A nova situação mundial e as tarefas da Juventude Comunista Internacionalista

Estamos diante de uma nova situação mundial, aberta pelas políticas nacionalistas de Donald Trump. Mas essa nova situação é mais profunda que um conjunto de políticas externas de um ou outro governo. A ordem mundial que vivemos hoje foi construída ao final da II Guerra imperialista Mundial – são os acordos de Yalta e Potsdam, assinados entre o stalinismo e o imperialismo internacional em 1945.
A ordem de Yalta e Potsdam significou um longo período de colaboração contrarrevolucionária entre a burocracia stalinista e o imperialismo, sobretudo, norte-americano. Esses acordos dividiram o mundo em zonas de influência, entre a URSS e o imperialismo, iniciando um período de “coexistência pacífica” entre o capitalismo e o “socialismo”. Na prática, isso significou que a URSS assumia o compromisso de enterrar a iniciativa revolucionária das massas a nível internacional.
O capitalismo estava seriamente enfraquecido ao final da guerra. A destruição, a miséria e a própria guerra causaram uma enorme insatisfação nas massas que, diante da fuga da burguesia seja frente ao Exército nazista alemão, seja frente ao Exército Vermelho, se viu na condição de tomar o controle do Estado e reorganizar a vida sob bases revolucionárias.
A burocracia stalinista agiu, sobretudo nos países do Leste Europeu, para criar governos de coalização, em que os comunistas – agentes da burocracia – permaneciam com postos-chave no controle do aparelho de repressão e dentro do Estado, mas entregando o poder a governos “populares”, isto é, salvando os Estados capitalistas do esfacelamento completo e da possibilidade real de revoluções socialistas.
Naturalmente, à burocracia não interessava dirigir o proletariado de maneira revolucionária rumo ao socialismo. Isso a enfraquecia dialeticamente, que estava interessada em seus próprios privilégios.

Foi somente a partir do Plano Marshall (1947), de ajuda financeira em troca de uma série de controles do imperialismo norte-americano sobre os países europeus – inclusive os do Leste – aliado a disputa da burguesia desses países, que a burocracia stalinista se viu forçada a expropriar o capital e a estabelecer um controle total e direto desses países.
Ao mesmo tempo, criou Estados operários degenerados à imagem e semelhança da URSS pós Lênin – centralismo burocrático do Estado, expurgos de opositores dos Partidos Comunistas locais e da Internacional Comunista, privilégios para a casta dirigente etc.
Do ponto de vista da burguesia, a partir do Plano Marshall, os EUA assumem a liderança enquanto potência imperialista e firmam uma aliança para a reconstrução da Europa, conduzindo a integração do mercado europeu, que mais tarde dará origem a União Europeia.
A ordem de Yalta e Potsdam foi constituída por essa aliança contrarrevolucionária entre o imperialismo e o stalinismo. Essa ordem começou a ruir com o fim da URSS em 1991. O outro lado dessa ordem – a aliança entre EUA e Europa – ruiu com a ruptura de Trump com a velha Europa.
Qual o significado de tudo isso? O imperialismo buscará uma nova ordem, igualmente reacionária, para conter a iniciativa revolucionária das massas. Seus chefes de governo, já disseram que uma nova ordem emergirá do caos.
Enquanto comunistas e revolucionários, compreendemos que se trata, de um lado, da ampliação dos ataques aos direitos e conquistas operárias que só poderá ser enfrentada com a ampliação da repressão interna aos movimentos da juventude e dos trabalhadores.
Um exemplo disso, é o recente ataque ao Departamento da Educação – que teve o pessoal drasticamente reduzido e o decreto que o extingue. Isso seria proporcional aqui no Brasil em extinguir o Ministério da Educação (MEC). Ele precisa do aval do congresso para essa extinção, o que não tem. Ainda assim representa um ataque bárbaro e criminoso, inclusive contra a civilização.
Outro exemplo, são as recentes perseguições aos estudantes que participaram das manifestações e acampamentos em defesa da Palestina, começando pelos estudantes imigrantes. Com a faca no pescoço das universidades, Trump ameaça cortar recursos se os reitores não entregarem a lista de estudantes que participaram dessas manifestações. Um claro ataque político às instituições e aos opositores de seu governo e política externa.
E não menos importante o anúncio do ministro da Defesa de Israel que deu um ultimato aos residentes da Faixa de Gaza para saírem de suas casas e aceitarem o plano genocida de Trump de “reconstrução da Palestina”, a nova Nakba, caso contrário ele iria promover uma devastação total.
Esses ataques e a repressão só podem ser enfrentados através da luta de classes, isto é, com o aumento da organização e mobilização da juventude e dos trabalhadores, inclusive com métodos proletários de manifestações de massa e greve. Toda solidariedade aos estudantes presos e perseguidos por Trump por suas posições políticas! Liberdade para Mahmoud Khalil e Rumeysa Ozturk! Abaixo a repressão!
Do ponto de vista internacional, Trump rompe os laços com a União Europeia, impõe tarifas para a importação, exige a redução das tarifas para suas exportações. Na América Latina, impõe tarifas para a importação e ameaça anexar o Canadá, a Groelândia, o Panamá etc.
