Relatos da linha de frente: UFES campus Goiabeiras

Desde o dia 28 de março, professores e funcionários técnicos-administrativos deflagraram greves em universidades e institutos federais. As pautas envolvem centralmente o reajuste de salários e reformulação das carreiras. Estamos apoiando as demandas dos trabalhadores da educação e explicando a necessidade de exigir do governo Lula a ruptura do pagamento da dívida, interna e externa. O governo diz que não há dinheiro para o reajuste, mas cerca de 47% do Orçamento de 2024 está sendo usado para pagar os juros dessa dívida fraudulenta! Reunimos aqui relatos da linha de frente sobre a situação da greve estudantil em alguns institutos e universidades federais. Você é estudante em uma universidade ou instituto federal em greve? O relato abaixo foi enviado pelo camarada estudante de física da UFES. Envie-nos o seu relato clicando no banner abaixo!


Às 19:11 da Quinta-feira (dia 11 de abril), pelas mídias oficiais o DCE (Diretório Central dos e das Estudantes) da Universidade Federal Do Espírito Santo (UFES) convocara uma assembleia extraordinária para sexta-feira (dia 12 de abril) às 19:30. Dando pouquíssimo tempo de organização para a organização da comunidade estudantil, e tendo apenas caráter informativo, segundo a pauta divulgada.

Tal assembleia veio tarde. A Adufes vinha informando sobre a sua assembleia, tendo como tópico de votação a adesão à greve. [Post do Adufes do dia 25 de março]

O tópico de pauta da deflagração de greve pelo DCE não estava presente no informe do dia 11/04. Por pressão do movimento grevista que se organizara a muito tempo a pauta da sinalização de greve foi posta e votada, a desagrado dos membros do DCE. Este que protestou pela quebra do estatuto que proíbe pautas novas em reuniões extraordinárias. Da mesma forma, ocorreu sua aprovação e segunda foram feitas as barricadas.

Na segunda-feira dia (15 de abril) o piquete, e a greve em si, pegou vários estudantes de surpresa. Ao chegar 7:50 para o início do ato marcado para às 8h eu observei alguns transtornos. Um paciente cadeirante desorientado sobre o estado de sua consulta no campus se apresentou. Em seguida uma pessoa com ligação direta com os atendimentos psicológicos compareceu no piquete para dialogar sobre como proceder com os estes atendimentos no estado de bloqueio da universidade (essa pessoa se juntou ao movimento pelo resto do dia). Em diálogo com ela me foi dito que ouve um encaminhamento entre as lideranças sobre a liberação, mas a discrição para os pacientes psicológicos/psiquiátricos ficara a discrição do profissional que os acompanha (um exemplo de um agorafóbico ou alguém com ansiedade social severa, se o estresse de ter de lidar com o público da greve excedesse o que o médico achara razoável seria melhor o paciente não ter consulta aquele dia). Muitos problemas similares aconteceram nesse dia. Neste dia ainda não havia respaldo sobre a possível reintegração de posse.

Sobre o funcionamento do Restaurante Universitário do campus (RU) de Goiabeiras, fora garantida livre passagem pelos grevistas dos funcionários do RU, mas apenas pelo portão norte. Esses funcionários foram dispensados pela reitoria. O funcionamento do RU foi cancelado. Como justificativa da reitoria foi-se explicado que não receberam aviso prévio do bloqueio das entradas, o caminhão que entrega os alimentos para as refeições no RU acontecera 6h, as barricadas foram postas por volta das 5h. Como o caminhão entra pelo portão sul (o portão mais próximo ao RU), e a concentração fora no portão norte, não se sabe se alguém estava presente para abrir os portões para o caminhão. Também ouve a informação de que a Adufes fora informada que a chegada do caminhão seria às 9h. Permaneceu esta disputa de narrativas. Eu não estava presente para corroborar a presença ou não de um membro no portão sul para esse recebimento (reiterando que cheguei 7:50). Próximo ao meio-dia eu procurei tirar fotos das entradas. Lá verifiquei os bloqueios e a fata de militantes nas outras entradas.

Com o cancelamento do RU, a Adufes publicou uma nota de repúdio a reitoria, ao mesmo tempo que trabalhou para conseguir marmitas para aqueles presentes e os alunos que dependiam do RU para a refeição. Eles garantiram o almoço e o jantar. As demonstrações continuaram até o fim do dia. É de se observar que o engajamento estudantil no resto da semana fortaleceu o movimento.

