O QUE APRENDEMOS CONSTRUINDO O ATO POR MORADIA DIGNA AOS ESTUDANTES ALOJADOS NO CEPE-USP

A construção dos atos dos dias 16/05 e 17/05

Entre os dias 13 e 17 de maio, os militantes da Juventude Comunista Internacionalista (JCI), fração jovem da Organização Comunista Internacionalista (OCI), participaram do combate pela  construção do ato organizado pelo Fórum das Seis, que reuniu docentes, funcionários da USP, UNESP e UNICAMP, e os DCEs das três universidades estaduais em frente ao prédio do INOVA USP, na quinta-feira, 16 de maio, para reivindicar reajuste salarial aos funcionários e expansão e melhorias nos programas de permanência estudantil. A pauta de permanência tinha como eixo central na USP a questão dos estudantes alojados no CEPEUSP (centro de prática esportivas da USP) que viviam em condições precárias em alojamentos embaixo das arquibancadas. A USP alegava falta de vagas na moradia estudantil para justificar a manutenção  dessa situação deplorável.

Na segunda-feira (13), durante a assembleia conduzida pelos estudantes da FAUD, os dirigentes da associação de moradores informaram que a reitoria comunicou aos alunos alojados no CEPEUSP que eles deveriam deixar os alojamentos no dia 17 de maio (sexta-feira). Algo precisava ser feito para evitar que esses alunos fossem despejados e que com isso fossem obrigados a abandonar seus sonhos de estudar em uma universidade pública, uma vez que a reitoria permanecia omissa aos interesses dos calouros alojados, como sempre permaneceu diante dos problemas que permeiam a realidade de quem vive no CRUSP.

Nós,  militantes da OCI e da JCI-USP,  propusemos em todas as assembleias em que intervimos uma concentração massiva de pessoas na frente do CEPEUSP para evitar o despejo. Essa proposta foi levantada nas assembleias da Letras, FAUD, História, Biologia e na plenária da Associação de Moradores do CRUSP (AMORCRUSP) na segunda-feira e em todas foi aprovada pela ampla maioria dos presentes.

No entanto, embora a proposta tivesse sido aprovada na plenária realizada na AMORCRUSP, que contava com a participação de parte dos alunos que permaneciam alojados debaixo do velódromo, os militantes do Movimento Correnteza, que compõe a direção da AMORCRUSP, sequer mencionaram essa proposta durante a intervenção nas assembleias de curso. A justificativa dada para isso era a de que era preciso concentrar todos os esforços para o ato da quinta, dia 16/05, quando conseguiram reivindicar a abertura dos alojamentos emergenciais do CRUSP para os estudantes que estavam alojados no CEPEUSP, que não queriam mais morar embaixo de uma arquibancada. Compreendendo isso, defendemos que precisávamos construir nos dias 16/05 e 17/05, principalmente por entender que o movimento para o dia 16/05 não estava sendo construído para ter a força necessária para alcançar as reivindicações, e por isso era necessário um plano emergencial para o dia 17. Os cursos não haviam sido informados sobre o que se passava, os CAs em sua maioria não mobilizaram os estudantes.

Apenas na Assembleia organizada pelo CA da biologia, no dia 15 o movimento Correnteza salientou a necessidade de construir no dia 17, porém não lançaram um cartaz sequer chamando para esse ato. Não organizaram passagens em salas de aulas e não fizeram um chamado para o movimento estudantil participar.

No ato do dia 16, as negociações sobre as pautas de permanência estudantil na USP não progrediram (o que, para nós, era previsível), o que obrigou a direção da associação de moradores a chamar mais uma plenária para discutir os próximos passos da luta. Durante a plenária ocorrida na sede da Associação de Moradores do CRUSP, todos concordaram em realizar a concentração no CEPEUSP no dia seguinte, adotando essa como a última tática possível para conseguir uma negociação com a PRIP pela reabertura dos alojamentos e em defesa dos estudantes que moram no CRUSP que perderam direito ao seu auxílio moradia entre 2023 e 2024 por uma arbitrariedade do processo da PRIP. 

