A luta pela Aliança Operário-Estudantil 

Este artigo foi originalmente publicado na brochura “Sou Liberdade e Luta”, lançada em nossa Conferência Nacional realizada em 23 de outubro de 2021. A brochura tem como objetivo registrar nossa história, nossa fundação, nossos princípios e nossas campanhas. Em 2023, completamos sete anos de existência e decidimos publicar o conteúdo dessa brochura para que todos possam ler e nos conhecer melhor. Ao final deste artigo você também pode baixar o PDF completo da brochura. Você pode contribuir para que possamos seguir publicando materiais como esse e para o autofinanciamento de nossa organização, doando qualquer quantia através do PIX: souliberdadeeluta@gmail.com. ISBN: 978-65-00-32924-7. Boa leitura!

“A classe operária é aquela que o capital depende diretamente para se reproduzir. Ao cruzar os braços, ela coloca em xeque todo o sistema capitalista e só com sua atividade consciente será possível construir o socialismo. Por ser esse o setor fundamental do proletariado, os jovens devem conectar suas lutas aos interesses de emancipação dos operários” (Pela aliança operário-estudantil – Liberdade e Luta).

 Um dos maiores desafios que todo revolucionário tem a enfrentar na busca por uma ruptura com o sistema capitalista, que é o responsável por todas as formas de exploração, é a superação da crise das direções do proletariado. A crise das direções é uma pauta recorrente em toda a história da luta de classes e, em momentos de crise do capitalismo, é possível observar que essas mesmas direções tendem a ter um posicionamento mais “à direita”, sempre lutando com todas as forças para salvar as estruturas que mantêm o sistema em pé. Esses problemas, que já haviam sido observados durante a Revolução Russa e em outros diversos momentos em que o sistema capitalista foi posto em xeque, são tão atuais quanto graves, pois, além disso, hoje existe uma ferramenta ideológica que ajuda a garantir que o sistema capitalista se mantenha intacto: o pós-modernismo.

A linha de pensamento pós-moderna procura questionar as noções clássicas de razão, verdade e emancipação universal. Diferente da luta dos marxistas, que tentam unir os trabalhadores do mundo todo para enfrentar a classe que os oprime, os pensadores pós-modernos enxergam o mundo como um conjunto de culturas e interpretações desunificadas, onde as circunstâncias individuais levam o sujeito à possibilidade de pertencer a um grupo descolado do geral. Grande parte do movimento estudantil brasileiro tem suas discussões girando em torno dessas pautas pós-modernas, o que impede uma união dos estudantes com outros setores que não são explorados da mesma forma. E dentro da diversidade, presente entre os estudantes, surgem novas formas de subdividir os estudantes, jovens e trabalhadores em torno das suas individualidades. Uma das maiores influências dentro dessas correntes é o filósofo francês Michael Foucault, porém a sua influência não ficou apenas  na esquerda acadêmica, pois mesmo as direções dos partidos que se reivindicam de esquerda estão regularmente difundindo suas ideias.

Para Foucault as “relações de poder” são tratadas de forma abstrata, em que todos são agentes de uma forma de opressão. Isso faz com que a luta seja descentralizada criando um desfoque na luta de classes e levando o foco para diversas lutas individuais. O problema é que essa ideologia implica em uma confusão em toda a esquerda, a deixando sem programa e ofuscando os seus principais objetivos. 

O marxismo deve ser utilizado como uma ferramenta para unir as lutas e vincular o particular ao geral, sendo, assim, a saída para iluminar os “caminhos sem saídas” onde os trabalhadores são colocados. A saída é o marxismo, a revolução. Porém não se pode negar a existência de diversas formas de opressão além da exploração de classe, como a descriminação por gênero, cor, orientação sexual, religião e nacionalidade. Contudo, compreendemos que essas explorações e opressões são intensificadas pelo sistema, utilizadas para estabelecer divisões e impedir a luta solidária entre os povos e entre os trabalhadores. A revolução acontecerá pelas mãos de homens e mulheres com problemas reais ligados ao cotidiano, muitos com preconceitos que a própria moral burguesa impõe para manter o sistema funcionando. 

