Unidade para salvar o capital: relato crítico da Conferência VIII no CONUNE Extraordinário

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“O problema da frente única […] surge da necessidade urgente de assegurar à classe operária a possibilidade de uma frente única na luta contra o capital” (Trotsky, 1922)

Neste sábado (17/07), no quarto dia do Congresso Extraordinário da União Nacional dos Estudantes (UNE) de 2021, foi realizada, a Conferência VIII: Unidade para salvar o Brasil: Fora Bolsonaro. Na atividade principal, mediada pela diretora de Políticas Educacionais da UNE, Júlia Aguiar, participaram dirigentes políticos que, de maneira geral, representam claramente a política defendida pela direção da UNE, sintetizando isto que chamam de “unidade para salvar o Brasil”, mas que, na prática, significa salvar o capital e o Estado burguês. As conhecidas teses defendidas pelos políticos convidados, e reproduzidas pelas organizações que controlam a UNE, esclarecem porque este CONUNE é esvaziado, pois não atende aos anseios da juventude: derrubar definitivamente o governo Bolsonaro, revolucionar!

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A dirigente do PCdoB, Manuela D’Ávila, foi a primeira a ser chamada para a exposição, começando sua intervenção afirmando que a extrema-direita cresceu nos últimos anos por seus “métodos de comunicação e desinformação”. Esta é uma tática utilizada pelo PCdoB e o PT, desde a ascensão de Bolsonaro, para culpabilizar a escolha da população nas eleições de 2018, que, segundo esta argumentação, foi baseada em “fake news”, “falta de inteligência” e “manipulação”, não fruto das traições dos governos petistas. Mas o cerne de sua fala diz respeito à sua posição de “unidade”, que se resume em na frase: “é a extrema-direita que coloca o lucro acima da vida”, isto é, apenas a “extrema-direita”, já que, “neste momento, não podemos ter medo da amplitude da unidade”. Quer dizer, toda a “direita democrática” vale para tamanha “frente ampla”. E finalizou, mesmo dizendo “ser marxista”, defendendo o Estado burguês: “precisamos ganhar nosso povo para a ideia que o Estado pode sim combater a desigualdade […] e garantir um projeto de desenvolvimento do país”.

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O segundo a falar foi Leonardo Péricles, da Unidade Popular. Esta intervenção focou nas condições de vida da população, visto que este militante atua em ocupações urbanas e periféricas, e como elas se tornaram mais miseráveis sob o governo Bolsonaro, além das questões de opressões aos negros. Tal fala, relativamente, destoou da política de unidade com todos os setores, ao atacar as classes dominantes e os “grupos arrependidos do bolsonarismo”. Afirmou que a unidade deve ser “entre a esquerda e o povo, e que não devemos ouvir aqueles que não confiam nos trabalhadores”. Citou uma série de reformas que, segundo ele, deveriam servir como programa de unidade da esquerda, em conjunto da importância da construção de greves, focando em “setores estratégicos” e pautando um “governo popular”. Esta aparência mais à esquerda, na prática, é carregada de influência da política stalinista defendida pela UP.

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Gleisi Hoffmann, deputada federal e presidente do PT, fez a terceira intervenção. Defendeu a “tarefa imediata de reconstruir o país, que é retirar Bolsonaro da presidência”, mas para tanto, a unidade com todos é fundamental. Para ela, uma “aliança política, pode levar a uma aliança eleitoral, mas não necessariamente”. Sua “unidade” se resume na divisão de conjuntura feita pelo PT: o “polo democrático” e o “polo fascista”, onde todos os “democratas devem se unir”.

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O próximo, João Paulo Rodrigues, coordenador do MST, fez uma fala com certo ânimo, relembrando vitórias e avanços da esquerda na América do Sul, e prestou solidariedade à Cuba e à Venezuela. Entretanto, defendeu a CPI da Covid como um ajuda à “politização do povo”, o impeachment e que a unidade pode ser baseada em “Fora Bolsonaro, Auxílio Emergencial e Vacina Já”. Finalizou afirmando que essa unidade e os últimos atos nacionais foram fortalecidos pela soltura de Lula, pois ele oferece a representação de unidade entre todos. Mas lembremos que Lula, praticamente, não se pronunciou quanto às últimas mobilizações, quiçá, convocou-as.

