Um balanço do acampamento de solidariedade à Global Sumud Flotilla e ao povo palestino na UnB

Nessa última semana, Israel declarou o início de uma nova operação terrestre contra a faixa de Gaza, essa é apenas a formalidade de algo que nunca teve pausa, o objetivo é claro, a destruição do povo e ocupação total do território. Não existem mais máscaras, o que se passa é um genocídio, uma limpeza étnica, para redistribuir aquelas terras a novos colonos, para atender os interesses da burguesia local e do imperialismo.

O objetivo nunca foi resgatar reféns, ou mesmo garantir a paz. O capitalismo precisa de guerras como um moribundo precisa de aparelhos para continuar vivendo. Assim como, Netanyahu precisa de um estado contínuo de medo e guerra para evitar as investigações sobre corrupção a qual ele está submetido. Ou seja, o sistema exala podridão por todos os seus poros e vê na guerra uma solução para seus problemas.

Entretanto, a luta de classes é o motor da história, e todo acontecimento causa nessa um efeito dialético. A mesma ferramenta de manutenção do sistema, faz aquecer o ódio de classes dormente. O que está marcado nos últimos meses, é um aumento da mobilização da classe trabalhadora e sua juventude contra esse genocídio a céu aberto. Milhões têm marchado pelas ruas do mundo em apoio a palestina, e dentre esses, muçulmanos, judeus e cristões, que repudiam a guerra, e a cada dia mais chegam à conclusão de que a verdadeira divisão da palestina deve ser a divisão de classe. Milhares de jovens foram presos em Israel nos últimos meses por se negarem a fazer parte desse massacre. É preciso que essa juventude retome os métodos históricos de nossa classe, métodos esses que estão na raiz da luta anti-imperialista e anticolonial na região. União de classe entre judeus e árabes contra a burguesia. 

O nosso verdadeiro inimigo não está do outro lado do muro, ou em outro continente, mas é o capitalismo e sua própria burguesia sanguinária. Como afirmou Karl Liebknecht, em sua ferrenha luta contra a primeira guerra mundial, o nosso principal inimigo está em nosso próprio país! Esse inimigo é a burguesia e os conciliadores de classe.

No Brasil, nossa luta é pela verdadeira solidariedade ao povo palestino, a solidariedade internacional, com independência de classe. Precisamos combater, por um rompimento com o Estado de Israel, é preciso exigir que governo Lula/Alckmin pare com suas declarações demagógicas e realmente faça algo. Não basta pedir paz, mas parar de enviar o petróleo que move os tanques israelenses em Gaza, não adianta pedir um acordo entre as partes, mas parar de firmar acordos comerciais milionários com as mesmas empresas que hoje realizam um genocídio dos palestinos. As munições usadas contra as crianças de Gaza são as mesmas usadas pela PM contra os trabalhadores e a juventude nos bairros operários.

Sob essas bases, que nós da Organização Comunista Internacionalista (OCI) construímos, em frente única com outras organizações do movimento estudantil, nessa última segunda feira, dia 15 de setembro, um acampamento de solidariedade à Global Sumud Flotilla e ao povo palestino. Por 24 horas, ocupamos a entrada norte do Instituto de Central de Ciências (ICC), e durante todo o dia realizamos mesa de debate, atividades de intervenção visual com colagem de cartazes e um cine debate. Tendo como intenção trazer atenção a questão palestina em nossa universidade. Estivemos presentes conversando com os estudantes que passavam, e através do uso de nosso jornal e materiais, explicamos a necessidade de se construir uma saída organizada e internacionalista para parar o genocídio na palestina, mas também, para combater os ataques imperialistas, e mesmo retomar as lutas em nossa própria universidade.

É preciso entender que a classe trabalhadora do mundo busca formas, e métodos, para resolver sua crise, e em relação a resistência ao genocídio isso não é diferente. Várias ações, das mais variadas formas tem tomado forma nesse combate, gostaríamos de destacar a ação da flotilha pela liberdade que busca quebrar o cerco a gaza, e levar ajuda humanitária para o povo palestino. Contando com milhares de pessoas em vários países, a flotilha já fez dezenas de tentativas de quebrar esse cerco, no decorrer dos últimos meses.

Entretanto, mesmo com todo o esforço, essa iniciativa sofre frente ao poderio militar Israelense que de forma ilegal tem atacado todas as tentativas de chegar em gaza feitas pela flotilha. Nós prestamos toda a solidariedade e apoio à flotilha, mas convidamos todos a uma reflexão sobre o método de ação da classe trabalhadora, e as nossas necessidades.

