A situação na UFSC é alarmante! Denunciar as condições para organizar nossa indignação! Lutar por todo dinheiro necessário para educação!

No dia 13 de março de 2025, o reitor da UFSC Irineu Manoel de Souza convocou uma entrevista coletiva para trazer dados alarmantes sobre a nossa Universidade. Segundo ele, os recursos disponíveis para manter a UFSC em funcionamento são suficientes até o outubro de 2025. Na verdade, não era preciso tomar conhecimento das palavras do reitor para saber o que toda a comunidade universitária já está cansada de saber: a situação da UFSC é extremamente grave.
Basta circular minimamente pela Universidade para constatar o óbvio: falta papel higiênico e papel toalha nos banheiros, que, ainda por cima, estão com portas caindo, sem sabonete, com problemas de vazamento, entre outros. Salas de aula funcionam sem ar-condicionado e ventiladores, prédios como o EFI que tem 5 andares de sala de aula estão sem elevadores funcionando, laboratórios, salas de aula e outros espaços estão interditados por conta de problemas infraestruturais. É o caso do prédio da faculdade de matemática, carinhosamente chamado pelos alunos de presídio. A situação da iluminação, requisito básico para quem frequenta as aulas no noturno, é alarmante: trechos inteiros da universidade, como o estacionamento no entorno do CSE, EFI, colégio de aplicação, entre outros, estão às escuras, o que é um prato cheio para o aumento de casos de violência. Tudo isso tem responsável, precisamos apurar, nos organizar e lutar contra essa situação.
De todo modo, se engana quem pensa que a fala do reitor, acompanhado de seu chefe de Gabinete, Bernardo Meyer, da secretária de Planejamento e Orçamento (Seplan), Andrea Cristina Trierweiller, e do secretário de Comunicação, Marcus Paulo Pessôa, trata-se de um raio em céu azul. A atual situação na UFSC vem na esteira de golpes sucessivos do governo federal no orçamento destinado à educação e em especial às universidades federais. O orçamento da UFSC para despesas correntes se reduziu em 25% de 2016 até 2024[1]. Já o orçamento para investimentos recuou em 72%[2].
Nesse sentido, uma análise do desenvolvimento da situação na UFSC em termos de permanência estudantil, extensão e acesso, reflete diretamente a redução sistemática dos aportes orçamentários necessários para manutenção da Universidade, seja em que governo for, independentemente de sua propagada orientação ideológica. As bolsas de pesquisa estagnaram no último período, com uma reposição inflacionária recente que seguiu representando perdas reais no poder de compra dos estudantes. A qualidade e capacidade do Restaurante Universitário decaiu a níveis alarmantes, as filas são recorrentes e os casos de 2024, de baratas e ratos, explosões de panelas, estafa total e revolta dos funcionários terceirizados, entre outros, apenas escancara o que já vinha se gerindo por baixo da superfície do sobrecarregado RU. Todos convivem com a escassez ou a eliminação total de saídas de campo, além da falta de perspectiva com bolsas de permanência, extensão, estágios o que, em última instância, afeta o estudante precarizado que não vê outra alternativa a não ser abandonar os estudos.
Além disso, no quesito acesso, ano após ano, o conceito de exclusão e injustiça é reafirmado pela aplicação do famigerado vestibular que seleciona os “iluminados” (leia-se àqueles com melhores condições sociais) que terão a oportunidade de cursar o ensino superior e com isso almejar melhores condições. Este sistema de seleção é discriminatório e já não deveria existir há muito tempo. O ENEM se propõe a corrigir algumas distorções, mas mantém o mesmo pano de fundo de que a Universidade não é para todos. O acesso ao ensino deve ser universal e esta deve ser a luta central do movimento estudantil. A UFSC deve se tornar acessível à classe trabalhadora, como já acontece em diversos países vizinhos da América Latina, tais como Argentina, Uruguai, Venezuela, entre outros, que, mesmo sendo economias menores do que o Brasil, em alguns casos, há muitas décadas, conquistaram esse direito básico.
Diante da situação deplorável da universidade, o que segue é a falta de incentivo para novas matriculas, o que por sua vez abre as portas para o fechamento de cursos e em seguida a privatizaçao da universidade.
Entender a situação e golpear certeiramente
Para além da situação que lamentavelmente se expressa diante de todos nós que frequentamos a universidade é necessário entender o que acontece por baixo da superfície. O teto de gastos imposto desde 2016 e o arcabouço fiscal que vigora em 2025 significam que, na prática, os gastos sociais devem ser todos reduzidos ou congelados em nome da remuneração dos títulos da dívida pública federal. Os colapsos que enfrentamos nas áreas de saúde, segurança e educação, portanto, são consequência de sucessivos governos que escolhem o lado dos capitalistas para governar, protegem a rentabilidade do capital e fazem agonizar toda a comunidade universitária.