A era de cooperação do imperialismo internacional ruiu e, portanto, há um reforço de uma política externa agressiva, nacionalista e protecionista. Do ponto de vista do marxismo, isso apresenta uma perspectiva de avanço das guerras localizadas sob a bandeira mentirosa da “defesa nacional” ou do “terrorismo” e da política xenofóbica contra imigrantes.
Os comunistas enfrentam essa política com o reforço do internacionalismo proletário, da unidade mundial da luta de classes – o mundo é nosso país! Abaixo o militarismo e as guerras imperialistas! Imprescindível também ampliar nossa propaganda sobre o ataque aos serviços públicos e a exigência de fim do pagamento da dívida interna e externa. Ao mesmo tempo, contra o aumento dos gastos militares – que aqui no Brasil se expressa sobretudo na ampliação dos orçamentos estaduais e municipais nas polícias e na repressão policial.
Esse enfrentamento de interesses antagônicos – a burguesia atrás do lucro, impondo-se por meio da repressão e o proletariado atrás de suas reivindicações e com seus métodos de luta – amplia em extensão e profundidade a polarização social, intensifica a luta de classes.
A polarização social, isto é, a opinião das massas dividida em extremos opostos. Aparecem expressões da extrema-direita ou direita radical, por outro lado, a iniciativa revolucionária das massas como temos visto em manifestações recentes na Argentina, na Grécia e a adesão às ideias comunistas.

Não estamos em meio a um ascenso do fascismo ou de governos fascistas. Regimes fascistas só podem impor-se como última opção da burguesia para manter o regime da propriedade privada dos meios de produção e dos Estados nacionais a partir de uma derrota histórica do proletariado internacional. O fascismo enquanto regime político de dominação da burguesia significa um ataque frontal, inclusive a destruição física, das organizações proletárias e de seus militantes.
No passado, o stalinismo utilizou as frentes populares – unidade com a burguesia supostamente progressista – contra o fascismo e com isso abandonou completamente a perspectiva da revolução proletária. Tratava-se de defender a democracia burguesa.
Hoje, os nacional-comunistas como por exemplo a Unidade Popular pelo Socialismo (UP) são os defensores dessa mesma tese. Defendem a ascensão do fascismo de maneira totalmente abstrata, para adaptar-se ao governo Lula, um governo encabeçado por um partido de origem operária, mas que é um agente do programa da burguesia imperialista no Brasil (ver recusa em romper relações com Israel, revogar as contrarreformas do Novo Ensino Médio, Trabalhista, Previdenciária e Tributária, além de manter o arcabouço fiscal e não se posicionar pelo fim da escala 6×1, carteira assinada para os trabalhadores de aplicativos etc.).
Com essa prática, deseducam uma geração de comunistas bem-intencionados que não sabendo como caracterizar corretamente, a partir do marxismo, o que é fascismo, também carecem dos meios e da experiência histórica de como combatê-lo.
Compreendendo corretamente o que é fascismo – sabemos que seus adeptos atuam como uma espécie de tropa de choque da direita, com ameaças e ataques diretos aos militantes comunistas e de esquerda, aos dirigentes estudantis e sindicais e suas organizações, como os sindicatos e centros acadêmicos etc. Assim, a melhor forma de derrotá-los é organizando o movimento através da frente única. Por um lado, explicando as massas o perigo que o fascismo representa, por outro, enfrentando inclusive fisicamente seus ataques.
Foi assim que fizeram os trotskistas na década de 1930, coordenando e impulsionando a ação da Frente Única Antifascista (FUA), que derrotou e colocou para correr os Integralistas, no que ficou conhecido como a revoada dos galinhas verdes. Os integralistas abandonaram seus uniformes verdes após a Batalha da Praça da Sé em outubro de 1934. Os esforços da FUA foram iniciados pela Liga Comunista Internacionalista (LCI), um conjunto de militantes comunistas que, em oposição a política do PCB, romperam e construíram o primeiro grupo trotskista do Brasil.
Esses militantes se basearam nos conselhos de Trotsky presentes no livro “Revolução e Contrarrevolução na Alemanha” em que Trotsky analisa a política ultra esquerdista da Internacional Comunista sob o comando da fração Stalin-Zinoviev-Kamenev que impedia a unidade do Partido Comunista Alemão com a social-democracia. O resultado dessa política foi o esmagamento da classe operária alemã nas mãos do nazismo. Depois dessa experiência, a Internacional Comunista faz um giro oportunista e começa aplicar a tática das frentes populares, que algumas organizações usam até hoje, como explicamos acima.
Conhecer a história nos ajuda a compreender o passado e nos impulsiona para os acertos do presente, sendo fundamental para as transformações do futuro. Por isso, a Juventude Comunista Internacionalista orgulha-se de resgatar as ideias e a experiência prática do trotskismo e dos trotskistas brasileiros no enfrentamento ao perigo real do fascismo em sua versão brasileira.
