LGBT tem classe! Nosso relato crítico sobre o 4º Encontro de Estudantes LGBT da UNE

O Congresso Extraordinário da UNE que tem sua abertura hoje (14/07 às 19h) foi precedido pelo 4º Encontro de Estudantes LGBT da UNE, com sua mesa de abertura “Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes”, seguida por grupos de trabalho durante a tarde. Observamos uma dificuldade de participar do 4º Encontro LGBT, mesmo com inscrição confirmada, pois não recebemos o link da live direto no e-mail organizada no YouTube. Isso explica a baixa participação durante a atividade que em seu encerramento não tinha mais que 300 estudantes, mesmo horas depois da realização da mesa, a live não tinha alcançado as 3 mil visualizações.

A mesa teve como objetivo discutir a conjuntura política sob a perspectiva LGBT, temos como acesso, permanência na universidade pública, emprego e o direito à vida. Contudo, esses importantes temas foram abordados desde uma perspectiva identitária e institucional e não revolucionária.

Foi apresentada como perspectiva de luta para o acesso à universidade pública a implementação de cotas raciais e sociais ao invés da massificação do ensino superior com o fim dos vestibulares e vagas para todos nas universidades públicas. À permanência nas universidades, com a implementação de cotas nas bolsas de assistência estudantil, ao invés da luta por todo dinheiro necessário à educação e ciência para garantir refeição, material, moradia e auxílio estudantil e para pesquisa dignos a todos os estudantes.

Nas falas houve dois elementos predominantes: a concepção de que estamos sob o conservadorismo e que o governo Bolsonaro é fascista e decorrente dessa concepção a necessidade da “ampla unidade”. Para nós, está claro que Bolsonaro como sujeito tem sim ideias fascistas, ele gostaria de eliminar fisicamente as pessoas LGBTs, os comunistas e todos aqueles que não são seus aliados, mas, seus delírios anticomunistas e conservadores não encontram nem base social organizada e de massas nem mesmo a classe trabalhadora está derrotada para permitir a ascensão do fascismo como regime social. Daí que a falácia do “enfrentamento ao fascismo” é, na verdade, um artifício para a “defesa da democracia” e a “ampla unidade” inclusive com os chamados “setores progressistas da burguesia”, isto é, a conciliação de classes.

A Liberdade e Luta defende educação pública, gratuita e para todos, assim como todos os serviços públicos, e sabe que para isso é necessário o fim do pagamento da Dívida Pública, que suga nossos recursos todos os anos para aumentar as riquezas dos nossos opressores e exploradores. Não é possível conciliar com nossos inimigos de classe!

Todas as falas também estiveram marcadas pela concepção identitária expressa na insistência sobre as “narrativas”, “pronomes neutros”, “representatividade”. Essas ideias são fruto das concepções da Teoria Queer, baseadas na corrente filosófica do idealismo, que compreende que o ideal vem primeiro do que o material. Então, se falamos “todes” ao invés de “todos”, se temos pessoas pobres, negras, LGBTs “representadas” nos espaços institucionais de poder, se temos uma “narrativa” dos oprimidos, estamos invertendo a lógica de opressão e, assim, eliminando ou combatendo a opressão. Nada mais falso. A utilização de pronomes neutros não fez com que menos travestis fossem mortas ou atacadas. Vimos o caso revoltante da morte de Roberta, que teve 40% do corpo queimado no Recife-PE, a morte dela não foi impedida pela utilização desses pronomes, pelo uso de narrativas ou mesmo pela onda de representatividade, com diversos mandatos de trans e travestis na última eleição. Não é com mudanças na consciência que a realidade material mudará. Mas exatamente o contrário, mudando a base material que mudaremos as ideias dominantes, isto é, as ideias capitalistas e opressoras, que este modo de produção sustenta e aprofunda.

É preciso unificar a luta LGBT com a classe trabalhadora por acesso aos serviços públicos, gratuitos e para todos, por pleno emprego e pelo fim da violência contra pessoas LGBTs com a luta pelo socialismo e pela revolução. Sob o sistema capitalista, isso se traduz com as bandeiras como educação, saúde, transporte, assistência e previdência públicos, gratuitos e para todos, sem distinção ou restrição; por pleno emprego para a classe trabalhadora; pelas liberdades democráticas; por uma educação verdadeiramente laica; contra toda forma de opressão e violência; contra todas as privatizações; pelo fim do pagamento da Dívida Pública; por abaixo governo Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais! LGBT tem classe!

É na luta conjunta da trabalhadora em toda a sua diversidade, de cor de pele, nacionalidade, sexual e de gênero, que podemos conquistar a unidade dos oprimidos contra os exploradores por uma sociedade socialista, onde não existam mais relações de classe, propriedade privada dos meios de produção e Estados nacionais. É numa sociedade socialista, que planifique a economia sob o controle dos trabalhadores, para satisfação das nossas necessidades coletivas em harmonia com a natureza, que vamos exercer toda a liberdade de amar e ser amados de todas as formas que queremos, com respeito e afeto entre todos.

Junte-se à Liberdade e Luta nesse combate!

Assine nossa contribuição de Conjuntura e ajude a que mais conheçam nossas ideias!

*Murilo de Oliveira Santos é estudantes de arquivologia da UFES e Lucy Dias é formada em ciências econômicas pela PUC-SP

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