A concentração no dia 17 partiu em direção ao prédio da administração da reitoria, onde fica a PRIP, a pró-reitoria que cuida dos assuntos relacionados à permanência estudantil. Foi lá que todas as organizações e entidades presentes permaneceram cantando as palavras de ordem e fazendo barulho até que algum responsável descesse para negociar com a associação de moradores.

Em fins de negociação, a resposta não poderia ser pior, a universidade não cedeu em nada e apenas deixaram em aberto que iriam cogitar a possibilidade de abertura dos alojamentos para os estudantes do CEPE que receberam o auxílio integral de 800 reais, mas não conseguem, com esse dinheiro, alugar um lugar em uma cidade cara como São Paulo. Os 4 estudantes que sequer receberam o auxílio integral não foram contemplados nessa possível abertura dos alojamentos e os outros estudantes que são antigos moradores do CRUSP, que não tiveram seu direito à moradia renovado, não foram contemplados na reunião de negociação. 

Ao final do processo, procuramos nos informar com a Amorcrusp sobre que fim havia levado os estudantes que não tinham recebido o auxílio de 800 reais, e que não poderiam sequer ser contemplados caso a PRIP autorizasse a abertura dos alojamentos. Nos foi informado que eles não conseguiram apartamento no CRUSP e não nos deram mais informação nenhuma. Também questionamos sobre a abertura dos alojamentos para os que receberam o auxílio de 800 reais e não nos deram retorno sobre o assunto.

Velhos problemas do movimento estudantil da USP

Entendemos que se os dois dias tivessem sido construídos com o mesmo peso, teríamos um movimento maior na sexta-feira, e com possibilidades maiores de vitória. Compreendemos que essa luta poderia ter conquistado para todos os estudantes afetados o seu direito de moradia se houvesse sido devidamente organizada, mas o movimento estudantil seguiu os mesmos velhos hábitos.

Sabíamos que dificilmente essas propostas seriam atendidas pela reitoria no primeiro dia de ato, dado a falta de construção prévia. Quando olhamos para o histórico recente das lutas realizadas pelo movimento estudantil, podemos constatar que em todos os momentos a reitoria tenta vencer os alunos pelo cansaço, e a lógica de construção das lutas no ME da USP abre largos espaços para que a direção da universidade saia vitoriosa nessa queda de braços. Não é de hoje que as organizações políticas dominantes no movimento apostam todas as fichas em movimentos vanguardistas, construídos sem a base dos estudantes.

O movimento estudantil está dividido em duas vertentes que existem em oposição já há muito tempo no movimento operário e da juventude: Luta de massas contra luta de vanguarda. Essa segunda é teoricamente fundamentada na moral do heroísmo pequeno burguês, em que se acredita que a coragem é o fator determinante para convencer os outros para o caminho da luta.

Todas as lutas do último período seguiram a mesma lógica vanguardista: ser chamada às pressas e ser organizada da pior forma possível. Durante a greve do ano passado, essa lógica ficou escancarada. Vários institutos, que sequer haviam discutido as questões pelas quais deveriam entrar em greve, passaram a aprovar a paralisação pela influência das organizações políticas presentes nos centros acadêmicos e no DCE. O resultado foi uma greve que rapidamente esgotou as suas forças pela falta de braços, o que era um sinal da falta de convencimento político do conjunto dos estudantes da USP, convencimento esse que só poderia ser feito pela explicação paciente para os estudantes sobre os motivos pelos quais eles deveriam lutar.

A luta pela permanência estudantil nessa semana seguiu a tática vanguardista, foi organizada às pressas e de forma reativa. Os problemas dos auxílios e dos alojados do CEPEUSP se estendem por meses e as principais organizações do movimento estudantil não se movimentaram para construir a luta, convencendo os estudantes sobre a urgência de participar e construir. Na assembleia da filosofia, os estudantes optaram por não paralisar o curso, e não poderiam fazê-lo, dado que o assunto estava sendo discutido pela primeira vez às vésperas dos atos do dia 16 e do dia 17. O CEUPES, centro acadêmico das ciências sociais, sequer chamou assembleia para discutir o tema. O centro acadêmico da história (CAHIS), o grêmio da FAUD, o CA da Biologia e o centro acadêmico de letras (CAELL) seguiram o mesmo caminho e deixaram para discutir o assunto alguns dias antes apenas. Os outros CAs sequer chamaram alguma movimentação em apoio à luta que ocorreria durante a semana. O DCE, na prática deixou de existir, com seus dirigentes entregues à luta eleitoral, que é – para eles – prioridade.