A descrença, desilusão e desespero, principalmente na juventude, é um componente crucial da polarização política em nossa sociedade. A partir desse estado de falta de perspectiva, de cortes em serviços públicos, guerras e aumento da miséria, uma parte da juventude é cooptada pelas ideias da direita e extrema-direita radical, mas há outra parte que chega às conclusões comunistas e marxistas e busca uma saída frente aos elementos de barbárie cada vez mais presentes em nossa sociedade.
Esse estoque de comunistas da nova geração é que precisamos encontrar em cada local de estudo, trabalho e moradia. Organizá-los e educá-los para serem os futuros quadros do movimento operário.
Por outro lado, fruto da confusão ideológica e teórica no período de decadência do capitalismo e como resultado da mesma descrença e desilusão, uma parte da juventude que se radicaliza à esquerda encontra nas ideias identitárias um meio para agir. Além de concepções equivocadas teoricamente, esses jovens são treinados nos métodos igualmente identitários, em que as opressões se sobrepõem a luta de classes – ao invés do enfrentamento às opressões caminhar lado a lado com a luta contra o capitalismo – e aos métodos proletários, levando a uma divisão do próprio movimento, sobretudo o estudantil.
Um exemplo disso, é o caso dos tribunais invisíveis na USP que retiram direitos políticos dos estudantes que forem denunciados em qualquer coletivo anti opressão do curso ou da universidade. O resultado é um tribunal invisível que sequer dá ao acusado o direito de defender-se. Esse método autoritário está incrustrado no Estatuto do Centro Acadêmico de História da USP, dirigido pela UP e autononomistas, e está sendo usado contra militantes comunistas, impedindo-os de participar das atividades de calouradas organizadas pelo CA, impedindo-os de poder candidatar-se para a direção do CA e bem como ser eleitos como delegados em assembleias do curso.
O CA foi totalmente instrumentalizado por pautas identitárias e por um tribunal invisível totalmente autoritário. Denunciamos essa política e exigimos que uma revisão completa do Estatuto do CAHIS da USP para que o CA seja de fato um instrumento democrático da luta coletiva dos estudantes por demandas justas.
Defendemos que os CAs, DCEs, bem como a UNE, UBES e ANPG etc. sejam verdadeiros sindicatos de estudantes, isto é, livre, de base, democrático e socialista, um verdadeiro instrumento da luta coletiva e das demandas justas dos estudantes.
Por outro lado, as organizações da esquerda tradicional, frente a essa nova situação política de desagregação do mercado mundial e da pressão burguesa contra a classe trabalhadora, devem avançar ainda mais em sua degeneração, passando de posições centristas a abertamente traidoras na defesa das instituições podres do capitalismo em crise.
É partindo do conjunto dessa análise na nova situação política que a Juventude Comunista Internacionalista aponta as principais tarefas dos próximos meses:
- Ampliar nossa propaganda e agitação contra o imperialismo, o militarismo e suas guerras;
- Elaborar, propagandear e discutir demandas específicas da juventude tal como saúde mental, violência contra a mulher, escala 6×1 e justiça para jovens negros vítimas da Polícia Militar;
- Elaboração de um programa comunista para a eleição de delegados no 60º Congresso da UNE, cuja primeira etapa será nossa plenária interna dia 13/04 para apresentação das teses e participação no 71º CONEG da UNE que será realizado em São Paulo nos dias 17 e 18 de abril
- Realizar a Escola Nacional de Formação da JCI nos dias 06 e 07 de setembro, cujo objetivo é discutir temas que auxiliam na compreensão da dominação imperialista no Brasil – como a dívida interna e externa – e dos problemas candentes do movimento estudantil – como o identitarismo. Além de discussões permanentes sobre os crimes do stalinismo, associada a outras iniciativas da OCI.
Cada uma de nossas tarefas na nova situação política precisa estar sempre orientada para como podemos educar os atuais militantes, recrutar novos e apresentar as ideias comunistas para o máximo possível de jovens em cada local.
A crise da humanidade continua sendo a crise da direção do proletariado. Cada jovem que busca uma saída para as contradições que estamos vivendo precisa dar o próximo passo necessário: organizar-se enquanto comunista. Não basta apenas procurar qualquer partido que se reivindica comunista para chamar de seu. É preciso um exame minucioso das ideias, do programa político, da teoria, das perspectivas e das táticas de atuação.
O exame e o balanço dessas ideias e de suas consequências práticas na história e na atualidade faz parte da atitude comunista e científica sobre qualquer programa. A prática é o critério da verdade, já disse Lenin.
E neste sentido, a história tem dado razão a fração bolchevique-leninista do movimento comunista, isto é, ao Programa de Transição, elaborado por Trotsky, como um fio de continuidade que liga o presente ao passado, que liga as novas gerações de comunistas aos gigantes e pais do socialismo científico. Sim, nossa geração tem o orgulho de dizer que vê o mundo em cima dos ombros de gigantes: de Marx, Engels, Lenin e Trotsky. Você é comunista? Então, organize-se! Junte-se hoje mesmo à Juventude Comunista Internacionalista, fração jovem da Organização Comunista Internacionalista, seção brasileira da Internacional Comunista Revolucionária!