Situação Política: a luta para pôr abaixo o governo Bolsonaro!

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foto: @brasildefato

Tensões internas, instabilidade e escândalos sempre estiveram presentes no Governo Bolsonaro e até durante a campanha, o que não é difícil de acontecer em qualquer governo que se proponha a salvar um sistema que tropeça em suas próprias crises.

O novo coronavírus causou mais do que um agravamento da crise econômica que já significava o corte de direitos e investimentos públicos em vários países. Sempre faltou leitos, infra estrutura, profissionais e insumos no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, por exemplo. Com a pandemia, o aumento repentino da demanda significou um estrangulamento ainda maior, significou negar atendimento para milhões de trabalhadores no Brasil e no mundo. O combate ao vírus encontrou limites de mercado, como as patentes de respiradores, de vacinas e toda corrida mórbida da iniciativa privada pelo protagonismo no lucro.

Essa é a realidade do capitalismo, com bons ou maus gestores no comando. Aqui no Brasil, o caso é ainda pior. O Governo Bolsonaro, além de se propor a atender os interesses da classe dominante através de seu Ministro da Economia, Paulo Guedes, sabota a distribuição da vacina enquanto propaga obscurantismo sobre o tratamento precoce com hidroxicloroquina e ivermectina, já comprovadamente ineficazes. Não bastando o insuficiente número de doses e a sanha por lucro em cima das vacinas, o governo ainda recusa grandes lotes para mais tarde comprar muito menos por preços superfaturados, escondendo dados e patinando na logística através do Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

A desculpa de que “o país está quebrado” é vergonhosamente desmentida pelos dados sobre os gastos do Governo Federal, que inclui itens como leite condensado, vinho e chiclete em valores estratosféricos (R$ 17.591,40 em um galão de água de 20 litros, por exemplo). O que é espanto para muitos, na verdade é a regra do capitalismo nos bastidores de seu Estado burguês. É difícil que um trabalhador assimile pacificamente que seus direitos são cortados, que seja demitido e recontratado em regime intermitente ou que sequer encontre um novo emprego, que falte oxigênio em hospitais e que a vacina ainda não seja gratuita e para todos enquanto os governos despendem milhões anuais na compra de chicletes, iogurtes… Isso sem contar com o escândalo ainda maior que são os trilhões retirados todos os anos da saúde, educação, transporte e ciência para engordar os bolsos dos capitalistas com o pagamento da dívida interna e externa!

Ou seja, a burguesia tem interesses específicos nessa situação, mas as bolas fora de Bolsonaro chegam a irritar eles também, como a posição negacionista em relação à vacina que adia cada vez mais a volta à normalidade de exploração.

Porém, na perspectiva da classe trabalhadora, isso não significa que figuras como João Doria, governador de São Paulo, sejam a voz da razão em meio às trevas. Mesmo fingindo comoção, Doria é um dos responsáveis por essa amarga situação. Os serviços públicos são sucateados há anos pelos governos FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro, que estrangulam orçamentos para abrir campo às privatizações e concessões. A duras penas, o Instituto Butantan continuou as pesquisas pela vacina e terminou levando a cabo o desenvolvimento da CoronaVac neste ano, com um apoio profundamente oportunista e hipócrita do governo Doria.

Mas essa demora, a perseguição ideológica ao desenvolvimento da vacina, as fake news e o obscurantismo resultam na perpetuação do quadro e no aumento do número casos e mortes a cada dia. É uma demora suficiente para que o vírus se adapte ao sistema imunológico humano e desenvolva novas ‘cepas’ ou ‘variantes’ de seu genoma.

Algumas mutações foram verificadas em países como Japão, Inglaterra, China e outros. Aqui no Brasil, uma variante foi registrada em Manaus, já presente em São Paulo e muito provavelmente em todo o Brasil, segundo epidemiologistas da Fiocruz. Apesar de não se saber muito sobre ela, o que as evidências apontam é um potencial destrutivo e de contágio ainda maiores, principalmente para a juventude.

Isso, junto com a alta nacional no número de contágios e de mortos, reverbera diretamente na proposta de retorno às aulas presenciais sem garantia de vacina aos profissionais da educação, aos pais, familiares, terceirizados e aos estudantes. É uma medida absurda que empurra uma normalidade que só existe na ansiedade da burguesia em retomar seus lucros, dando todas as condições para novos recordes de mortos no Brasil, colocando a juventude na linha de frente de contágio.

