20 anos do movimento das fábricas ocupadas e as lições para a juventude

Há 20 anos, em 31 de outubro de 2002, os operários de duas fábricas tradicionais de transformação de plásticos na maior cidade de Santa Catarina, Joinville, decidiram tomar o controle da produção e de suas vidas. Em uma ocupação extraordinária na história do Brasil e de toda a América Latina, os trabalhadores demonstraram não somente a possibilidade, mas a necessidade da superação das relações burguesas de produção, expulsando os patrões, lutando por seus empregos, pela estatização das fábricas e pelo socialismo internacional.

Após os catastróficos governos pós-ditadura militar, o proletariado construiu sua central sindical, a CUT e o Partido dos Trabalhadores e elegeu o primeiro presidente operário do Brasil que deveria representar a classe operária. Massivamente, Lula e o PT conformaram a esperança de um outro país, onde o poder não estivesse mais nas mãos dos exploradores, mas dos trabalhadores.

Neste contexto efervescente, os trabalhadores de Cipla e Interfibra, as referidas fábricas de Joinville, penavam com anos de atrasos salariais, não pagamento de seus direitos trabalhistas e superexploração de sua força de trabalho. Antes mesmo da eleição de Lula, em outubro de 2002, esses trabalhadores realizaram uma importante paralisação reivindicando seus direitos em janeiro daquele ano, sem qualquer apoio da direção do sindicato dos plásticos, que possuía caráter patronal. As lideranças da greve foram demitidas e os operários sofreram mais represálias.

Em 24 de outubro de 2002, novamente contra a vontade da direção de seu sindicato, os operários de Cipla e Interfibra iniciaram a greve que os levariam à ocupação e controle das fábricas, oficializada em 31 de outubro. As repressões dos donos foram respondidas com luta operária a partir da direção dos militantes da atual Esquerda Marxista, organização responsável pela formação e orientações políticas, jurídicas e de toda a convivência da ocupação. Esse processo na Cipla e Interfibra desenvolveu o Movimento das Fábricas Ocupadas, que chegou a ser composto por mais de 30 ocupações fabris no Brasil e em conexão com ocupações na Argentina, na Bolívia, na Venezuela e em outros países do continente.

A experiência expressou e reivindicou o programa de transição socialista. Os operários controlaram toda a produção em poucos meses, colocando em dia todos os atrasos salariais, diminuindo a jornada de trabalho primeiro de 44 para 40 horas semanais e, depois, para 30 horas sem qualquer redução salarial. Os acidentes de trabalho caíram bruscamente, a solidariedade e o companheirismo entre os operários eram amplamente valorizados. Tais conquistas, consequentemente, aumentaram como nunca a produtividade destas fábricas. Os operários e suas famílias comungavam de mais horas de lazer, cultura e formação política, arrancando a alienação do trabalho.

Os trabalhadores lutavam pela estatização das fábricas e exigiam do governo Lula essa reinvindicação. Contudo, não foram atendidos e apesar de todas as conquistas do movimento, o fim da ocupação foi uma expressão da traição histórica dos governos petistas, que permitiram a intervenção da Polícia Federal com mais de 150 policiais armados em 31 de maio de 2007, a mando do Ministério do Trabalho. O interventor, colocado na fábrica por ordem judicial para responder às exigências da burguesia, passou a intimidar os operários, demitindo um por um. Os dirigentes políticos foram acusados de formação de quadrilha e outros “crimes”, aos quais foram absolvidos posteriormente, através da luta.

O movimento das Fábricas Ocupadas, que foi iniciado pela ocupação da Cipla em Joinville, é de extrema importância para a juventude. Mostrou um caminho a seguir frente a crise que os capitalistas organizam e querem nos impor com desemprego, demissão e carestia. Também confirmou a perspectiva da Revolução Permanente, ou seja, de que era necessário generalizar o movimento de ocupação e que uma fábrica ocupada sozinha seria estrangulada pelo Estado burguês. Apontou para a ruptura com esse sistema podre e enche de confiança as novas gerações da classe trabalhadora que estão fartos da exploração e opressão. Ensinou um valioso método de luta, a greve com ocupação, que já foi ensaiada pela juventude secundarista contra o fechamento de suas escolas em 2015. Esses são os nossos heróis, os heróis da nossa classe, que nos mostraram que é possível um mundo sem patrões, que os trabalhadores são sim capazes de organizar a produção e a vida, segundo seus interesses. Um outro mundo é possível e ele é baseado na planificação da economia com os trabalhadores controlando democraticamente a produção, o socialismo em escala internacional.

Convidamos toda a juventude a se somar nas celebrações dos 20 anos da Ocupação da Cipla e do resgate da memória do Movimento das Fábricas Ocupadas, participando dos cine-debates organizados pela Liberdade e Luta e acompanhando nossas publicações para conhecer mais.

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