Existem limites nas ações vanguardistas como essa. Tais práticas podem se sustentar através do sacrifício próprio, do heroísmo pessoal, até certo momento. Mesmo que tenha um forte apelo e caráter de publicidade para a causa, peca em não conseguir conscientizar, e principalmente, organizar a classe trabalhadora para uma verdadeiro combate ao sionismo e ao imperialismo. O que fica claro para nós, principalmente no movimento estudantil e na juventude trabalhadora, é que nossas ações precisam furar a bolha da vanguarda, precisam animar e colocar em movimento o coletivo da juventude e dos trabalhadores. De uma maneira que esse, inserido no movimento de luta e toda classe trabalhadora, e nunca aparte desta, possa entender as raízes do que se enfrenta e os limites de uma luta puramente reformista.

Para isso, acreditamos ser necessário fazer um balanço do que deu certo nos últimos anos em nossa luta no movimento estudantil da UnB, e essa atividade da última segunda-feira, pode servir como um bom exemplo.

Fica claro para nós, que são ações de frente única como essa, que buscam organizar e mobilizar a base dos estudantes, que nos apontam qual o caminho para cumprir nossos objetivos. Vamos lembrar que só foi com a ação em unidade na construção da Frente Única Anti fascista que nos permitiu expulsar a extrema direita de nosso campus. Entretanto, é nesse processo que fica claro os limites e desafios em que hoje se encontra o movimento estudantil em nossa universidade.

Não basta criarmos uma aparência de construção, é preciso construir. Uma ação bem-feita deve evitar a pressa, e a desorganização. É preciso superar a imaturidade que hoje é regra em nosso movimento. O ato de segunda-feira, mesmo que com uma boa base de discussão política, foi mais uma vez um ato de vanguarda. Isso não é suficiente para furar a bolha, e quebrar o imobilismo do coletivo dos estudantes de nossa universidade.

Assim como, para a construção de um ato, é preciso consolidar suas bases. Por isso, que durante o processo de construção do ato, nós propomos uma semana de atividades de discussão política, de panfletagens e passagens em sala, e conversa com os estudantes. E a partir disso, aí sim, deveríamos construir um acampamento robusto e que refletisse uma construção mais profunda com os estudantes.

É preciso apontar aqui também um outro aspecto que impactou a construção desse dia de solidariedade. Que foi o oportunismo de alguns companheiros do Movimento Estudantil, como o correnteza, a juventude da UP. Que mesmo assinando a convocatória, não apareceu e em nada ajudou na construção do ato. Para além de ser uma prática oportunista, cai em sectarismo que em nada ajuda nossa luta. Não é possível aceitar estes métodos oportunistas em nosso movimento mais. Não é possível quebrar o imobilismo, e combater as políticas que hoje a majoritária da UNE colocam em prática, se não rompermos com essas mesmas práticas. Não é possível ser oposição, se cometermos os mesmos erros.

Nosso caminho é pela construção de um movimento estudantil organizado, independente e revolucionário. Assim como, pela mobilização e organização de milhões de jovens trabalhadores para um combate internacionalista de classe contra todas as expressões da podridão desse sistema moribundo. A luta pelo fim de todas as guerras, contra o imperialismo, não é algo separado da luta pelo fim dos vestibulares, por todo dinheiro para a educação e por uma educação pública, gratuita e para todos. Na verdade, elas são partes de uma mesma luta por um novo mundo, e pelo socialismo. 

Sobe essas bases, precisamos avançar objetivamente para romper o vanguardismo dessa luta. As ameaças de Trump ao Brasil e a nova ofensiva Israelense em gaza, fizeram renascer um sentimento anti-imperialista na classe trabalhadora brasileira. Nós precisamos construir com base nesse sentimento. Fazer do ódio de classe o combustível para nossa luta.  Desde a Juventude Comunista Internacionalista, apresentamos a perspectiva de sentar as bases para a reconstrução de um movimento que conecte todas essas lutas em uma só, unindo cada reivindicação com a luta, baseada na frente única, contra o imperialismo e suas guerras que reivindique:

  • Pelo rompimento de todas as relações diplomáticas e comerciais do governo brasileiro com o Estado de Israel!
  • Por uma verdadeira Frente Única de luta anti-imperialista e de solidariedade ao povo palestino na UnB!
  • Fora o imperialismo e suas guerras!

Galeria de fotos do acampamento e de nossa participação:

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