Parte 5 (Conclusão) – A “unidade dos aparelhos” e a necessária Frente Única proletária

Parte 5 (Conclusão) – A “unidade dos aparelhos” e a necessária Frente Única proletária – A luta pela Frente Única proletária no movimento estudantil: uma análise marxista das teses ao 57º Congresso da UNE 

[PARTE 1]

[PARTE 2]

[PARTE 3]

[PARTE 4]

A classe trabalhadora e a juventude tendem a aprender na prática a necessidade da unidade em sua luta para derrotar a burguesia. Durante toda a história do movimento operário, buscando tornar-se classe para si, ou seja, construir sua organização independente da burguesia e atuar na luta de classes, a classe operária luta pela sua independência e a sua unidade de classe.

“O problema da frente única – apesar da divisão inevitável nessa época entre as diversas organizações políticas que se fundamentam na classe operária – surge da necessidade urgente de assegurar à classe operária a possibilidade de uma frente única na luta contra o capital” (Trotsky em 1922. Sobre a Frente Única).[1]

Lamentavelmente, a unidade da classe operária e da juventude para sua autodefesa e auto-organização é utilizado de forma distorcida pelas direções dos aparatos, para controlar a fúria e impedir explosões revolucionárias, convertendo a necessária Frente Única proletária em “frente popular”, “frente de esquerda”, “frente revolucionária”, “frente ampla” e “frente democrática”, abandonando a independência de classe e unificando os partidos e organizações da classe trabalhadora e de sua juventude com partidos burgueses, em torno de uma política reacionária, de bloqueio das lutas e de sustentação do regime burguês, ainda que se apresentem com um palavreado revolucionário (em alguns casos nem isso).

As eleições de 2018 polarizaram ainda mais a situação política no Brasil e a ausência de uma verdadeira opção revolucionária à esquerda levou Bolsonaro a ser eleito: o candidato que dizia que é preciso “mudar tudo que está aí”, aparecia para muitas pessoas como uma alternativa “independente”, saindo das grandes emissoras e fazendo lives aparentemente com recursos próprios. A demagogia de Bolsonaro conseguiu capturar o sentimento da maioria das pessoas de que esse sistema, o capitalismo, não nos serve.

Mas para os setores de esquerda que não acreditam mais na força da classe trabalhadora e da juventude, a eleição de Bolsonaro representou “o avanço das forças conservadoras e a ascensão do fascismo no Brasil”. Uma análise como essa, se fosse verdade, deveria levar os aparatos das grandes organizações a mobilizar e encorajar os trabalhadores a se organizarem para derrubar tal governo fascista, certo? Não para a direção dessas organizações de esquerda, que compreenderam o momento como sendo “defensivo”.

A própria concepção de onda conservadora está errada. A conjuntura não é essa, não vivemos no fascismo e muito menos em uma “onda conservadora”. As maravilhosas demonstrações disso estão evidentes com uma verdadeira onda revolucionária percorrendo a América Latina e o mundo, que foi momentaneamente abafada pela pandemia da Covid-19, mas que explodiu em grandes mobilizações em 2020 e em 2021 como vimos ao redor do mundo.

A verdade é que o governo Bolsonaro é um governo extremamente frágil e só não foi abaixo ainda porque as direções dos aparatos reformistas e oportunistas fazem uma pressão gigantesca contra a mobilização das massas trabalhadoras e da juventude para pôr abaixo esse governo imediatamente… As mobilizações da juventude contra os cortes na educação em 15 e 30/05/2019 (primeiros meses do mandato de Bolsonaro) demonstraram que, para derrotar os ataques, é preciso uma atitude ofensiva e por isso começaram a impor a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” em comum, contra todas as direções das grandes organizações.

Agora, que diversas organizações de esquerda e de direita, até mesmo o PSDB, estão sendo obrigadas a ir para as ruas pelo Fora Bolsonaro respondendo ao tamanho da pressão da juventude e dos trabalhadores, buscam desvirtuar o conteúdo revolucionário que essa palavra de ordem tinha. Apontam para impeachment ou eleições, quando o sentido revolucionário e que as massas anteriormente se agarraram foi pôr abaixo o governo como um todo e as instituições apodrecidas da democracia burguesa. É construir um governo dos trabalhadores para os trabalhadores, sem patrões nem generais.  A Liberdade e Luta tem defendido a linha “Abaixo Bolsonaro Já! Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais”, apontando uma perspectiva revolucionária, de ruptura com o sistema capitalista e sua democracia, apontando um caminho socialista, onde os trabalhadores coloquem a economia democraticamente sob seu controle, estatizando a produção e o sistema financeiro. Somente assim nossas necessidades como emprego, saúde, lazer, cultura, educação, previdência, assistência poderão ser verdadeiramente atendidas!

“Não apenas os comunistas não devem se opor a essas ações comuns, mas, ao contrário, devem tomar a iniciativa, justamente porque quanto maiores são as massas atraídas ao movimento, mais alta se torna a consciência de sua força, mais segura se torna de si mesma, e mais se tornam capazes de marchar adiante, por mais modestas que tenham sido as consignas iniciais da luta. Isso quer dizer também que a ampliação do movimento das massas aumenta seu caráter revolucionário e cria condições mais favoráveis para as consignas, para os métodos de luta e, em geral, para a direção do Partido Comunista” (Trotsky em 1922. Sobre a Frente Única).

