Covid-19 e o racismo: combater o capitalismo!
O Brasil, apesar de ser um país de muita diversidade, seja ela étnica, cultural ou religiosa, quando se fala em população, os negros são a maioria, representando por volta de 55,8% de toda a população brasileira segundo o IBGE.
Os infectados pela Covid-19 já são 66.896 em todo o Brasil e 4.555 mortes em (28/04). A história de opressão e exploração, marcada pela escravidão e racismo no Brasil favorece que os trabalhadores negros sejam os mais expostos. Além de serem a maioria populacional, pretos e pardos também somam 75% entre os mais pobres, que reflete o fato de serem os mesmos que ocupam 45,3% dos cargos com pior remuneração. Em outros casos nem chegam a ter uma oportunidade de emprego já que a população negra soma 64,2% dos trabalhadores desocupados enquanto 47,3% se encontram na informalidade, uma “opção” para garantirem sua subsistência em meio à crise capitalista.
Tudo isso reverbera em más condições de vida, como por exemplo a falta de acesso ao saneamento básico, falta de acesso aos serviços públicos e moradia precária. O trabalho informal também é um efeito colateral do racismo, que empurra os trabalhadores negros, em sua maioria, à informalidade. Essas situações culminam para uma maior exposição e letalidade diante do coronavírus, resultando no fato de que a cada 3 mortos, 1 é preto ou pardo, ou seja, 32,8% dos óbitos registrado e que aumentam cada vez mais no Brasil.
O motivo para essa situação é o sistema capitalista, que ao longo da história utilizou de diversas “justificativas” para explorar os seres humanos. A escravidão, ora foi justificada pela classe dominante com motivos religiosos “os negros não têm alma” e depois com teorias pseudocientíficas como “os negros são inferiores”. Depois da ciência mostrar que nada disso tem fundamento real, a divisão dos trabalhadores segue através da “discriminação positiva” e do preconceito racial. Um dos exemplos disso é a situação delicada que os EUA vivem hoje, onde já passam de 42 mil mortes por corona vírus e da mesma forma que o Brasil, os mais afetados são os pobres e negros, e mais do que nunca. Lá, não há sistema público de saúde, isso significa que pobres e os negros têm condições extremamente precárias para se defender do vírus e a prevenção, usando máscaras e higienização constante são extremamente importantes. Porém, essas medidas que deveriam ser adotadas por toda a população, acabam se tornando um fator de risco para a vida de quem tem pele escura, o simples fato de um homem negro usar máscara o torna uma “ameaça” ao cobrir parte do rosto, mas não necessariamente por cobrir o rosto, mas sim por ser negro, passa a ser tratado como um bandido e é discriminado por tentar se proteger.
No Brasil e nos EUA, os casos de Covid-19 têm algo em comum: a exploração capitalista e o racismo. , O capitalismo, que explora a mão de obra do trabalhador sempre visando o lucro acima de qualquer coisa, mantendo a classe trabalhadora cada vez mais pobre, e o racismo estrutural que submete o trabalhador negro a uma condição ainda pior que a de um trabalhador branco, por conta de fatores históricos, culturais e institucionais que estão enraizados no sistema capitalista e que mantém essa parte da população ocupando o maior percentual quando se fala em miséria e piores condições de vida. Infelizmente essa não é somente uma realidade nos EUA, mas também aqui no Brasil. [i]
Para enfrentar tudo isso, um fator determinante é a organização da população. Um exemplo disso é o caso de Paraisópolis, uma favela que dentre muitas outras espalhadas pelo Brasil sofre severamente com a precarização do serviço público de saúde e que está localizada há apenas 2,7 quilômetros do trigésimo oitavo melhor hospital do mundo, o Hospital Albert Einstein. No entanto, apenas quem tem acesso a um serviço de saúde como esse é a burguesia, já que uma simples consulta vária entre R$600 e R$1000, valor que ultrapassa o salário mensal da maioria dos habitantes da comunidade. Em contraponto, o descaso na região é tão grande que nem sequer é atendida pelo Samu, diante disso os moradores se uniram para contratar uma equipe médica com dois médicos, dois enfermeiros, três socorristas, duas ambulâncias, sendo uma delas UTI Móvel para terem as mínimas condições para atender os 100 mil trabalhadores que ali habitam e que estão expostos diariamente ao covid-19.
A auto-organização dos moradores de Paraisópolis-SP é um exemplo do que explicamos no nosso Programa Emergencial para a Crise no Brasil, mais precisamente o quinto ponto, no qual abordamos a necessidade da construção de comitês de saúde em cada bairro e local de trabalho para garantir o funcionamento da comunidade e o amparo para os trabalhadores que hoje sofrem com a precarização do serviço público. Essa iniciativa dos trabalhadores de Paraisópolis mostra o caminho a ser seguido, como um embrião de governo dos trabalhadores.
Associado a auto organização é preciso lutar pela estatização de todo o sistema de saúde, seja planos de saúde, laboratórios ou inclusive hospitais, como o Albert Einstein, que poderia atender os moradores que hoje passam sufoco, no entanto, isso só poderia acontecer caso o sistema de saúde estivesse sob o controle dos trabalhadores e direcionado para os trabalhadores.
É de extrema necessidade a luta unificada contra o racismo e o capitalismo, que nada mais são do que duas faces da mesma moeda. A classe trabalhadora agindo de forma organizada é a única capaz de derrubar a burguesia, e essa auto-organização pode começar em Comitês de Ação Fora Bolsonaro para lutar de forma unificada, brancos e negros lutando pela emancipação da classe trabalhadora como um todo e lutando em todas as instâncias, contra o racismo e pelo socialismo.
Fontes:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/11/13/percentual-de-negros-entre-10-mais-pobre-e-triplo-do-que-entre-mais-ricos.htm
https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2019-11/negros-sao-maioria-entre-desocupados-e-trabalhadores-informais-no-pais
https://vidasaudavel.einstein.br/einstein-entra-na-lista-dos-50-melhores-hospitais-do-mundo/
https://atendimento.einstein.br/qual-o-valor-da-consulta-medica/
[i] Um estudante negro da UFRJ de 21 anos foi abordado com gritos nas Lojas Americanos em São Gonçalo no Rio de Janeiro por estar de capuz e máscara. https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/04/estudante-diz-ter-sofrido-racismo-por-usar-mascara-de-protecao-contra-coronavirus.shtml