Como estudante de física e parte do corpo Discente eu preparei, com a ajuda dos outros discentes, uma assembleia extraordinária da Física na quinta-feira (dia 18/05) às 18h via Google Meet. No caso de uma votação entres os Centros Acadêmicos sobre a greve estudantil em uma deliberação no Ceb o Centro Acadêmico saberia a opinião dos alunos por maioria simples. Nessa assembleia também foram propostos dois pontos pelos alunos de física.:

  • A criação de um calendário de lutas;
  • A convocação de uma assembleia geral para superceder uma votação indireta sobre o estado de greve, assim tendo o voto direto por alunos e não por Centros Acadêmicos.

Os votos da física foram positivos em todos os pontos, incluindo a deflagração de greve se esta vir por votação indireta. Mas a criação de um calendário de lutar e uma assembleia para o voto direto fora aceita pelos demais do campus antes do Ceb. O Ceb ocorreu no dia seguinte (sexta-feira dia 19/04) com transmissão simultânea pelo Google Meet

Assembleia Geral Extraordinária do Campus de Goiabeiras fora convocada para o dia 02 de maio (imediatamente após o feriado do Dia do Trabalho) para às 18h.

Como previamente observado, a assembleia tinha como intuito principal votar sobre a deflagração ou não da greve estudantil de forma mais democrática pelo voto direto dos presentes. Ao contrário do Ceb cuja representação seria pelo consenso dos alunos de cada curso pelos seus respectivos CAs. A assembleia foi transmitida via Google Meet, mas os estudantes que por lá acompanharam não tiveram direito a voto.

Mas os campi votaram independentemente. A deflagração de greve seria dada pelo resultado da Assembleia Geral de cada campus, cada um tendo peso um independentemente do número de alunos que cada campus comporta.

 Alegre fora favorável a greve, já Maruípe e São Mateus votaram contra. Fazendo do resultado da votação uma questão de empate (onde mais deliberações sobre critérios de desempate seriam feitas) ou, simplesmente, a não deflagração da greve estudantil.
A votação da greve individualmente pelos campi, a meu ver, também coloca em questão o esforço talvez sem sentido pelo voto direto se, no final, a representação ainda é indireta por campi.

Por uma margem de 116 contra 119 o campus de Goiabeiras votou pela não declaração de uma greve estudantil. Tendo como votos decisivos os estudantes membros da banca do DCE que votaram por último (assim removendo qualquer dúvida de seu alinhamento como grupo quanto ao movimento).

É da opinião deste redator que muitas questões organizacionais, como as citadas acima, se deram pela falta de ponderação para com os atendimentos e trabalhos organizacionais internos e externos da UFES que se deram pela falta de diálogo e ponderação decorrente de uma reunião tardia por parte do DCE. Questões essas que, apesar do DCE deixar para o último minuto para se organizar, ainda sim ouve mobilização estudantil solidária a greve dos técnicos e professores.

Essa experiência de greve deixou claro que a organização do DCE da UFES de Goiabeiras ativamente perpetrou ações para antagonizar e desmobilizar os movimentos estudantis de forma efetiva. A greve dos estudantes não foi deflagrada.

As instituições superiores de representação faliram com seu papel de garantia de um movimento democrático.

Os avisos com 24 horas de antecedência sabotaram as mobilizações. Junto disso se leva em consideração os horários e dias escolhidos para as deliberações. Uma quinta-feira após um feriado onde muitos podem ter viajado para ver suas famílias, e o horário de 18h que prejudica a presença de alunos trabalhadores que, mesmo acompanhando a reunião, serem impedidos de votar remotamente

O horário de 18h de uma quinta-feira pós feriado questiona a intenção do fomento da participação dos alunos. Desta forma o estudante trabalhador se faz omisso na deliberação estudantil – o papel de uma votação com, também, caráter remoto minimizaria a alienação desses estudantes. Valendo também salientar a insalubridade do ambiente do auditório de votação para alunos com necessidades especiais (que também se beneficiariam da participação remota). Os estudantes irromperam em ovação após o resultado ser anunciado, e eu não consegui mais acompanhar resto da assembleia. Os inúmeros gritos tornando quase impossível minha permanência no local.


Utilize o nosso panfleto para atuar na greve em sua universidade ou instituto federal

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