A que deve servir o CA XI de agosto da USP? Como é o CA de que nós precisamos?
O CA XI de agosto é o centro acadêmico mais antigo e tem relevante importância no cenário político nacional. Sua história é cheia de contradições, tendo sido presidido por figuras de diversos espectros políticos, sendo Michel Temer e Fernando Haddad alguns exemplos. No entanto, o CA tem uma história de lutas contra as opressões da direita e da burguesia brasileira, e todos nós, estudantes da Faculdade de Direito da USP, sempre nos orgulhamos (ou pelo menos todos deveriam) de andar pelas arcadas e ler as plaquinhas com dizeres sobre a resistência do movimento estudantil contra a Ditadura Militar.
Em 2019, presenciamos a vitória do movimento Travessia (composto pelas correntes UJC e Juntos, entre outras) e a cerimônia de posse, que tocou em pontos muito sensíveis. Todos que estavam lá sempre se lembrarão do peso que o evento teve, denunciando a história e a estrutura racista e elitista da faculdade. No entanto, apesar do grito que rodou pelos corredores da São Francisco antes das eleições do CA, com cantos de “o Travessia vai virar a San Fran do avesso” e as promessas de uma gestão revolucionária, fato é que a gestão atual não conseguiu atuar para transcender as contradições que a posição que o CA ocupa apresenta. É inegável que a gestão trouxe avanços, e é importante que recentemente tenha quitado todas as dívidas trabalhistas do XI. Não podemos deixar de ressaltar quão absurdo é imaginar que o CA tivesse dívidas trabalhistas, o que por si só é algo bastante incômodo. Mas a gestão é tímida na atuação política contra o governo Bolsonaro, tendo, como ação mais divulgada, a viagem à Brasília para entregar um pedido de impeachment. Ou seja, no lugar de impulsionar uma verdadeira luta, mobilizando a base dos estudantes da faculdade, no lugar de virar a San Fran do avesso, o mais “radical” até o momento foi levar um documento até uma instituição burguesa e solicitar que ela resolva o problema político do país. Inegavelmente precisamos de mais.
A luta pelo Impeachment é uma ilusão plantada pelos setores mais adaptados da esquerda brasileira. Como se o mesmo Congresso Nacional sobre o qual a burguesia se apoiou para atacar direitos durantes todos esses anos, para inclusive destruir dia após a dia as conquistas no campo da educação pública brasileira, cortando verbas da pesquisa. Muito pior é a ilusão recorrente em nosso meio numa ação salvadora do judiciário, “salvaguardando a democracia” e salvando a nação do perigo do “fascismo” de Bolsonaro.
A democracia burguesa é a máscara usada pela ditadura burguesa para dar ares mais perfumados à exploração da classe trabalhadora. As instituições da democracia burguesa nunca ofereceram e não podem oferecer uma saída e quando se movem é sempre por medo de mobilizações de massas da classe trabalhadora. A mobilização nas ruas é a única saída.
A esquerda reformista e adaptada que não mobiliza é justamente aquela que acredita que tudo será resolvido nas eleições de 2022 e, no mesmo dia da paralisação chamada pelos sindicatos da USP (23/8) passa o dia discutindo uma foto de Lula com a namorada e sua “condição física”. A saber, Lula não disse uma palavra sobre essa mobilização.
Dizer que somos de uma faculdade que se preocupa com o futuro do Brasil, e sequer convocar uma assembleia geral dos estudantes (AGE) para votar nosso absoluto apoio à paralisação e para votar a paralisação conjunta dos estudantes é uma contradição incompreensível! Aliás, por que a participação e divulgação da San Fran nos atos é tão tímida? A direção do CA quer virar a San Fran do avesso com que tipo de mobilização?
