questão da permanência for colocada na ordem do dia, e como podemos ver, não é esse o caso.
Nós da Liberdade e Luta defendemos que a reforma precisa passar por outro processo, que passa pela devolução dos blocos K e L, que atualmente apenas servem para guardar arquivos, para a moradia estudantil e esses devem ser reformados em primeiro lugar, garantindo não apenas vagas referentes a um bloco, mas sim mais de 400 vagas de CRUSP para os estudantes e moradores que já estão na universidade e que vão entrar nos próximos anos. Depois dessa reforma, os blocos devem ser utilizados como moradia temporária para os moradores, sem um abrupto despejo. Desse modo, os moradores conseguirão se manter em suas atividades, que já são muito difíceis de levar por si só e são impossíveis com todos esses impasses.
Os ataques contra a moradia pública para os estudantes pobres é parte do processo de privatização da USP que avança cada vez mais, manter a moradia estudantil é caminho contrário em relação a esse avanço, o conjunto de estudantes e trabalhadores devem se colocar em luta no outro sentido; contra a privatização da universidade e pelo avanço da USP pública, gratuita e para todos, direcionando-a para a permanência dos filhos da classe trabalhadora. É claro que isso não resolve de maneira alguma os problemas do ingresso que apenas podem ser resolvidos com o fim do vestibular e o avanço das universidades públicas no país, mas estão na ordem do dia o fim do avanço da privatização e a luta pela ampliação da permanência estudantil, e nesse caso a luta pela permanência de todos os estudantes pobres que ingressam na universidade e que precisam se manter para conseguir se formar.
Diante disso, convocamos a todos estudantes a compor no ato do dia 07/07 às 18h no Vão da história e geografia da FFLCH para lutar em defesa da moradia estudantil!
- Fim dos vestibulares! Vagas para todos em universidades públicas!
- Abaixo o pagamento da Dívida Pública! Todo o investimento necessário em educação, saúde, transporte e moradia públicos, gratuitos e para todos!
- Permanência estudantil para todos! Bolsas de pesquisa, bolsas de auxílio, vagas nas moradias e restaurantes universitários gratuitos para todos! Retomada dos blocos K e L da moradia já!
- Por mais contratações! Abaixo as demissões e o congelamento de salários!
- Pela contratação direta, efetiva e imediata de todos os trabalhadores terceirizados, com os mesmos direitos e salários dos servidores e com estabilidade no emprego!
- Fim da polícia militar! Fora PM da USP! Abaixo a repressão!
- Abaixo o governo Bolsonaro! Abaixo o capitalismo! Pela revolução socialista com um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!