Do 71º Coneg rumo ao 60º Congresso da UNE: a intervenção da Juventude Comunista Internacionalista

O 71º Conselho de Entidades Gerais da UNE, o Coneg, aconteceu em São Paulo entre os dias 17 e 18 de abril. Mesmo que tenha sido um dos maiores eventos do movimento estudantil, reunindo mais de 750 entidades gerais credenciadas, o evento demonstrou que se aprofunda a crise do movimento estudantil tradicional, tanto política quanto organizativamente.

Sem diferenças programáticas não há oposição real

A UNE foi fundada em 1937, fechada durante a Ditadura Militar em 1964 e refundada em 1979. Participou de lutas importantes pelo fim da ditadura, por Diretas Já e pelo Fora Collor.

No entanto, desde que o PT assumiu seu primeiro governo em 2003, a entidade passou a ser utilizada como correia de transmissão da política de colaboração com a burguesia, que, na educação, significou uma ampliação da iniciativa privada no ensino superior.

A UNE é um tipo de sindicato, um sindicato de estudantes, e, como tal, seu programa é o programa das organizações políticas que a dirigem, que são as juventudes do PT, PCdoB, Consulta Popular e PDT. Há anos, a UNE continua, através da política dessa direção majoritária, aplicando uma política de colaboração de classes no movimento estudantil, impulsionando campanhas que conciliam com o capital – tal como a regulamentação do ensino superior privado, regulamentação do EaD, defesa do PROUNI, FIES e cotas.

Em 2007, surgiu a Oposição de Esquerda da UNE, cujo objetivo era apresentar um programa político que pudesse superar o programa da direção majoritária. As principais organizações que a compõem são a da Juventude Comunista (UJC) do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR); o Movimento Correnteza da Unidade Popular (UP) – dirigidos pelo Partido Comunista Revolucionário (PCR) e pela União da Juventude Rebelião (UJR) e diversas correntes do PSOL, dentre elas: Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST); Faísca – Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT); Juntos – Movimento Esquerda Socialista (MES).

No entanto, os principais eixos programáticos que poderiam promover qualquer alternativa à direção majoritária da UNE, isto é, um programa de ruptura com o capital, não foram incorporados ao programa da Oposição de Esquerda que, pelo contrário, continuou a assumir mais elementos de colaboração de classe em seu programa e, assim, não se diferenciam da política da majoritária. Abaixo, registramos as impressões de camaradas da Juventude Comunista Internacionalista que participaram pela primeira vez do Coneg da UNE:

“Na minha opinião, analisando as diversas falas e atitudes do movimento estudantil, eu consegui aprender bastante coisa no Coneg, apesar de ter sido cansativo e tomado bastante tempo. Dentre os principais pontos, temos: não há muita diferença entre a direção majoritária e a oposição (suas pautas são praticamente as mesmas, não é fácil ver as diferenças), dentre essas pautas feitas por essas direções quase todas falam sobre a extrema-direita, escala 6×1 e como as cotas são importantes (basicamente são reformistas dogmáticos, nunca falam sobre a situação mais geral e histórica, qual o nosso papel como classe trabalhadora e estudantes para superar o capitalismo em decadência, querem apenas administrar burocraticamente “representando” os estudantes).” – Relato do camarada Cauã Rodrigues Florentin, estudante da USP e observador do Coneg pela primeira vez

“Nos dois dias em que estivemos no Coneg da UNE, deu pra ver de forma muito concreta a situação política da entidade e os desafios que a gente tem pela frente na luta estudantil. No primeiro dia, começamos com uma plenária inicial, onde ficaram claras as limitações tanto da direção majoritária quanto da oposição. As falas giraram muito em torno de defender reformas dentro do sistema: taxação de grandes fortunas, luta contra a escala 6×1, reforma universitária, frente ampla contra o fascismo, mas sem romper com o capitalismo.” – Relato da camarada Maria Eduarda, estudante da Univille e delegada ao Coneg da UNE pelo DCE da Univille

“Quanto à plenária final, saí decepcionado, pois as falas pouco divergiram no todo, se nos basearmos apenas na retórica dos discursos, não dava para saber quem era da direção majoritária e quem era da Oposição de Esquerda, o sentimento era de que ambos estavam na defensiva. Sobre as falas apresentarem pouca ou nenhuma divergência, é porque todas estavam calcadas na defesa irrestrita das cotas para negros e das políticas identitárias, deixando em mim a sensação de “mais do mesmo”, de que ninguém estava disposto a elaborar um programa político de ruptura com o capitalismo e de defesa real da juventude negra.”  – Relato do camarada Daniel Archanjo, estudante da Universidade Presbiteriana Mackenzie e observador do Conge pela primeira vez

Métodos burocráticos e fraudulentos para manter uma direção descolada das bases

A direção majoritária da UNE não se mantém pela força de seu programa, que não é capaz de mobilizar e animar os estudantes, mas por um conjunto de métodos burocráticos e fraudulentos para manter-se no aparato da UNE que movimenta montanhas de recursos financeiros através do monopólio da carteirinha estudantil.

