As mãos sujas de sangue do Estado e o movimento de ocupação de escolas

eu sei que vc

eu sei que vcAna Júlia, estudante do colégio Senador Manoel de Alencar, falou nesta quarta-feira na tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná, representando mais de 1000 escolas ocupadas. Sua grande responsabilidade se revelou em seu nervosismo, mas revelou também a disposição dos estudantes para nacionalizar as lutas e barrar o desmonte da educação pública. Ela falou de igual para igual com todos os presentes, e, sem dar voltas ou enfeitar no pronome de tratamento, iniciou sua fala utilizando “vocês” em referência aos presentes, sem temer.

Aos seus 16 anos, Ana Júlia demonstrou disposição para lutar pelo que acredita e capacidade de colocar suas ideias na tribuna de tal forma que impressionou os senhores representantes da burguesia. A filmagem da TV Assembleia revela que os parlamentares decidiram prestar grande atenção à argumentação da estudante. Os olhares não desgrudavam um segundo. Muito provavelmente os deputados não estavam interessados no que ela falava, como era de se esperar, e sim no desempenho da jovem: afinal, como seria possível a uma estudante, de 16 anos, ter tamanha força e representatividade? “Nossos filhos nos melhores colégios feitos para os filhos das classes dominantes não apresentam tamanho desempenho e coragem” – quase se pode tocar no silêncio dos deputados.

A estudante respondeu indiretamente ao espanto dos presentes com sua fala brilhante:

“O movimento estudantil nos trouxe um conhecimento maior sobre política e cidadania do que todo o tempo que nós estivemos sentados enfileirados em aulas padrões.”

E continuou:

“Uma semana de ocupação que nós estamos nos trouxe mais conhecimento sobre política e cidadania que muitos outros anos que a gente vai ter em sala de aula.”

A escola promete dar acesso aos conhecimentos acumulados pela humanidade, porém, cada vez mais é evidente que no capitalismo ela não pode sequer cumprir a promessa feita pela Revolução Francesa: a de uma educação pública, gratuita, laica e universal. 

Hoje, a maioria dos estudantes das escolas públicas sabe que será lançada de maneira cruel aos programas de financiamento do ensino superior, não raro enfrentando dupla jornada de trabalho e estudo para poder pagar a universidade e ainda viver precariamente. A resolução de tais problemas não se dará dentro das instituições burguesas. Os ocupantes cada vez mais têm tomado consciência disso.

Os envolvidos no movimento não querem uma escola arcaica e também não querem o retrocesso que representa a PEC 241 e a contrarreforma do Ensino Médio. Além disso, querem liberdade e o direito de lutar. Algumas ocupações no Paraná estão sendo atacadas por milícias do MBL (Movimento Brasil Livre) ou pela própria Polícia Militar. Ana Júlia falou com confiança sobre o direito a manifestação:

“Não tentem criminalizar nossas lutas, pois o Estado e os senhores estão com as mãos sujas de sangue”.

Essa última colocação responde a todos os ataques da imprensa burguesa sobre a morte do estudante Lucas e às tentativas de desqualificar o movimento das escolas ocupadas, atribuindo-lhe sentido de baderna generalizada. Imprensa e parlamentares nunca deram tanto destaque e importância para os muitos jovens que morreram e continuam morrendo dentro das “escolas padrão” (como disse Ana Júlia). O interesse repentino pela morte do Lucas e pela saúde dos estudantes não tem no contexto atual nenhum outro objetivo que não o de desqualificar e atacar o legítimo movimento das escolas ocupadas. Hoje esse movimento representa uma ameaça ao status quo e a toda burguesia que se beneficia de uma educação precária, arcaica, de alunos enfileirados. Os estudantes e professores não aguentam mais e não vão tolerar mais retrocesso!

Abaixo a PEC 241 e a Reforma do Ensino Médio!

É preciso organizar e resistir às milícias reacionárias do MBL!

Pela Greve Nacional dos Estudantes e Trabalhadores da Educação!

Todo apoio às ocupações estudantis! É preciso nacionalizar a luta!

 

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