Esse cenário daria certa fertilidade para que as direções de esquerda falassem claramente sobre a necessidade de derrubar esse sistema, passando por cima do Governo Bolsonaro, Doria e qualquer outro representante da burguesia, e para que impulsionassem o calor das ruas a desfechos cada vez mais radicalizados e revolucionários. No entanto, há muito tempo essas direções abandonaram a luta por uma nova sociedade, pelo socialismo, e dedicaram todo seu potencial de mobilização quase que exclusivamente ao “melhoramento” do sistema aos poucos, às “pequenas reformas” humanitárias através do parlamento burguês. Estamos a favor de qualquer reforma que melhore a vida dos trabalhadores, mas o fato é que sob esse sistema não há garantia de permanência dessas melhorias!

São as mesmas direções que, em 2019, combateram a palavra de ordem Fora Bolsonaro por estar muito “cedo”, por supostamente não haver previsão legal para Impeachment, porque quem entraria seria o Mourão, e várias outras justificativas. Primeiramente, nem mesmo a desculpa da legalidade se sustentava, pois já havia fundamentos legais de sobra até para cassar a chapa inteira. São essas mesmas direções que hoje colocam o Fora Bolsonaro como centro de sua luta e que drenaram seu significado revolucionário, primeiro desviando-o para a saída eleitoral, em 2022, e após o escândalo de Manaus, para uma saída condicionada a aprovação do processo de impeachment.

Vimos nos atos de ontem (31/01) a disposição de jovens e trabalhadores para pôr abaixo esse governo, mas também vimos que as carreatas e bicicletaços que foram convocados de maneira dispersa e anterior aos atos de rua serviram para na verdade liberar, através de uma via controlada, um pouco da pressão que essas organizações estão sentindo antes que tudo exploda bem na frente deles.

Aqui está a diferença fundamental entre o Fora Bolsonaro para salvar o sistema e o Fora Bolsonaro para destruir o sistema com seu governo junto. O que deve vir em seguida? Mourão, Maia ou um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais?

É sempre bom dizer o óbvio: se um projeto de impeachment for realmente protocolado, é claro que apoiaremos. Queremos derrubar Bolsonaro! A diferença é que não confiamos nas instituições do Estado Democrático de Direito. Sabemos que essas instituições são instrumentos da burguesia para manter a sua dominação sobre os trabalhadores. Apostamos e confiamos no potencial revolucionário dos trabalhadores, em sua capacidade de organização e de mobilização em defesa de seus próprios interesses. É também por isso que não alimentamos ilusões em Baleia Rossi, candidato à presidência da Câmara dos Deputados apoiado por Rodrigo Maia, outro agente da burguesia que defendeu a Emenda Constitucional do teto dos gastos e chorou de emoção na aprovação da Reforma Trabalhista. Ou seja, são inimigos, agentes da burguesia que não têm compromisso algum com os trabalhadores e em quem, portanto, não devemos nos apoiar.

Em linhas gerais, o fato é que se a consigna “Fora Bolsonaro” agora está carregada de significado institucional, o que é uma expressão da própria traição das direções, isso não muda o fato de que milhões de brasileiros não suportam mais esse governo e querem abrir uma saída, querem pôr abaixo o governo Bolsonaro. Os trabalhadores não estão derrotadas e têm disposição de luta. A maravilhosa e vitoriosa greve da Comcap (empresa de limpeza pública de Floripa) mostrou o caminho: combater os ataques, a privatização, a perseguição sindical e o governo de Gean Loureiro! Após 15 dias de mobilizações dos trabalhadores, manifestações e da exitosa campanha internacional que impulsionamos em apoio, conseguiram retirar todos os ataques e manter seus postos de trabalho! A luta segue para barrar o projeto de privatização do governo estadual e por uma Comcap 100% pública! Esse é o caminho!

As pessoas estão vendo a incapacidade do sistema em garantir as questões básicas da vida. Muitos não conseguem pagar um aluguel, o preço dos alimentos dispara, o transporte encarece e continua lotado, o serviço de saúde não é adequado e abundante, não é gratuito e muito menos para todos; o direito à educação pública, gratuita e universal também está muito distante da realidade. Isso alimenta a raiva e ao mesmo tempo desejo de mudança, o que certamente, cedo ou tarde, vai explodir em mobilizações e manifestações de massas! É partindo dessa raiva e desejo de mudança que devemos intervir para construir a ponte para o socialismo, aglutinando toda essa força e indignação nas ruas para a defesa de nossas reivindicações, apontando a necessidade de fazer um mundo novo nascer!

Junte-se à Liberdade e Luta!

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