Mas para os dirigentes oportunistas e reformistas, o significado da Frente Única é um acordo pelas cúpulas, pelas direções desses aparatos burocratizados, sem princípios, onde se abandona a independência de classe e se faz a unidade com a burguesia. A consequência não pode ser outra senão a traição das necessidades imediatas e históricas da classe trabalhadora e a desmoralização.

Por exemplo, a greve geral de junho de 2019, com adesão de 45 milhões de trabalhadores, não foi capaz de evitar a aprovação da Reforma da Previdência, mesmo que a proposta inicial do governo tenha sido derrotada. Isso aconteceu não porque os trabalhadores não estão dispostos a lutar, mas porque as direções que estão em sua cabeça não têm um programa revolucionário, não aplicam a Frente Única para pôr abaixo esse governo. Elas próprias deixaram de confiar nos trabalhadores e somente conseguem se manter como direção por manobras burocráticas e pela subordinação ao Estado burguês, o que lhes garantem acesso a fundos de dinheiro deste, sem que precisem realmente conquistar a confiança da classe para lhes financiar.

Essa realidade não é diferente no movimento estudantil. Ao utilizar a tática da Frente Única, ajudamos a juventude e os trabalhadores a fazer a experiência com suas velhas direções, colocando à prova seus programas. A experiência da Frente Única é absolutamente necessária para vencer as ilusões que os trabalhadores possam ter e preparar o caminho para a superação dessas direções.

“A unidade da frente pressupõe, de nossa parte, portanto, a decisão de organizar na prática nossas ações, dentro de determinados limites e sobre questões determinadas, com as organizações reformistas, enquanto estas representam ainda hoje a vontade de frações importantes do proletariado em luta” (Trotsky em 1922. Sobre a Frente Única).

Assim, como marxistas e revolucionários, buscamos apresentar e construir um programa para os trabalhadores e jovens independente da burguesia, lutando pela construção de um grande partido revolucionário tão necessário para ajudar a classe trabalhadora a enterrar de vez esse sistema e construir um novo mundo, um mundo socialista. Isso de modo algum nos separa da luta ombro a ombro com milhões de jovens e trabalhadores que se levantam para a luta, mas ainda têm ilusões em suas direções reformistas. Seguimos apresentando um programa independente e revolucionário, ao mesmo tempo em que nos somamos nas ações em conjunto das massas oprimidas e exploradas e as organizações proletárias para, em unidade, superar as ilusões dos jovens e trabalhadores e construir uma direção revolucionária.

Referências:

[1] Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1922/02/frente.htm

LISTA DE SIGLAS E ORGANIZAÇÕES CITADAS NO DOCUMENTO

  • UNE – UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES
  • PT – PARTIDO DOS TRABALHADORES
  • PCdoB – PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL
  • PSOL – PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE
  • PDT – PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA
  • PCB – PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO
  • PCR – PARTIDO COMUNISTA REVOLUCIONÁRIO
  • UP – UNIDADE POPULAR
  • UBES – UNIÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS
  • ANPG – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PÓS-GRADUANDOS
  • CUT – CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES
  • ANEL – ASSEMBLEIA NACIONAL DE ESTUDANTES LIVRES
  • PSTU – PARTUDO SOCIALISTA DOS TRABALHADORES UNIFICADO
  • CSP-CONLUTAS – CENTRAL SINDICAL E POPULAR Conlutas
  • UJS – UNIÃO DA JUVENTUDE SOCIALISTA
  • LPJ – LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE
  • JS – JUVENTUDE SOCIALISTA
  • ANUP – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS UNIVERSIDADES PRIVADAS
  • JAE – JUVENTUDE DA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA
  • DS – DEMOCRACIA SOCIALISTA
  • PPL – PARTIDO PÁTRIA LIVRE
  • PSB – PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO
  • UJR – UNIÃO DA JUVENTUDE REBELIÃO
  • MTST – MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO
  • CST – CORRENTE SOCIALISTA DOS TRABALHADORES
  • MRT – MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO DOS TRABALHADORES
  • MES – MOVIMENTO ESQUERDA SOCIALISTA
  • PSDB – PARTIDO DA SOCIAL-DEMOCRACIA BRASILEIRA
  • FHC – FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
  • STF – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
  • Unesp – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SÃO PAULO
  • CONUNE – CONGRESSO DA UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES
  • MUP – MOVIMENTO UNIVERSIDADE POPULAR
  • IC – INTERNACIONAL COMUNISTA
  • MDB – MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO
  • PROUNI – PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS
  • FIES – FINANCIAMENTO ESTUDANTIL
  • REVOLUÇÃO BRASILEIRA
  • RUA JUVENTUDE ANTICAPITALISTA
  • AFRONTE
  • MANIFESTA
  • BRIGADAS POPULARES
  • OCUPE
  • CONSTRUÇÃO
  • O ESTOPIM
  • MUDA
  • FAÍSCA
  • JUNTOS
  • CONSULTA POPULAR
  • REBELDIA
  • MOVIMENTO MUTIRÃO
  • MOVIMENTO CORRENTEZA
  • QUILOMBO
  • ENFRENTE
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