O XI de agosto se senta sobre uma quantia enorme de dinheiro, o tão famoso e zelado “fundo do XI”, e a gestão não se usa dessa posição para organizar a luta dos estudantes em defesa dos seus direitos e pela derrubada o governo Bolsonaro. Dizer que somos de uma faculdade que se preocupa com o futuro do Brasil, e sequer convocar uma assembleia geral dos estudantes (AGE) para votar um saque com a finalidade de viabilizar um bloco franciscano massivo, que compareça em peso nos atos, com carro de som, estendendo o convite aos funcionários e professores progressistas da nossa faculdade, é compactuar com o assassinato social promovido pela política negacionista do governo. Amigos, nós sentamos em cima de muito dinheiro aplicado em fundos, e não usamos isso para derrubar um governo nefasto, e isso diz muito sobre o caráter e sobre o tipo de cabeça que a “mais importante faculdade de Direito do país busca formar”. Nesse caminho, o movimento estudantil da Faculdade de Direito da USP deixa de ser herdeiro de uma geração que lutou contra a ditadura e se torna uma geração de vendidos que valoriza mais a capitalização do fundo do XI do que a vida da classe trabalhadora do país. Não me esqueço de que um dos grandes motivos que pesou contra a gestão anterior foi a inconsistência na prestação de contas, algo que na época foi valorizado pela maioria dos estudantes e repetido à exaustão pelo Movimento Travessia nos debates. Mas a prestação de contas da gestão de um CA é uma questão política e nunca apenas contábil e administrativa. Não podemos admitir que o CA se comporte como uma empresa, um órgão da burguesia que alimenta seu caixa para especular. É necessário que todos nós assumamos a nossa responsabilidade com a classe trabalhadora do país, e nos utilizemos desses recursos para somar na luta contra esse governo. O movimento estudantil da Faculdade de Direito da USP não pode seguir se comportando como se vivêssemos numa ilha! É possível colocar esses recursos à disposição dos estudantes e trabalhadores para os próximos atos, somando aos outros coletivos de toda a USP, e ao movimento estudantil em geral.
Propomos que a participação dos estudantes, em massa, seja a principal pauta das próximas semanas, e que seja convocada uma AGE para aprovar uma verdadeira mobilização política da Faculdade de Direito da USP, que seja aprovado um saque ao nosso fundo para que: seja feita uma propaganda massiva denunciando os ataques do governo contra o serviço público como a PEC 32, como os cortes na pesquisa, fechamento ou paralisação de diversas universidades federais devido ao corte realizado no Orçamento 2021, a manutenção do teto de gastos; que seja feita a denúncia massiva da precarização da USP e do conjunto da educação pública; que seja feita a denúncia do crime desse governo que permiti mais de 580 mil mortos por negligência, falta de vacina, ausência de lockdown e uma postura anticientífica! É preciso que seja alugado um carro de som e organizadas as falas que serão feitas no ato, dando caráter verdadeiramente político à manifestação; sejam custeadas as viagens de estudantes que moram no interior e possam vir para São Paulo no dia do ato; sejam confeccionadas faixas, lambes, folders e demais materiais que possam ser distribuídos ou exibidos no ato; seja feita uma campanha, com todos os coletivos da São Francisco e da USP, bem como com o movimento estudantil em geral, para conseguir alta adesão dos estudantes, funcionários e professores da nossa faculdade. A mobilização organizada é a única maneira de derrotar esse governo nefasto!
- Abaixo ao governo Bolsonaro – por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!
- Em defesa da vida e dos direitos da classe trabalhadora!
- Não ao retorno presencial antes da vacinação em massa, com segunda dose e respeitando o período de imunização.
- Não à PEC 32! Contra qualquer retirada de direitos!
- Contra os cortes na educação pública e na pesquisa científica!
- Contra os ataques contra os estudantes do CRUSP, ameaçados de despejo pela reitoria!
- Contra a violência policial contra os estudantes do CRUSP e em toda a USP. Fora a PM do campus!
- Todo apoio às mobilizações das categorias de funcionários, professores e estudantes.