Entre esses métodos estão a desorganização deliberada, atrasos e “chás de cadeira” para credenciar delegados, como foi o nosso caso no credenciamento do representante do DCE da Univille, de Santa Catarina, no 71º Coneg. No regimento, o início do credenciamento estava marcado para as 9h  da manhã do dia 14/04, contudo, o credenciamento começou apenas às 20h e terminou depois das 13h do dia 15/04.

Prazos curtíssimos para inscrição de chapas, sem ampla divulgação nas universidades, e-mails não existentes para abrir recursos contra Comissões de 10 (C10) que não cumpriram com as regras regimentais, como no caso da SOCIESC de Joinville Santa Catarina em que a C10, dirigida pela UJS, não cumpriu o prazo de dois dias úteis para inscrição de chapa, previsto em regimento do Conune. Quando enviamos um e-mail a UNE para solicitar informações sobre como proceder para abrir recurso, o e-mail informado no próprio site da UNE, não existe…

É ainda pior. Há relatos de eleições forjadas com listas falsas de estudantes votantes, propostas abertas de distribuição de delegados sem eleição, orientação de votos em urnas inexistentes, coação de estudantes para votar nesta ou naquela chapa, roubo de urnas e agressões físicas durante as votações.

Sem um programa que se diferencie do programa da direção majoritária – regulamentação do ensino privado, regulamentação do EaD, cotas etc. – as forças da Oposição de Esquerda, sobretudo, Correnteza/UP, que é a maior força entre elas, têm se dobrado aos mesmos métodos, cujo objetivo é ampliar a quantidade de diretores na UNE e se encrustar nos aparatos estudantis, que, por sua vez, também movimentam milhares de reais através da sublocação a empresas privadas dos espaços públicos das universidades, como xerox, cantinas e outras lojas que pagam aluguel aos Centros Acadêmicos e DCEs.

Nas últimas semanas, estabeleceu-se uma troca de acusações de corrupção e fraude nos movimentos estudantis das universidades USP, UFMG e PUC-SP, entre PCBR/UJC e UP/Correnteza, MES/Juntos! (PSOL) e Resistência/Afronte (PSOL). A crise é tamanha que já resultou na implosão do DCE da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dirigido em conjunto pelo Movimento Esquerda Socialista (MES), UP e Resistência.

Esse conjunto de práticas fraudulentas e burocráticas afasta a base estudantil que desconhece as entidades e suas direções. O mundinho das burocracias estudantis está completamente alheio à massa estudantil e seus problemas. Os estudantes se sentem apáticos de participar do movimento estudantil porque não sentem que isso pode ajudá-los em alguma coisa e quando se aproximam encontram essa vergonha.

A roda da história é mais forte que os aparatos

Apesar dessa política de colaboração de classes ou de adaptação a pautas identitárias, cujos desdobramentos são a adoção de métodos fraudulentos e burocráticos, bem como a perda do princípio de independência política e financeira nas entidades estudantis, o movimento estudantil encontra-se em uma crise em que as principais lutas da juventude não passam por dentro das entidades tradicionais, como foi a luta pela revogação do Novo Ensino Médio e a atual luta pelo fim da escala 6×1.

Nós, da Juventude Comunista Internacionalista, temos apresentado em nossas teses a necessidade de retomar os princípios da refundação da UNE de 1979:

1. A UNE é a entidade máxima dos estudantes brasileiros na defesa dos seus direitos e interesses.

2. A UNE é uma entidade livre e independente, subordinada unicamente ao conjunto dos estudantes.

3. A UNE deve pugnar em defesa dos direitos e interesses dos estudantes, sem qualquer distinção de raça, cor, nacionalidade, convicção política, religiosa ou social.

4. A UNE deve manter relações de solidariedade com todos os estudantes e entidades estudantis do mundo.

5. A UNE deve incentivar e preservar a cultura nacional e popular.

6. A UNE deve lutar por um ensino voltado para o interesse da maioria da população brasileira, pelo ensino público e gratuito, estendido a todos.

