Os comunistas e as mudanças anunciadas pela Meta

No início de janeiro, o dono de uma das maiores empresas do mundo anunciou mudanças em suas políticas de funcionamento. Esse é Mark Zuckerberg, da Meta, a gigante que comanda Facebook, Instagram, Threads e o Whatsapp.

Como comunistas, é nosso dever não sermos alarmistas, mas compreender. Podemos afirmar sem sombra de dúvidas que essas mudanças devem impactar a maneira como usamos as redes sociais, ainda assim não nutrimos ilusões de que a política anterior tivesse qualquer “boa intenção” contra a disseminação de fakenews.

Os comunistas não demonizam a tecnologia, procuramos refletir e apontar sobre a maneira como ela é utilizada. E quais são os interesses por trás desses usos.

É interessante pontuar que a Meta já acumula centenas de processos em suas costas, sejam de famílias que foram vítimas de tráfico sexual/pessoas por meio das plataformas, de acionistas da empresa que processaram os próprios executivos e diretores, acusando-os de não cumprirem com seus deveres, e até mesmo de pessoas inconformadas com a maneira como as redes foram construídas para viciá-las em seu conteúdo – e como isso afetou negativamente as suas vidas.

É o jogo da burguesia, em busca incessante por seu lucro, influenciando diretamente na qualidade (ou falta) de vida de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Em 2024, o número de usuários de redes sociais era de 5,4 bilhões.

Mas quais são, então, essas mudanças?

Em um vídeo divulgado em seu próprio perfil do Instagram, o chefão Mark Zuckerberg explica ponto a ponto as mudanças programadas. Todas giram em torno do que ele chama de “liberdade de expressão”. Ele explica que o monitoramento de postagens tem retirado do ar uma infinidade de conteúdo que poderia gerar engajamento, o que ele define como censura. De maneira inteligente, Mark Zuckerberg manipula suas palavras de acordo com o que lhe convém: é o puro suco da demagogia.

As novas regras permitem até mesmo associar livremente a homossexualidade e transexualidade a doenças mentais, por exemplo. É isso que, para a Meta, significa liberdade de expressão: permitir que todos falem qualquer bobagem que lhes vier à cabeça, sem qualquer punição ou reeducação.

Isso significa que Mark Zuckerberg despreze bissexuais, gays, lésbicas? Provavelmente. Seria ele um monstro que odeia crianças e por isso não age efetivamente contra as redes que conectam pedófilos a crianças para que sejam abusadas, as quais operam tranquilamente entre o Facebook e Instagram? Difícil saber o que se passa em sua cabeça. Esse tema esteve em alta em 2023, com uma ação sendo movida por um estado dos Estados Unidos contra a empresa. O fato é que como estão as redes sociais são usadas, inclusive para cometer crimes de todo tipo.  

 Apesar de desprezarmos essas figuras por suas posições políticas, fazemos aqui uma análise de classe, portanto, política e não um juízo de valor sobre quem eles são. Mark Zuckerberg é um dos mais conhecidos representantes da classe dominante do nosso tempo, e são esses interesses que comandam suas decisões.

Trump foi eleito presidente dos EUA com apoio direto de Elon Musk e uma ala da burguesia norte-americana. Esses senhores doaram milhões de dólares para sua campanha e para o projeto político que ela representa. Essa ala da burguesia pretende resolver os problemas da crise profunda do capitalismo atiçando preconceitos xenofóbicos, racistas, machistas e LGBTfóbicos, dividindo a classe trabalhadora para aprofundar sua dominação de classe. Ampliar permissões nas redes sociais para que essas pessoas, estimuladas por esses preconceitos, possam “falar livremente” faz parte de seu jogo. Como Marx explicou, a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante.

As mudanças nas políticas do Meta expressam a mudança política de Zuckerberg, de crítico a Trump a apoiador de Trump, que por sua vez, expressa o deslocamento de um setor da burguesia norte-americana.