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A participação de Antônio Fernandes dos Santos Neto, representando a Central dos Sindicatos Brasileiros e o partido burguês PDT, foi, no mínimo, exótica. Antônio criticou fortemente os governos pós-Constituição de 88, que, segundo ele, levaram até o governo Bolsonaro, atacou o rentismo para defender os industriais e, no fim, repetiu o jargão de Ciro Gomes sobre “unir capital e trabalho”, sendo politicamente, a união entre a esquerda e direita. Não deixou de afirmar a política da UNE, dizendo que “no primeiro momento, é claro, devemos derrotar Bolsonaro e aqui cabe todo mundo, não podemos rejeitar ninguém”, mas que é preciso preparar o outro passo, que seria “um Projeto Nacional de Desenvolvimento”.

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Por fim, a mesa teve Guilherme Boulos, dirigente do MTST e político do PSOL, que apresentou “três desafios”. O primeiro, surpreendentemente, foi afirmar que “que não podemos esperar até 2022 para derrubar Bolsonaro”, porém, “em defesa da democracia”, ou seja, uma expressão do medo que a conjuntura pode destruir a democracia burguesa. O segundo desafio, segundo ele, é da “unidade do nosso campo”, sem especificar quem estaria nesta unidade. Já o terceiro desafio seria “reconstruir o país a partir de um novo projeto”, devido aos “últimos 6 anos de políticas neoliberais”. Infelizmente, o companheiro Boulos “esqueceu” que os governos petistas seguiram à risca a cartilha do Banco Mundial e do FMI, pois os ataques aos direitos dos trabalhadores e da juventude são históricos e não apenas dos governos Temer e Bolsonaro.

Diante destas intervenções e de como estamos relatando ao longo da semana, além de, minuciosamente, na série de artigos que analisa, a partir do marxismo, as teses apresentadas pelas organizações ao congresso (2019), a Conferência VIII confirmou que esta proposta de unidade segue longe de uma real frente única proletária, isto é, com independência de classe. A defesa versa pelo reagrupamento da esquerda ao lado dos demais setores “progressistas”, leia-se, a direita que se descolou de Bolsonaro.

Assim, a independência de classe e o ânimo dos jovens são rifados pela direção da UNE e por estes dirigentes políticos defensores do Estado burguês. A Frente Única proletária, que deveria ser elementar para dirigentes enraizados na classe trabalhadora como Boulos e Rodrigues, transforma-se em “frente ampla”, “frente popular”, “frente democrática”, ou seja, “unidade” com os inimigos de classe, devido a análises como “onda conservadora”, “governo fascista” e etc.  Ainda assim, somos obrigados a ouvir algumas fraseologias socialistas, que possuem a finalidade de confundir os poucos jovens que acompanham a live. Politicamente, estas direções não confiam mais nos trabalhadores e na juventude, por isso se adaptaram completamente à ordem burguesa e seu modo produtivo. Portanto, a Frente Única Operária não significa nada para eles, pois esta não permite a unidade para salvar o capital, mas para destruí-lo!

Nós da Liberdade e Luta temos a certeza que a única classe capaz de realmente unificar o país contra o governo Bolsonaro e o capitalismo é o proletariado e sua juventude. Estes são os que se revoltam diariamente contra este sistema, mesmo quando tais contestações são feitas sem o apontamento correto ou a fraseologia esperada. Para que todo este ódio de classe seja canalizado e organizado em ação consciente contra o sistema, precisamos construir uma direção revolucionária e marxista, superando estas figuras adaptadas que buscam, com carisma e verniz socialista, cooptar a chama revolucionária da juventude.

A Liberdade e Luta está participando deste CONUNE Extraordinário realizando uma cobertura crítica, sem receios de expressar nossas análises sobre cada um dos temas e informantes, porque compondo a UNE em frente única, não abrimos mão da nossa liberdade de crítica ao programa de adaptação ao capital, além de estarmos apresentando nossas próprias contribuições sobre Conjuntura, Movimento Estudantil e Educação. Por isso, pedimos que leia, assine e junte-se à nós na luta por um Governo dos Trabalhadores, sem patrões nem generais!

*Chico Aviz é formado em História pela Univille

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