7. A UNE deve lutar contra toda forma de opressão e exploração, prestando irrestrita solidariedade à luta dos trabalhadores de todo o mundo;

Sob a base desses princípios e ao redor deles organizamos nossa participação no 71º Coneg da UNE, intervindo nos grupos de trabalho e nas plenárias durante o evento. Hoje, somos uma força muito pequena no movimento estudantil, mas defendemos um programa correto, baseado nos princípios de independência de classe e na defesa intransigente de ruptura com o capitalismo e com o imperialismo. São essas ideias que têm a força para uma mudança de cima a baixo nas entidades estudantis. Por isso, mesmo com apenas uma delegada presente no Coneg e com uma reduzida delegação de observadores, se comparadas às outras forças, nossas intervenções mostram o exemplo a seguir e que caminho precisamos abrir para uma mudança profunda nas entidades estudantis.

Nossa intervenção nos Grupos de Trabalho do Coneg

Fala da camarada Maria Eduarda, Tesoureira do @univillepublica_dce, que deu a letra no debate do Grupo de Trabalho do 71° Coneg sobre investimentos nas universidades federais. A camarada defendeu a necessidade da UNE se reafirmar numa posição anti-imperialista, o resgate dos princípios de refundação da UNE de 1979, a defesa da bandeira de educação pública, gratuita e para todos, de todo o dinheiro necessário para a educação, do fim do pagamento da dívida interna e externa! Fora imperialismo!

Fala do camarada Rubens Araújo, estudante da Assunção, que deu a letra no debate do Grupo de Trabalho do 71° Coneg sobre universidades privadas. O camarada colocou a luta recente que estão encabeçando nessa universidade, que está aplicando aulas remotas em cursos presenciais, além disso colocou uma questão: regulamentar o EAD não é dar uma carta branca para a continuidade da expansão do ensino privado, quando deveríamos lutar pela educação pública, gratuita e para todos?

Fala do camarada Pedro no GT que debateu “O combate à extrema direita no mundo e a integração latino-americana para o desenvolvimento do sul global” no primeiro dia do 71° Coneg da UNE. Apresentando nossa posição contra o Imperialismo e as guerras capitalistas e pela ruptura total das relações diplomáticas e comerciais entre Brasil e Israel! Apresentando também a edição mais recente do nosso jornal ‘O Comunismo’.

Fala da nossa camarada Letícia no 71° Coneg, após o GT das universidades estaduais apresentando nossa posição em relação a falta de investimento na educação. Pelo fim do pagamento da dívida interna e externa!
Educação pública, gratuita e para todos!

Plenária de Negros e Negras da UNE

Fala do camarada Marcos Andrade, estudante da USP, na plenária de Negros e Negras da UNE apresentando nossa posição sobre a luta por acesso da juventude negra e pobre nas universidades.

Defesa das nossas teses no Coneg e moções

Fala da camarada Letícia Rodrigues, estudante da USP, na plenária final do 71° Coneg da UNE defendendo nossa tese de educação! Por uma educação pública, gratuita e para todos!

Fala do camarada Marcos Andrade, estudante da USP, na plenária final do 71° Coneg da UNE defendendo nossa tese de movimento estudantil! Por uma UNE livre, independente, de base e socialista!

Fala da nossa camarada Maria Eduarda, que participou do 71° Coneg representando nosso DCE da Univille (@univillepublica_dce ) e explicando porque a moção apresentada pela UJS em crítica ao governador Jorginho Mello é incompleta.

Nosso combate no 60º Conune

A Juventude Comunista Internacionalista está combatendo por suas ideias neste 60º Conune. Essas ideias são a expressão política, na juventude, da análise da atual crise do capitalismo, da nova situação política aprofundada pelas medidas do Governo Trump e seu impacto na luta de classes mundial – a pressão que essa nova situação exerce sobre as organizações que se reivindicam da classe trabalhadora e de sua juventude.

Neste quadro, compreendemos que nossas ideias são aquelas mais capazes de dar coesão a luta da juventude, no contexto do Brasil, na linha de ruptura com o capitalismo, com o imperialismo, suas crises e guerras e abrir uma perspectiva positiva para os problemas que enfrentamos.

Nesse combate, buscamos transformar essas ideias em força material, convencendo e recrutando aqueles com quem conseguimos dialogar para construir mais que chapas e delegados para o Congresso da UNE, mas uma organização política, que seja embrião do partido revolucionário que nossa classe necessita no Brasil e no mundo.

Estamos participando como chapa no processo eleitoral da Univille – Universidade da Região de Joinville, como chapa 2:

Com esse objetivo em mente, estamos realizando panfletagens, blitz de conversas com estudantes no pré-aula e nos intervalos, passagens em sala, rodas de apresentação do nosso programa, credenciamento de comissões eleitorais, bem como buscando superar as burocracias impostas para participar do pleito eleitoral para defender esse programa, expresso em nossas teses. Leia, nos apoie e sobretudo, organize-se! Temos um mundo a ganhar!


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