Lutas construídas dessa forma são a fórmula para o fracasso e para o fortalecimento da ideia de que a luta não leva a vitórias. Essa tática velha do movimento estudantil da USP precisa ser superada, a derrota do movimento dessa semana é só mais um indicativo de que esse tipo de método precisa ser submetido a um balanço coletivo dos estudantes e de suas forças dirigentes para que seja finalmente descartado e a luta seja re-colocada nos eixos, abrindo as possibilidades de vitória dos estudantes em suas lutas futuras.

Apenas a luta de massas pode garantir que os estudantes consigam fazer frente aos ataques da reitoria, e para se chegar a movimentos massivos dos estudantes não existem atalhos, é necessário que se explique pacientemente, se organizem plenárias para discussão ampla, panfletagens, passagens constantes em salas de aula. Apenas quando os estudantes passam a participar que se pode avaliar que uma luta tem reais possibilidades de avançar em seus métodos para métodos históricos de combate da classe trabalhadora e da juventude.

O que fazer no CRUSP?

As questões da moradia se arrastam! Ano após ano, nos vemos na mesma situação: Falta de vagas para aqueles que precisam da moradia estudantil para manter os estudos e falta de moradia digna para aqueles que conseguiram ingressar no CRUSP. A privatização da universidade é a manifestação local de uma crise global que explodiu em 2008 e atingiu um nível crítico com a pandemia da covid-19. Os capitalistas tentam a todo momento empurrar o pagamento da crise para as costas da classe trabalhadora e da juventude, e fazem isso com as contrarreformas (trabalhista, da previdência, etc.) e com o avanço das privatizações, em suma, com os ataques aos direitos historicamente conquistados pela luta e sangue dos trabalhadores.

A privatização da USP não é um projeto no papel que ainda não começou a ser implementado. Já anda a largos passos dentro da universidade pública, como os bandejões, as portarias e a segurança. Também se manifesta pelos cortes nos setores que não são considerados estratégicos para a burguesia ou seus setores administrativos. Por causa disso chegamos na situação alarmante de falta de professores que culminou na greve estudantil de 2023.

O CRUSP é uma manifestação aguda desse cenário de ataques. Apartamentos destruídos, falta de refeições aos finais de semana, falta de segurança, vagas irregulares, omissão quase completa da universidade, tudo isso faz parte do cotidiano dos estudantes da USP filhos da classe trabalhadora. Essa situação é a manifestação particular da crise que circunda todo o capitalismo a mais de uma década e que não tem previsão de ser resolvida. Por isso, combater para que o CRUSP seja uma moradia estudantil que garanta moradia digna para todo estudante que precisa, é um combate central e que vai na contramão do avanço das privatizações no Brasil.

A USP não poderia atender às nossas reivindicações de imediato, pois o movimento estudantil ficaria moralizado se conseguisse da reitoria as suas reivindicações e isso mostraria aos estudantes a verdadeira força da sua mobilização. Esse é o caminho que precisa ser mostrado para cada estudante. A tarefa dos comunistas é mostrar aos trabalhadores e à juventude a força que tem a luta organizada e sob um ponto de vista de classe.

Aos moradores do CRUSP que concordam com isso, chamamos para que conversem conosco e ajudem a construir a organização revolucionária na USP. Apenas com a organização e a utilização dos métodos corretos, acumulados historicamente pela classe trabalhadora e pela juventude, poderemos finalmente trazer de volta ao movimento estudantil o seu caráter de luta e combatividade. Lute conosco, junte-se à OCI!

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