O Ministério da Educação, por exemplo, teve queda recorde no orçamento das despesas correntes entre 2015 e 2021 (-44%) e nos investimentos (-49%). Entre 2022 e 2024 o orçamento subiu consideravelmente, entretanto, não há nada a comemorar. Apesar do aumento no orçamento do Ministério entre 2022 e 2024, o que se observa é que o que foi realmente empenhado para gasto foi significativamente menor. No caso dos investimentos, por exemplo, a dotação inicial era de R$ 7,2 bilhões, o que foi disponibilizado no orçamento foi 6,0 bilhões e, ao final, foram empenhados de fato 2,3 bilhões, uma diferença de 68% entre o que o governo alocou inicialmente de recursos e o que efetivamente disponibilizou para a pasta. Ao fim, o governo simula aumentos orçamentários para distrair seu público mais cativo, mas oculta que segue privilegiando os parasitas do sistema financeiro.
É esta operação que ameaça a paralisação da UFSC em outubro. Mas, diz o governo federal, não temos motivos para desespero: basta aguardar que um parlamentar redentor transfira recursos de seu gabinete via orçamento impositivo para salvar o ano letivo no segundo semestre. Atualmente, pasmem, a UFSC passará o ano em compasso de espera para ser salva pelo famigerado “orçamento secreto”.
Diante disso, surgem as posições oportunistas e mesquinhas da burguesia que em Florianópolis se apresenta em sua forma mais degenerada, com sua sanha por ampliar a iniciativa privada e todo tipo de corporativização que, significa ao fim e ao cabo, buscar lucrar ao máximo diante da situação de sucateamento, que precisam ser totalmente refutadas e combatidas.
Esse combate se dará com a mobilização efetiva dos estudantes desde as bases, nos representantes de sala, centros acadêmicos e diretório central dos estudantes. Deve ser uma luta que envolva os funcionários, os terceirizados e os professores que, igualmente sofrem com os cortes orçamentários que atingem a universidade e também se veem sem perspectiva. As entidades estudantis e sindicais não devem estar aparelhadas em detrimento de interesses particulares de organizações ou submisso aos interesses do governo que é o responsável direto pela aplicação dos golpes que afligem a universidade. Trabalho de base para proporcionar formação e preparação para um combate em defesa da universidade.
A greve dos servidores de 2024, que arrastou estudantes e professores e que se alastrou por todo Brasil, apresentou a capacidade e disposição de luta nas bases demonstrando o sinal e caminho correto do que precisará ser feito no próximo período. Não temos ilusão de que paralisações e greves universitárias são as chaves da mudança que precisamos alcançar, no entanto, podem ser o farol para diversas categorias e população trabalhadora como um todo, dia após dia, em seus locais de trabalho e vida, vivem a realidade dos cortes orçamentários, precarização do trabalho, queda de qualidade de vida, aumento dos aluguéis, da carestia entre outros. Diante disso, a importância e responsabilidade do movimento estudantil universitário, um dos principais e diretamente afetados pelos cortes, é tremenda.
É fundamental termos clareza de que a luta por condições dignas, que passa por exigirmos todo orçamento necessário para o ensino, está diretamente associada pela luta pela superação do capitalismo, responsável pela situação e incapaz de promover qualquer solução e construção de uma sociedade socialista em que os trabalhadores estejam no poder.
Por uma campanha de denúncias: organize sua revolta!
É nesse sentido que a linha orientadora e proposta dos comunistas é organização. Essa é a nossa principal e mais imediata arma disponível para enfrentar os ataques e nos prepararmos para contra-atacar. Somente a partir de nossa organização e mobilização, independente e pelas bases, poderemos transformar nossa revolta, indignação e até mesmo desanimo em força de luta e transformação.
Vamos abrir um canal de comunicação direta com os estudantes afim de coletarmos denúncias das situações precárias enfrentadas pelos estudantes, trabalhadores, professores e todos atores da comunidade universitária, pois, para muito além dos breves relatos apresentados nesse artigo, temos ciência de que a situação vai muito mais além em nível de alcance e gravidade.
Através do QR CODE e do link abaixo você pode enviar seus relatos/denúncias sobre a situação. Vamos organizar essa rede de informações para nós fortalecermos nessa luta. Envie sua denúncia:
Link do grupo de denúncias: https://chat.whatsapp.com/FxqtjwQoKoKAxpYe44sQaA
QR CODE:

Convidamos a todos a entrarem em contato para, a partir da coleta dessas denúncias, nos mobilizarmos e termos elementos e engajamento para nos dirigirmos de forma contundente aos representantes do movimento estudantil, sindicatos, reitoria e em última instância governo e sociedade.
Junte-se a nós por esse combate!
- Por todo orçamento necessário para o funcionamento adequado e ampliação da universidade!
- Fim do pagamento da dívida interna e externa!
- Não ao sucateamento e privatização!
- Universidade pública, gratuita e para todos!
[1] Despesas correntes são despesas discricionárias que compreendem material de consumo, diárias, contribuições, auxílio-alimentação, auxílio-transporte e outras despesas de curto prazo. Em 2016, o orçamento da UFSC para despesas correntes era de R$ 220 milhões. Em 2024, este valor foi reduzido para R$ 166 milhões.
[2] Despesas de investimento são despesas discricionárias com planejamento e execução de obras, aquisição de softwares, equipamentos e demais materiais permanentes. Em 2013, o orçamento para investimentos era de R$ 2,380 bilhões. Em 2024, o valor foi reduzido para R$ 660 milhões. Todos estes valores estão deflacionados e correspondem às informações contidas no Sistema Integrado de Orçamento e Planejamento do Governo Federal – SIOP.