Como já sabemos, as redes sociais, o rádio, a TV, e-mails, a Internet como um todo, enfim, todo o sistema de comunicação está nas mãos da burguesia, assim como os grandes meios de produção. Eles controlam esses sistemas de comunicação, armazenando dados, preferências e utilizam esses sistemas para ampliar o alcance de mercados já existentes e para ditar às massas a sua opinião.  

No Brasil, a partir desse cenário, um Projeto de Lei (PL 2.630/2020) foi criado, conhecido como o PL das FakeNews que visa regulamentar o uso das redes sociais para, supostamente estabelecer a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. O PL além de propor a responsabilização de crimes cometidos na Internet, ainda prevê a responsabilização das próprias empresas por não tomar medidas para frear a desinformação.

Como vemos, a burguesia brasileira está dividida sobre esse tema. Mesmo no Brasil há a ala mais próxima das ideias de Trump, Musk e Zuckerberg – que quer ampliar o uso das redes sociais para disseminar a desinformação. Mas há uma outra ala, representada pelo STF, na figura de Alexandre Moraes, que chegou mesmo a fechar o X no Brasil no ano passado.

Qual a posição dos comunistas?

Em primeiro lugar, exigimos que todos os crimes já previstos em lei – como por exemplo racismo, nazismo, LGBTfobia, pedofilia etc. – que sejam praticados na internet, sejam igualmente punidos. A internet não pode ser uma terra sem lei, onde violências sejam cometidas e não punidas ou até mesmo encorajadas.

Por outro lado, Lenin já explicou há mais de 100 anos que a liberdade, na sociedade capitalista, só existe para a burguesia, que controla todos os meios de produção, de comunicação e as legislações e pode usá-los para seus próprios fins, inclusive reprimir nossa atividade revolucionária. Não temos nenhuma ilusão ou confiança de que o Estado burguês irá regular e fiscalizar as redes sociais ou a imprensa em benefício da verdade e da verdadeira democracia. Ao contrário, os instrumentos criados pela classe burguesa podem muito bem ser utilizados contra a agitação e propaganda dos revolucionários.

No ano passado, por exemplo, denunciamos várias vezes a ingerência dos aplicativos da Meta nos temas relacionados à luta pela causa palestina. Nos qualificando de “terroristas”, impediam publicações relacionadas a esse tema e removiam o conteúdo das redes. Isso aconteceu com vários ativistas, que chegaram mesmo a ter suas redes derrubadas pela empresa.

Os trabalhadores e jovens, por outro lado, tem apenas sua própria organização para alcançar a liberdade, isto é, a derrubada do sistema capitalista através da expropriação dos grandes meios de produção, colocando-os sob controle dos trabalhadores e de seus interesses.

Enquanto comunistas, utilizamos as redes sociais, nosso jornal, revista e site para propagandear nossas ideias e nossa própria organização, de maneira totalmente independente, política e financeiramente. Essas ideias, obviamente, se chocam frontalmente com os interesses da burguesia e de seus representantes ilustres e, portanto, tendem a ter menos alcance. Com a revisão das políticas, a Meta deve entregar ainda menos conteúdo político de caráter revolucionário. Por isso, é importante revisar suas configurações para continuar recebendo nosso conteúdo e considerar apoiar nossa imprensa, seja seguindo nossas redes, seja acompanhando os artigos que publicamos no site, seja comprando nosso jornal e revista.

Mas se você quer mesmo uma solução para isso, organize-se! É através da organização de centenas de milhares de pessoas, no Brasil e no mundo, que podemos colocar os grandes meios de produção e de comunicação a serviço da humanidade e de suas necessidades e não a serviço do lucro e dos interesses da burguesia. Você é comunista? Então, organize-se: https://bit.ly/48Le5rF


Referências:

https://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2024/01/31/redes-sociais-passam-dos-5-bilhoes-de-usuarios-revela-informe.ghtml

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