A ideologia pós-moderna está muito presente no movimento estudantil e nas direções dos partidos de esquerda, algo que não deixa de ser mais uma forma de manifestar sua traição. A burguesia sabe bem que, para ela, essas ideias são inofensivas e vêem com bons olhos a sua difusão, tanto sabem, que muitas vezes se apropriam delas para criar uma forma de “capitalismo consciente”, uma ideia inconcebível para qualquer um que olhe para o mundo com uma filosofia materialista e dialética. Portanto, ou as direções dos partidos de esquerda e direções do movimento estudantil não entenderam o marxismo, ou são declaradamente traidoras dos trabalhadores e não têm como objetivo a sua emancipação, apenas usam máscaras que escondem que, no fundo, lutam é para manter o sistema capitalista vivo.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) durante muitos anos participou de forma muito combativa, lutando por pautas centrais que atingiam tanto aos estudantes quanto aos trabalhadores, como a campanha pela estatização do petróleo no Brasil (“O Petróleo é Nosso”) nos anos 1950, que culminou na criação da Petrobrás em 1954. Lutou de frente contra a Ditadura Militar de 1964, e participou de embates que aliaram estudantes, operários e camponeses em 1968 contra o regime. Nos anos 1970, a entidade voltou a se reorganizar, após ter sua sede queimada pela Ditadura e seus membros e dirigentes presos e perseguidos. Em 1979, ainda durante a Ditadura, a UNE é reconstruída no seu 31º Congresso, em Salvador, Bahia. No Manifesto e na Carta de Princípios adotadas, a UNE assume uma série de bandeiras fundamentais, entre elas, a luta por educação pública, gratuita e para todos e a solidariedade com as lutas dos trabalhadores de todo o mundo. Hoje, no entanto, a UNE tem uma atuação vergonhosa para os interesses dos estudantes e trabalhadores, tendo um papel de manutenção do capitalismo e  suas pautas girando em torno de temas pós-modernos. As direções da união nacional dos estudantes, estão ligadas a partidos que têm o papel de não confrontar o sistema capitalista. O ex-presidente da UNE, Iago Montalvão, já se reuniu com o ex-ministro da educação Abraham Weintraub para discutir programas como o “Future-se” e não tomou medidas para unificar os estudantes e lutar por uma pauta dos trabalhadores como a reforma da previdência. Essa é a mesma direção da UNE que garantiu que a palavra de ordem “fora Bolsonaro” não fosse difundida por milhares de estudantes e no seu lugar colocou palavras como “Lula livre” ou “o Brasil se une pela educação”. 

Se a direção do movimento estudantil não está disposta a enfrentar o sistema capitalista, as direções dos partidos estão muito menos. Essas direções têm atuado como freio na luta em defesa dos direitos e contra as reformas ultrarreacionárias e liberais. Também têm atuado como freio na mobilização dos trabalhadores, impedindo a unificação das suas greves em um poderoso movimento de greve geral para pôr abaixo esse governo e construir uma alternativa socialista. 

A luta por melhores condições de estudo e trabalho e por um futuro unificam jovens e trabalhadores. A história nos mostra exemplos onde essa união  aconteceu de forma concreta e um dos maiores deles foi o de maio de 68. O mês de maio de 1968 ficou internacionalmente conhecido por ter sido um momento de despertar social que se iniciou a partir de protestos estudantis em Paris. Esses protestos, não foram puramente estudantis e espalharam pelo país, comovendo os trabalhadores e os trazendo para a luta, iniciando uma greve geral que abalou a ordem da Quinta República Francesa. Não só na França, mas em diversos países do mundo, jovens e trabalhadores se unificaram para defender seus direitos e questionar o sistema. Foi assim na luta pelos direitos civis nos EUA, no México, no Brasil e também na luta contra as burocracias stalinistas no Leste Europeu, como na Tchecoslováquia. 1968 foi o ano da unidade internacional da luta de classes, no qual jovens e trabalhadores estiveram unidos nas ruas e nas lutas.

Jovens e trabalhadores estão do mesmo lado. Seus interesses fundamentais na luta contra a opressão e exploração são os mesmos e a cada combate, seja por um aumento salarial, seja contra o fechamento de uma escola, a unidade é a chave para vencer. Por isso, defendemos a aliança operário-estudantil. Jovens combatendo lado a lado com a classe trabalhadora, vendo o mundo como os olhos da classe trabalhadora. Pois a classe trabalhadora é a única classe revolucionária presente na sociedade atual, sua emancipação corresponde a emancipação da Humanidade como um todo da divisão da sociedade em classes.

O capitalismo não tem nada a oferecer à juventude. É ao lado da classe trabalhadora em sua luta pela emancipação do capital e no estabelecimento de uma sociedade socialista que a juventude poderá trilhar uma perspectiva de um futuro e conquistar seu direito à felicidade. Por isso, desde já atuamos lado a lado com os trabalhadores, nos solidarizando com as suas lutas, apoiando suas greves, organizando discussões sobre o movimento operário internacional e aprendendo seus métodos históricos de luta e organização. 

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