Os 75 anos de Hiroshima e Nagasaki e a “ameaça comunista”
FOTO: Domínio Público
Há 75 anos, o capitalismo deu uma das mais horrendas demonstrações do seu poder de destruição e aniquilamento contra a humanidade e o planeta, quando o presidente americano Harry S. Truman ordenou o lançamento de bombas atômicas nos ataques aéreos de Hiroshima e Nagasaki. Foi na manhã de 06 de agosto de 1945, sem absolutamente nenhum aviso prévio, que a bomba de urânio, batizada de “Little Boy”, foi detonada sobre Hiroshima, matando 140 mil pessoas, predominantemente civis não combatentes. Três dias depois, foi a vez de Nagasaki ser devastada com a bomba de plutônio, denominada “Fat Man”, matando mais 74 mil pessoas. O artefato mais brutal que o homem já foi capaz de produzir, consistia em uma bomba nuclear de urânio, e outra de plutônio, cujos efeitos, não só em seres humanos como em animais e tudo o que é vivo, foram de obliteração total. Sobreviventes com queimaduras graves morreram sem assistência, pois toda a infraestrutura de socorro foi também aniquilada.
Mesmo com a rendição da Alemanha em maio de 1945, os EUA e o Japão permaneciam num conflito denominado Guerra do Pacífico, que já perdurava por quatro anos. É importante mencionar que há controvérsias nos registros históricos sobre o fato do Japão já ter apresentado sua rendição antes dos ataques atômicos, mas que essa não teria sido aceita pelos EUA1. Já na versão mais oficializada pela história, o presidente Truman ameaçou os japoneses caso não se rendessem. Entretanto, não havia menção alguma à detonação de armas nucleares nesse conflito, mesmo que fosse de domínio público que os EUA já viessem executando testes com esse tipo de arsenal. Outro fato cruel é que, tanto Hiroshima quanto Nagasaki, não eram alvos militares, inclusive acolhiam os feridos de guerra. Dessa forma fica evidente a opção covarde do governo americano pela demonstração de poder e supremacia sobre o restante do mundo, tendo como alvo duas cidades completamente desguarnecidas militarmente. Pessoas, animais e plantas literalmente evaporaram devido ao calor provocado pelas bombas, mas os efeitos de cegueira, surdez, cancerígenos, psicológicos e de má formação fetal ainda perduram há gerações.
A “ameaça comunista”
Entretanto a Guerra do Pacífico estava apenas na superfície da motivação norte-americana para esse ataque brutal. O que estava em jogo, objetivamente, era a “ameaça comunista” que rondava o mundo.
Estima-se que a 2ª Guerra Mundial tenha ceifado a vida de 70 a 85 milhões de pessoas, o que representou cerca de 3% da população mundial de 1940. A guerra vitimou milhares de soldados nos fronts, porém não foi menos fatal para aqueles que sofriam com a fome e a miséria nas cidades dos países envolvidos no conflito. Essa situação afetou diretamente a consciência das massas que viram no capitalismo a causa dos problemas.
A União Soviética, ainda que burocratizada, pôde redirecionar toda a sua economia para a guerra e contou com o sacrifício das massas para enfrentar a Alemanha nazista, saindo com enorme autoridade e aparecendo como um ponto de referência para os trabalhadores de todo o mundo.
A burguesia norte-americana, diante dessa situação, “deu o seu recado” devastando Hiroshima e Nagasaki.
Hipocrisia e barbárie capitalista
Mas como os demais donos do mundo trataram esse ataque desproporcional? Firmaram, em 1968, o Tratado de não Proliferação Nuclear (TNP), que é um acordo que tem a adesão de 189 países, entre eles, Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China, que também são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e possuem 90% das armas nucleares do mundo. A principal cláusula deste tratado pretendia restringir o armamento nuclear dos países signatários, bem como garantir que os mesmos não transferissem essas armas para os “países não nucleares”. Entretanto, esse tratado não passa de mais um engodo histórico, uma vez que, o que está em jogo, são as ambições militares desses países e as disputas em torno de segredos de pesquisas científicas nessa área. Via de regra os americanos estão preocupados com a manutenção de seus monopólios e, em relação ao desenvolvimento nuclear, não é diferente. Primeiramente essa disputa se apresenta em relação aos Russos durante a guerra fria e, posteriormente com cada adversário econômico e geopolítico, como na crise dos mísseis com Cuba em 19622. Objetivamente o TNP, embora não explicite com essas palavras, indica que russos, norte-americanos, franceses, britânicos e chineses deveriam manter sob controle os países de seu campo. Hoje, 190 se submetem em diferentes condições ao Tratado. Permanecem fora do Tratado Índia, Paquistão, Coreia do Norte, Israel e Sudão do Sul.
O genocídio de Hiroshima e Nagasaki desnuda, uma vez mais, o quanto o sistema capitalista é um moedor de gente. As guerras só servem aos senhores que usam e descartam a classe trabalhadora conforme seus interesses na divisão do mundo. Há uma incubadora de morte em cada país que dorme sobre um arsenal nuclear. Não há tratado no mundo que proíba os imperialistas de fabricar armas, exatamente porque a indústria bélica é um dos seus negócios mais lucrativos. Nem os EUA e nem qualquer outro país com armamento nuclear deixou de ameaçar seus opositores utilizando-se desse poderio.
As guerras são extremamente vantajosas e cumprem, ao longo dos séculos, a importante tarefa de tirar o capitalismo de suas crises sistêmicas e movimentar as forças produtivas. Não há preocupação com “danos morais” em relação ao que aconteceu no Japão. O que, por ventura, se perdeu moralmente perante o mundo, tem se mostrado até hoje altamente lucrativo para imperialistas da estirpe dos norte-americanos. Como disse James Cannon: “é por isso que eles foram para a guerra – não por posição moral, mas por lucro”3.
Hiroshima e Nagasaki são cicatrizes dolorosas da história da humanidade que não podemos e nem devemos esquecer. Só a classe trabalhadora mundial organizada poderá dar um basta a esse sistema assassino e inaugurar uma nova aurora na humanidade, fazendo a burguesia experimentar na pele o sentido do verbo atomizar.
Referências:
1 <https://www.atomicheritage.org/history/debate-over-japanese-surrender>
2 Daniel Ellsberg. The Doomsday Machine, Bloomsbury Publishing, 2018.
3 <https://www.marxists.org/archive/cannon/works/1945/hiroshima.htm>.